Desafios de Lula: Na educação, muitos problemas em cenário incerto​

Antonio Gois analisa que recuperar a aprendizagem perdida na pandemia e trazer de volta alunos à escola são as prioridades

Por Antônio Gois


Presidente eleito do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em discurso na Avenida Paulista Wagner Vilas

Para um país que precisava avançar em ritmo muito mais acelerado numa área tão crucial, não há tragédia maior do que constatar que, em vez de andar para a frente, regredimos. Mas foi exatamente isto o que aconteceu na educação, o que dá a dimensão do enorme desafio — maior até do que habitualmente estamos acostumados na área — que espera o novo governo.

No curto prazo, recuperar a aprendizagem perdida por causa da pandemia e trazer de volta alunos que abandonaram a escola são tarefas prioritárias. Mas para isso não existe plano mirabolante ou coelho a ser tirado da cartola do MEC. Sendo os municípios e estados responsáveis por 82% das matrículas na educação básica (outros 17% estão na rede privada e apenas 1% em escolas federais), não há outro caminho que não seja o de articular e ampliar o apoio às secretarias municipais e estaduais. Isso vai exigir muita disposição para diálogo, convencimento e competência técnica, no que o governo Bolsonaro deixou a desejar.

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O parâmetro baixo de comparação com a gestão anterior, porém, não significa que a vida do novo governo será fácil. Pelo contrário. Uma lista de outros problemas urgentes — e dos mais variados — espera a nova equipe que assumirá o MEC em 1º de janeiro. Entre eles estão a recomposição do orçamento para investimento em todas as áreas, das creches às universidades, reajuste de bolsas de pós-graduação, ampliação do banco de questões do Enem, além de decisões importantes sobre os rumos de políticas como a de alfabetização, elaborada na gestão Bolsonaro, ou a reforma do Ensino Médio, aprovada na de Temer e já em processo de implementação nos estados.

Em tempos normais, é esperado que um novo governo viva um período de lua de mel. Mas esses não são tempos normais. Centrão e bolsonaristas seguirão fortes, e a expectativa do setor educacional com a gestão Lula será proporcional às cobranças que, cedo ou tarde, virão. O PT sabe bem o que é isso, pois vivenciou em seus 13 anos no poder os dois extremos.

Os mandatos de Lula e o primeiro de Dilma foram marcados por crescimento econômico, com um cenário externo favorável. Esta foi a principal razão — não a única — a explicar o aumento de 183% no investimento público por aluno, já descontada a inflação. No auge de bonança, foi possível agradar a todos. No ensino superior, por exemplo, houve recurso tanto para ampliar matrículas em federais quanto para o aumento desenfreado do Fies, que financia mensalidades de alunos em instituições privadas. A partir de 2015, porém, tudo mudou. E, antes mesmo que a direita se organizasse em manifestações pró-impeachment, setores do movimento estudantil e sindicatos de docentes do ensino superior realizaram protestos e greves contra cortes na educação.

As estimativas econômicas para 2023 dão pouca margem para euforia e a coalização que elegeu Lula será minoritária num Congresso ainda mais conservador. Não sabemos até onde irá a paciência dos que anseiam pela recuperação do investimento em educação. Talvez já prevendo o cenário incerto, o plano de governo entregue por Lula ao TSE se limitou a promessas vagas para o setor. De volta, o PT precisará de muito mais para administrar tantas expectativas de mudança.

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