Por Daniel Silveira, g1 — Rio de Janeiro


Passageiros enfrentam ônibus lotados em horário de pico em João Pessoa, na Paraíba, em registro feito em abril de 2022 — Foto: Lara Brito/g1 PB

O volume de serviços prestados no Brasil cresceu 0,2% em abril, na comparação com março, mostram os dados divulgados nesta terça-feira (14) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Foi a segunda alta seguida, com ganho acumulado de 9,5%.

O resultado de fevereiro foi revisado pelo IBGE mais uma vez, passando de uma alta de 0,4% para uma queda de 0,1% - no mês passado, o dado já havia sido revisado de uma queda de 0,2% para alta de 0,4%.

O IBGE destacou que, com o resultado de abril, o setor de serviços passou a opertar 7,2% acima do período pré-pandemia. O grande destaque neste mês ficou com o transporte de passageiros que, pela primeira vez, recuperou o nível que tinha em fevereiro de 2020, antes do início das medidas de isolamento social.

“Depois de dois anos e dois meses, o transporte de passageiros superou pela primeira vez o patamar pré-pandemia, ratificando, assim, a maior mobilidade da população, refletida no aumento das receitas das empresas que operam os transportes de passageiros nos seus diversos modais: aéreo, rodoviário e metroferroviário”, destacou o gerente da pesquisa, Rodrigo Lobo.

Os três modais de transportes - terrestre, aéreo e aquaviário - superaram o patamar pré-pandemia, com destaque para o aquaviário, cujo patamar se encontra 20% acima do que era observado em fevereiro de 2020.

O transporte de cargas também se encontra em nível superior ao pré-pandemia - 23,1% acima de fevereiro de 2020. O IBGE destacou que essa atividade "continua operando muito próximo (-0,1% abaixo) do ponto mais alto de sua série, alcançado em março de 2022".

O crescimento do volume de serviços prestados em abril foi puxado por apenas dois dos cinco grandes sgmentos de atividades do setor, a de informação e comunicação e a de serviços prestados às famílias - segunda taxa positiva para ambas. As outras três, porém, registraram queda.

Na comparação com abril do ano passado, a alta foi de 9,4% - foi a 14ª taxa positiva nesta base de comparação.

Com isso, o indicador acumulado em 12 meses recuou de 13,6% para 12,8% na passagem de março para abril, interrompendo trajetória de crecimento iniciada em fevereiro do ano passado, evidenciando perda de fôlego no ritmo de recuperação.

Essa desaceleração da taxa, apontou Lobo, se deve base de comparação elevada, já que ao longo de 2021 o setor de serviços apresentou ganhos recordes na comparação interanual, dadas as perdas expressivas registradas ao longo de 2021.

"Perde fôlego porque o ritmo de crescimento no ano passado era mais intenso que o observado agora. Se a gente olha para os cinco segmentos do setor, todos continuam mantendo essa taxa [acumulado em 12 meses] com variação positiva, mas em menor ritmo", ponderou o gerente da pesquisa.

A perda de fôlego foi disseminada entre a maior parte das atividades investigadas pelo IBGE. Dentre os cinco seguimentos, somente o de serviços prestados às famílias manteve trajetória de alta do indicador acumulado em 12 meses - os demais registraram taxas menores que no mês anterior.

Serviços digitais seguem em alta

A maioria das atividades investigadas pelo IBGE apresentaram taxas positivas na passagem de março para abril. O maior impacto positivo partiu das atividades de informação e comunicação, segmento que atingiu o ponto mais alto da série histórica da pesquisa, iniciada em 2011.

O gerente da pesquisa destacou que este resultado se deve à mudança do perfil do setor de serviços como um todo, que passou a demandar alternativas ao atendimento presencial diante da necessidade de isolamento social imposta pela pandemia.

“Durante o auge do isolamento por conta da pandemia, houve uma alta demanda desses serviços e esse movimento perdura até os dias atuais, com as empresas continuando a demandar serviços como o de desenvolvimento de softwares, de aplicitivos de videoconferência ou de marketing digital”, enfatizou Lobo.

