04/04/2014 05h15 - Atualizado em 04/04/2014 09h52

Após renúncia de Cabral, Pezão assume Governo do RJ nesta sexta

Cabral deixa cargo para se candidatar ao Senado, após 2 mandatos.
Até então vice, Pezão vai governar por seis meses antes de eleições.

Do G1 Rio

O vice-governador Luiz Fernando Pezão assume a nova Coordenadoria Executiva de Projetos e Obras de Infraestrutura (Foto: Marino Azevedo/Governo do RJ)Pezão assume a vaga de Cabral
(Foto: Marino Azevedo/Governo do RJ)

O vice-governador Luiz Fernando Pezão assume o Governo do Rio de Janeiro a partir desta sexta-feira (4). O ocupante anterior do cargo, Sérgio Cabral, entregou sua carta de renúncia à Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) nesta quinta-feira (3), para se candidatar ao Senado Federal. Pezão,por sua vez, vai disputar a eleição para governador, em outubro. A cerimônia de posse será no Palácio Guanabara, às 10h30 desta sexta.

Dono de sapatos tamanho 47,5, Pezão alavancou sua carreira política em Piraí, no Sul Fluminense, onde foi prefeito por dois mandatos. Em 2006, quando Cabral foi eleito, acumulou os cargos de vice-governador e de secretário estadual de Obras. Na função, esteve envolvido diretamente com o planejamento das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) em favelas cariocas e com a tarefa de organizar o auxílio à Região Serrana após as chuvas de 2011. Em setembro do mesmo ano, deixou o cargo de secretário de Obras para maior dedicação ao vice-governo.
 

A renúncia de Cabral foi escrita em uma carta, lida pelo presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), Paulo Melo (PMDB), pouco depois das 16h30 desta quinta. Cabral cumpriu dois mandatos, eleito em 2006 e reeleito em 2010, no primeiro turno. Teve bons resultados, principalmente na área de segurança, com a criação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). Desde 2013, no entanto, após as manifestações iniciadas em junho, o governador viu sua popularidade cair.

Carta enviada por Cabral ao presidente da Alerj, deputado Paulo Melo (Foto: Lívia Torres/ G1)Carta enviada por Cabral ao presidente da Alerj,
deputado Paulo Melo (Foto: Lívia Torres/ G1)

Veja a carta na íntegra abaixo

Excelentíssimo Senhor Presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro

Com fundamento no art. 99, VI, da constituição do Estado do Rio de Janeiro, e tendo em vista o disposto no parágrafo 6º, do art. 14, da Constituição Federal, venho manifestar a minha Renúncia ao cargo de Governador do Estado do Rio de Janeiro, para o qual fui reeleito e no qual  tomei posse no dia 01 de janeiro de 2011.

Nesta quarta-feira (2), às vésperas da renúncia, o próprio Cabral resumiu seu trabalho e disse que entrega um estado diferente de quando começou a governar. “Nós temos a melhor Polícia Militar e a melhor Polícia Civil e isso não é ufanismo, nem demagogia. Valeu a pena investir no sistema de segurança pública. A gente fez isso como prioridade, sabendo a importância para o estado. Nós não ganharíamos as Olimpíadas, não chegaríamos aonde chegamos."

O governador celebrou os números das votações que o elegeram. "Não tenho do que me queixar com a população do Rio de Janeiro. Fui o governador mais votado da história em 2006 e em 2010. Graças a Deus, temos democracia e rodízio de poder. Minha gratidão é eterna.”

Gráfico de Aprovação de Cabral  (Foto: Arte G1)

Queda de 35 pontos percentuais
Em outubro de 2006, Cabral teve 5,1 milhões de votos, 68% do total, e venceu a disputa contra a candidata Denise Frossard (PPS) no segundo turno. Em 2010, recebeu 5,2 milhões votos (66,08%), desbancando o candidato Fernando Gabeira (PV) já no primeiro turno. Menos de três anos após a reeleição, no entanto, uma pesquisa do Datafolha apontou que, no auge de sua popularidade, em novembro de 2010, Cabral tinha 55% de aprovação. Em novembro de 2013, a aprovação passou para 20%, 35 pontos percentuais a menos. 

As manifestações que tomaram as ruas do Rio a partir da Copa das Confederações, em junho de 2013, expuseram a baixa de popularidade do governador e fizeram de Cabral um dos principais alvos das críticas. A residência do governador no Leblon, bairro nobre da Zona Sul, virou um acampamento de ativistas, o "Ocupa Cabral".

Cerca de 20 pessoas continuam acampados na rua do governador Sérgio Cabral (Foto: Alessandro Buzas/Futura Press/Estadão Conteúdo)Manifestantes do movimento 'Ocupa Cabral' ficaram acampado na rua do governador em protesto (Foto: Alessandro Buzas/Futura Press/Estadão Conteúdo)

Aos gritos de “Ditador” e "Fora, Cabral", vários protestos terminaram em confronto com a Polícia Militar e quebra-quebra. Em entrevista, o governador pediu a saída dos manifestantes. "Não falo como governador, mas como pai. Tenho filhos pequenos", disse, na época.

