Para um país que precisava avançar em ritmo muito mais acelerado numa área tão crucial, não há tragédia maior do que constatar que, em vez de andar para a frente, regredimos. Mas foi exatamente isto o que aconteceu na educação, o que dá a dimensão do enorme desafio — maior até do que habitualmente estamos acostumados na área — que espera o novo governo.
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No curto prazo, recuperar a aprendizagem perdida por causa da pandemia e trazer de volta alunos que abandonaram a escola são tarefas prioritárias. Mas para isso não existe plano mirabolante ou coelho a ser tirado da cartola do MEC. Sendo os municípios e estados responsáveis por 82% das matrículas na educação básica (outros 17% estão na rede privada e apenas 1% em escolas federais), não há outro caminho que não seja o de articular e ampliar o apoio às secretarias municipais e estaduais. Isso vai exigir muita disposição para diálogo, convencimento e competência técnica, no que o governo Bolsonaro deixou a desejar.
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O parâmetro baixo de comparação com a gestão anterior, porém, não significa que a vida do novo governo será fácil. Pelo contrário. Uma lista de outros problemas urgentes — e dos mais variados — espera a nova equipe que assumirá o MEC em 1º de janeiro. Entre eles estão a recomposição do orçamento para investimento em todas as áreas, das creches às universidades, reajuste de bolsas de pós-graduação, ampliação do banco de questões do Enem, além de decisões importantes sobre os rumos de políticas como a de alfabetização, elaborada na gestão Bolsonaro, ou a reforma do Ensino Médio, aprovada na de Temer e já em processo de implementação nos estados.
Em tempos normais, é esperado que um novo governo viva um período de lua de mel. Mas esses não são tempos normais. Centrão e bolsonaristas seguirão fortes, e a expectativa do setor educacional com a gestão Lula será proporcional às cobranças que, cedo ou tarde, virão. O PT sabe bem o que é isso, pois vivenciou em seus 13 anos no poder os dois extremos.
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Os mandatos de Lula e o primeiro de Dilma foram marcados por crescimento econômico, com um cenário externo favorável. Esta foi a principal razão — não a única — a explicar o aumento de 183% no investimento público por aluno, já descontada a inflação. No auge de bonança, foi possível agradar a todos. No ensino superior, por exemplo, houve recurso tanto para ampliar matrículas em federais quanto para o aumento desenfreado do Fies, que financia mensalidades de alunos em instituições privadas. A partir de 2015, porém, tudo mudou. E, antes mesmo que a direita se organizasse em manifestações pró-impeachment, setores do movimento estudantil e sindicatos de docentes do ensino superior realizaram protestos e greves contra cortes na educação.
As estimativas econômicas para 2023 dão pouca margem para euforia e a coalização que elegeu Lula será minoritária num Congresso ainda mais conservador. Não sabemos até onde irá a paciência dos que anseiam pela recuperação do investimento em educação. Talvez já prevendo o cenário incerto, o plano de governo entregue por Lula ao TSE se limitou a promessas vagas para o setor. De volta, o PT precisará de muito mais para administrar tantas expectativas de mudança.