Veja o resultado em cada um dos segmentos em abril:

  • Serviços prestados às famílias: 1,9%
  • Serviços de alojamento e alimentação: 3,9%
  • Outros serviços prestados às famílias: -5%
  • Serviços de informação e comunicação: 0,7%
  • Serviços de tecnologia da informação e comunicação (TIC): 0,2%
  • Telecomunicações: 0,0%
  • Serviços de tecnologia da informação: 2,4%
  • Serviços audiovisuais: -3,1%
  • Serviços profissionais, administrativos e complementares: -0,6%
  • Serviços técnico-profissionais: -2,3%
  • Serviços administrativos e complementares: 1,1%
  • Transportes, serviços auxiliares aos transportes e correio: -1,7%
  • Transporte terrestre: 0,5%
  • Transporte aquaviário: 3,7%
  • Transporte aéreo: -2,4%
  • Armazenagem, serviços auxiliares aos transportes e correio: -5,9%
  • Outros serviços: -1,6%

O segundo impacto positivo, por sua vez, foi dos serviços prestados às famílias, graças à retomada da demanda por serviços de caráter presencial, sobretudo os relacionados a alojamento e alimentação.

“É um resultado que vem na esteira da continuidade do processo da retomada dos serviços de caráter presencial, notadamente, os bares e restaurantes”, explicou o pesquisador.

Dentre os outros três segmentos do setor, todos em queda na passagem de março para abril, o de transportes e o de serviços profissionais, administrativos e complementares interromperam uma sequência de cinco taxas positivas seguidas. Já o de outros serviços perdeu o ganho que havia registrado em março.

Transportes e serviços prestados às famílias

Na análise interanual, apenas um dos cinco segmentos, o de outros serviços, apresentou queda na comparação com abril do ano passado. O recuo foi de 7,7% pressionado, segundo o IBGE, especialmente, pela menor receita oriunda de corretoras de títulos e valores mobiliários; recuperação de materiais plásticos; administração de bolsas e mercados de balcão organizados; e atividades de apoio à produção florestal.

Dentre os outros quatro segmentos, o de transportes, serviços auxiliares aos transportes e correio (15,5%) e o de serviços prestados às famílias (60,8%) foram os que mais se destacaram.

Os demais avanços vieram dos serviços profissionais, administrativos e complementares (7,8%) e de informação e comunicação (1,6%).

Queda na maioria dos estados

Na análise regional, a pesquisa evidenciou que a maioria das Unidades da Federação registraram taxas negativas na passagem de março para abril.

Dentre os 12 com alta no volume de serviços prestados, o impacto positivo mais relevante foi do Rio de Janeiro, com alta de 1,0%. Para Lobo, o carnaval fora de época que aconteceu no mês de abril pode ter contribuído para o crescimento do setor no estado fluminense.

Outros destaques locais foram Espírito Santo (3,6%), Rio Grande do Norte (7,9%) e Ceará (2,4%).

No lado das quedas, exerceram as principais influências negativas São Paulo (-0,5%), Minas Gerais (-2,8%), Distrito Federal (-8,2%) e Rio Grande do Sul (-2,8%).

Já na comparação com abril do ano passado, houve crescimento da taxa em 24 das 27 UFs, com destaque para São Paulo (9,9%), Minas Gerais (14,2%), Rio Grande do Sul (16,8%) e Rio de Janeiro (4,3%).

Atividades turísticas crescem 2,5% em abril

A pesquisa mostrou, também, que o índice de atividades turísticas cresceu 2,5% em abril, acumulando crescimento de 51,3% no ano. Porém, o segmento de turismo ainda se encontra 3,4% abaixo do patamar de fevereiro de 2020.

Todos os 12 locais pesquisados pela PMS apresentaram crescimento na atividade, puxando o ranking o Rio de Janeiro (4,8%), seguido por Minas Gerais (4,6%), Bahia (6,8%) e Paraná (7,4%).

Recuperação da pandemia

Dentre as 17 principais atividades do setor de serviços, dez se encontram em patamar superior ao que era observado em fevereiro de 2020, antes do início das medidas de isolamento que provocaram tombo histórico no setor.

Dentre os sete que ainda operam abaixo do nível pré-pandemia, os prestados às famílias são os que têm o patamar mais distante.

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