A pauta de reivindicações dos protestos era extensa e a maior parte ligada à Cabral. Dentre as polêmicas estava o uso de helicópteros oficiais para fins particulares, investigado e arquivado pelo Ministério Público. De acordo com uma reportagem da Veja, de julho de 2013, o governador e a família usavam a aeronave para ir, em fins de semana, a Mangaratiba, na Região Metropolitana do Rio, onde têm casa de praia. As viagens custariam, por ano, R$ 3,8 milhões aos cofres públicos. Na época, o governador negou irregularidades (veja a reportagem no vídeo).

Relações com empreiteiro
A proximidade com o empresário Fernando Cavendish, dono da empreiteira Delta Construções, investigada pela Polícia Federal, também gerou polêmica. Em abril de 2012, foram divulgadas no blog do deputado federal Anthony Garotinho (PR) fotos em que Cabral e Cavendish aparecem simulando passos de dança na calçada, à frente de um hotel em Paris. Em outra imagem, o empresário aparece ao lado de dois secretários estaduais com guardanapos na cabeça. As imagens, segundo a assessoria do governo, foram feitas em  missão oficial à França, em 2009.

Em junho de 2011, a queda de um helicóptero que transportava convidados para a festa de aniversário de Cavendish em Trancoso, Bahia, provocou a morte de sete pessoas, incluindo a namorada do filho de Cabral. O governador havia embarcado em um voo anterior.

Imagens divulgadas mostram viagem a Paris e relação com Cavendish (Foto: Reprodução / TV Globo)Fotos mostram viagem a Paris e relação com Cavendish (Foto: Reprodução / TV Globo)

As demolições do complexo do Maracanã também foram alvo das manifestações. Segundo o edital de concessão, o Parque Aquático Julio de Lamare, o Estádio de Atletismo do Célio de Barros, a Escola Municipal Friedenreich e o antigo Museu do Índio deveriam ser demolidos. Após Cabral pedir desculpas no Twitter e dizer que “ouviu os protestos”, as demolições foram canceladas e o contrato, revisto.

Diminuição da violência
Entre os indicadores positivos do governo de Cabral se destaca o combate à violência. Com José Mariano Beltrame à frente da Secretaria de Segurança, o projeto de pacificação chegou a 39 favelas, incluindo a Maré, ocupada no domingo (30).

Dados do Instituto de Segurança Pública (ISP) mostraram que, em 2012, o índice de homicídios dolosos (quando há intenção de matar) foi o menor em 21 anos. O indicador "letalidade violenta", que inclui, além de homicídio doloso, os crimes de latrocínio, auto de resistência e lesão corporal seguida de morte, registrou seu menor índice desde 2000.

(No vídeo acima, veja Cabral dançando funk inspirado em música de James Brown, em 2009, durante evento de liberaração de recursos para projetos culturais em Vigário Geral.)

Cerimônia de inauguração da Cidade da Polícia foi neste domingo (29) (Foto: Lívia Torres/G1)Cerimônia de inauguração da Cidade da Polícia
em setembro de 2013 (Foto: Lívia Torres/G1)

Promessascumpridas
A construção do Centro Integrado de Comando e Controle (CICC) foi uma promessa realizada pela gestão de Sérgio Cabral em maio de 2013. O moderno centro, localizado na Cidade Nova, reúne órgãos das polícias Militar e Civil, do Corpo de Bombeiros, da Guarda Municipal, da Defesa Civil, da Polícia Rodoviária Federal, do Sistema de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e da CET-Rio. Outra conquista foi a criação da Cidade da Polícia, em setembro de 2013. O espaço abriga 13 delegacias especializadas, a Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), cinco órgãos da Chefia de Polícia, além de uma prefeitura para cuidar da área administrativa.

Presidente Dilma faz selfie com operários durante visita ao canteiro de obras do Metrô  (Foto: Carlos Magno/Governo do Estado )Presidente Dilma faz selfie com operários durante
visita ao canteiro de obras do Metrô (Foto: Carlos
Magno/Governo do Estado )

Metrô
Também promessa de campanha, a Linha 4 do Metrô, que vai ligar a Barra da Tijuca a Ipanema, inicialmente prevista para ficar pronta em dezembro de 2015, pretende transportar, a partir do primeiro semestre 2016, mais de 300 mil pessoas por dia.

A retomada das obras na Linha 3, que ligará Niterói a Itaboraí, ganhou maior expectativa depois de a presidente Dilma Rousseff anunciar, em setembro de 2013, a liberação de R$ 2,5 bilhões para o projeto, resgatado no mandato de Cabral.

Professores
Em 2010, a campanha de Cabral prometia melhorar o salário dos professores da rede estadual, sem especificar números. Após diversos protestos e uma greve de agosto a outubro de 2013, o reajuste para os professores ficou em 8%, mas a categoria reivindicava 19%.

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