• Redação Galileu
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Escavações no sítio paleontológico redescoberto em Dom Pedrito (RS)  (Foto: Ferraz et al.)

Escavações no sítio paleontológico redescoberto em Dom Pedrito (RS) (Foto: Ferraz et al.)

Um sítio fossilífero perdido há cerca de sete décadas foi redescoberto por paleontólogos em Dom Pedrito, município do Rio Grande do Sul que faz fronteira com o Uruguai. O local com mais de 100 fósseis de plantas está detalhado em artigo publicado em 15 de maio na revista Paleontologia em Destaque.





Realizada por profissionais de três universidades gaúchas, a descoberta ocorreu em 2019, quando a equipe localizou o sítio paleontológico. Os esforços contaram com a participação de pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFGRS), da Universidade do Vale do Taquari (Univates) e da Universidade Federal do Pampa (Unipampa).

De acordo com Joseline Manfroi, paleobotânica do grupo, o sítio relocalizado é um verdadeiro tesouro para a paleontologia mundial, em especial para estudos da evolução florística de plantas do Permiano. “Durante décadas a localização geográfica desse afloramento foi uma incógnita. Foi buscado como uma verdadeira ‘caça ao tesouro’ e, felizmente, depois de tanto tempo, teremos a oportunidade de continuar escrevendo essa história, por meio do registro fóssil”, afirma Manfroi em comunicado à imprensa.

Escavações no sítio em Dom Pedrito revelaram mais de 100 fósseis  (Foto: Ferraz et al.)

Escavações no sítio em Dom Pedrito revelaram mais de 100 fósseis de plantas (Foto: Ferraz et al.)

Na localidade, conhecida como “Cerro Chato”, havia condições ambientais ideais para a preservação de organismos em camadas finas de rocha há cerca de 260 milhões de anos, antes mesmo dos primeiros dinossauros. O lugar foi descrito primeiro em 1951, quando pesquisadores coletaram fósseis, especialmente de plantas. Os recursos da época, contudo, não permitiram registrar geograficamente o sítio, cuja localização se manteve desconhecida desde então.

O “Cerro Chato” está sendo investigado por Joseane Salau Ferraz, mestranda na Universidade Federal do Pampa, junto a outros pesquisadores. A equipe foi financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (Fapergs) para continuar a escavar a área por cerca de três anos. “Eu estimo que não exploramos nem 30% de todo o espaço disponível”, avalia a pesquisadora.

Material coletado no sítio paleontológico redescoberto em Dom Pedrito (RS) (Foto: Ferraz et al.)

Material coletado no sítio paleontológico redescoberto em Dom Pedrito (RS) (Foto: Ferraz et al.)





Os especialistas já coletaram na área fósseis de plantas de grupos dos antepassados das atuais coníferas e samambaias e também fósseis de animais, como peixes e moluscos. “Nós fomos lá, no ano passado, com uma retroescavadeira. Parece até assustador pensar nisso, já que os fósseis são muito delicados. De alguma forma tínhamos certeza de que ia dar certo, e funcionou”, recorda Ferraz.

A mestranda comenta que nas expedições anteriores foi explorada apenas a superfície do afloramento, feita de um calcário bem grosso. “Naquela ocasião, os materiais foram encontrados porque a superfície já estava relativamente erodida”, ela explica. “Os pesquisadores, no entanto, não conseguiram explorar o que estava mais no fundo. Se hoje é difícil trabalhar em um local assim, mesmo com tecnologia, imagine os desafios que isso representava em 1951”.

Paleontólogos de três universidades do Rio Grande do Sul reencontraram um sítio fossilífero perdido por mais de 70 anos no RS (Foto: Ferraz et al.)

Paleontólogos de três universidades do Rio Grande do Sul reencontraram um sítio fossilífero perdido por mais de 70 anos no RS (Foto: Ferraz et al.)

As novas escavações, agora mais tecnológicas, tiveram apoio da prefeitura local e dos proprietários da fazenda onde o sítio fossilífero se encontra. Para Celestino Goulart, o dono da terra, “o desenvolvimento das pesquisas é de grande importância, pois ajuda a entender as mudanças ocorridas no planeta e traz um significativo incentivo ao turismo na região da Campanha Gaúcha”.

Ferraz destaca a importância mundial dos fósseis, que ela conta serem testemunhos diretos das mudanças ambientais do Permiano. O final do período é marcado pela mais severa extinção em massa já conhecida, quando mais de 90% da vida na Terra foi dizimada devido a perturbações climáticas.“Esses estudos nos ajudarão a resgatar informações sobre a distribuição dessas plantas ao redor do mundo, além de colher evidências sobre como era o clima da época”, ela diz.