Diferentemente da postura travada que costuma apresentar em debates televisivos, Fernando Haddad (PT) parecia mais à vontade na noite da quinta-feira (27) no debate da TV Globo entre candidatos a governador de São Paulo.
Talvez tenha pegado o jeito depois de tantos eventos desse tipo que participou desde sua vitória para a Prefeitura de São Paulo, em 2012, e das derrotas em 2016, na tentativa de reeleição, e em 2018, quando disputou a Presidência contra Jair Bolsonaro (PL).
Com menos experiência, Tarcísio de Freitas (Republicanos) também demonstrou desenvoltura diante das câmeras e soube controlar bem o tempo de suas intervenções.
O que colocou Haddad em vantagem não foi nenhum evidente deslize do rival, mas o tamanho da responsabilidade colocada nas costas de Tarcísio.
Além de defender suas ideias para São Paulo, Tarcísio tinha a necessidade de usar a oportunidade para justificar temas que se tornaram difíceis para sua campanha, como a privatização da Sabesp e o caso do tiroteio em Paraisópolis, e ainda socorrer seu padrinho político, o presidente Jair Bolsonaro (PL). O peso foi excessivo.
Bolsonaro está atrás do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na disputa pela Presidência e precisa abrir larga vantagem em São Paulo para poder ser reeleito.
Tal como Tarcísio com Sabesp e Paraisópolis, o presidente precisa lidar com um conjunto de temas colocados em pauta que em nada ajudam em sua missão. O principal deles, ficou claro, é o estudo do Ministério da Economia que fala na possibilidade de desvinculação do salário-mínimo da inflação. E teve também negligências na condução do governo diante da covid-19, questionamentos sobre o sistema eleitoral, orçamento secreto e Roberto Jefferson.
Ao ter de defender seu líder repetidas vezes em variados temas ao longo de todo o debate, Tarcísio passou a maior parte do tempo na defensiva.
Será difícil achar alguém que, numa avaliação isenta, conclua que Haddad tenha sido brilhante na defesa de suas propostas. Mas ao conseguir manter o rival na defensiva durante quase todo o tempo, o petista venceu.