Se as três horas que duraram o ato pela democracia na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, da USP, tivessem que ser resumidas em dois minutos estes seriam aqueles em que Miguel Torres, da Força Sindical, subiu à tribuna. Disse que, como todo sindicalista, ele também tinha mania de assembleia e de votação. Que todos que estivessem de acordo que só a luta faz a lei se dessem as mãos e levantassem os braços sob um grito de ordem: “A sociedade unida jamais será vencida.”
Sob suas ordens, moveram-se de Horácio Lafer Piva (Klabin) a Bruna Brelaz (UNE), de Arminio Fraga (Gávea) a Canindé Pegado (UGT), de Neca Setubal (Fundação Tide Setubal) a Beatriz Nascimento (Coalizão Negra), de Josué Gomes (Fiesp) a João Pedro Stédile (MST), de Isaac Sidney (Febraban) a Carlos Gilberto Carlotti (USP).
A ideia dos organizadores era reprisar a “Carta aos Brasileiros” lida naquela faculdade pelo jurista Goffredo da Silva Telles, noutro 11 de agosto, em 1977, no que é considerado o ato inaugural da abertura. “Aquele foi um ato só de classe média. Hoje é o povo que está aqui”, resumiu o ex-ministro da Justiça, José Gregori, presente ao ato de 45 anos atrás e ao de ontem. Pelo mosaico ali representado, mais pareceu o Diretas Já, de 1984.
Com pelo menos uma diferença: a incorporação da identidade de cor, gênero e credo aos discursos políticos. A professora da faculdade Zumbi dos Palmares, Eunice Prudente, ao se descrever para os portadores de deficiência visual identificou o amarelo de sua roupa como a cor de Oxum, numa referência às religiões de matriz africana atacadas pela primeira-dama, Michelle Bolsonaro.
José Carlos Dias, velho jurista que também estava presente no ato de 1977, definiu o de ontem em uma frase — “Capital e trabalho estão juntos em defesa da democracia”. A maturidade não moderou os discursos. Se a presidente da UNE repudiou o golpismo “que flerta com o esgoto mais sombrio da nossa história”, o diretor da faculdade, Celso Campilongo, repudiou a interferência das Forças Armadas — “A única força que pode dizer alguma coisa sobre o processo eleitoral é a força do eleitor.”
Se a presidente do centro acadêmico 11 de Agosto, Manuela Moraes, repudiou “a democracia da fome e das chacinas”, o professor da FGV, Oscar Vilhena, acrescentou que todos estavam ali porque a soberania popular estava sendo atacada. O ex-ministro do Superior Tribunal Militar, Flavio Bierrenbach, representando os signatários da carta de 1977, comparou as ameaças sobre o Brasil àquelas ocorridas no Capitólio americano em 6/1/2021: “Se lá não tiveram êxito, aqui também não terão”