Por G1 RS


O que já sabemos sobre o caso João Alberto

O que já sabemos sobre o caso João Alberto

João Alberto Freitas, de 40 anos, foi espancado e morto por dois seguranças, na noite do dia 19 de novembro, véspera do Dia da Consciência Negra, no estacionamento de uma unidade do Carrefour em Porto Alegre.

As agressões começaram após um desentendimento entre a vítima e uma funcionária do supermercado, que fica na Zona Norte da capital gaúcha.

Após o indiciamento da Polícia Civil, o Ministério Público do RS acusou seis pessoas por homicídio triplamente qualificado com dolo eventual (motivo torpe, meio cruel e recurso que dificultou a defesa da vítima). O inquérito foi concluído no dia 11 de dezembro e denúncia foi feita na sexta (17).

O policial militar Giovane Gaspar da Silva, de 24 anos, e o segurança Magno Braz Borges, de 30 anos, presos em flagrante, e funcionária do supermercado, Adriana Alves Dutra, são os autores do crime, segundo a polícia. A mulher, mesmo tendo voz de comando sobre os dois, não impediu o espancamento. Já os homens são responsáveis pelas agressões.

Para a polícia, o racismo estrutural é uma das causas para determinar a conduta das pessoas envolvidas no assassinato.

Veja, abaixo, perguntas e respostas sobre o caso:

Montagem com imagens da agressão de João Alberto — Foto: Arte/G1

Qual é a cronologia do crime?

Na noite deste domingo, o Fantástico mostrou a cronologia do crime, que aconteceu por volta das 20h40 de quinta (19), na véspera do Dia da Consciência Negra. Veja a seguir:

  • João Beto e sua esposa, Milena, chegam a uma unidade do Carrefour que fica Zona Norte de Porto Alegre.
  • O casal é visto no caixa da loja.
  • João Beto vai em direção a uma funcionária do estabelecimento e faz um gesto. A mulher é tida como testemunha pela polícia. Em depoimento no sábado (21), ela disse que João Beto não aparentava estar fazendo uma brincadeira, mas que "parecia estar furioso com alguma coisa". Foi essa funcionária quem contou à delegada que, dias antes do crime, ele havia ido ao mesmo supermercado parecendo embriagado e sem máscara.
  • Giovane, um dos seguranças, aparece. Ele, Magno, que também é segurança, e uma fiscal conduzem Beto para saída da loja.
  • Na porta de saída para garagem, João Beto dá um soco em Giovane.
  • João Beto é espancado até a morte por Magno e Giovane.
  • A mulher de João Beto contou que ele dizia "Milena, me ajuda" e que, quando ela tentou socorrê-lo, foi empurrada por um dos rapazes.
  • Uma testemunha, cliente do mercado, disse que alertou sobre sinais de asfixia, mas os agressores pediram que "não se intrometesse em seu trabalho".
  • Segundo a polícia, os seguranças ficaram sobre Beto por mais de 5 minutos.

O motoboy que gravou o espancamento disse em entrevista ao G1 que foi ameaçado pela gerente do Carrefour. Ele descreveu:

"Eu disse: 'Ô, gente, eu vou filmar'. E fui filmando. Quando eu estou chegando perto, vem essa moça de branco e diz: 'Pode parar, eu vou te queimar na loja'".

Câmeras mostram cronologia do assassinato de João Alberto em supermercado do Carrefour

Câmeras mostram cronologia do assassinato de João Alberto em supermercado do Carrefour

Qual foi a causa da morte?

De acordo com necropsia feita pelos legistas do Departamento Médico Legal, a vítima foi morta por asfixia.

"O tempo que o laudo levou foi devido sua grande complexidade. Trabalharam três legistas, patologistas, peritos. O trabalho foi de alta complexidade. Análise do local do crime, análise da vítima, do corpo, na necropsia. Exames complementares e protocolares", explica Heloisa Helena Kuser, diretora do Instituto Geral de Perícias.

Qual foi o motivo das agressões?

De acordo com testemunhas, João Beto foi agredido após um desentendimento na loja. Imagens do interior do supermercado mostram que João Beto se dirigiu a uma funcionária e, logo depois foi encaminhado, pelos dois seguranças, ao estacionamento.

A esposa de João Beto, Milena, contou à polícia que o marido fez um gesto para uma fiscal, que seria uma brincadeira. A funcionária nega que tenha sido brincadeira.

Um vídeo obtido pelo site GaúchaZH mostra as agressões sofridas por João Beto, no estacionamento do Carrefour. Um homem, que vestia roupas semelhantes à dos seguranças que espancaram João Beto, diz a frase: "Sem cena, tá? A gente te avisou da outra vez". Veja abaixo:

'Sem cena, tá? A gente te avisou da outra vez', diz segurança para João Alberto

'Sem cena, tá? A gente te avisou da outra vez', diz segurança para João Alberto

Em depoimento, a funcionária abordada por João Beto contou que, dias antes das agressões, ele entrou embriagado e sem máscara no Carrefour. A polícia investiga se existia um desentendimento prévio envolvendo a vítima e funcionários do supermercado.

Testemunha diz que alertou seguranças sobre sinais de asfixia em João Alberto

Testemunha diz que alertou seguranças sobre sinais de asfixia em João Alberto

Alguém foi preso?

Dois homens brancos, que atuavam como seguranças do local, foram presos em flagrante pelo crime. O ex-policial militar temporário Giovane Gaspar da Silva, de 24 anos, e o segurança Magno Braz Borges, de 30.

De acordo com a Polícia Federal (PF), Giovane não tinha o registro nacional para atuar como segurança. Magno tinha o documento registrado, mas foi suspenso.

Ambos eram funcionários de uma empresa terceirizada, a Vector Segurança. Em nota, a empresa disse que "se sensibiliza com os familiares da vítima e não tolera nenhum tipo de violência" e "iniciou os procedimentos para apuração interna".

Segundo a PF, a empresa de segurança responsável pelo supermercado tem cadastro regular e foi fiscalizada em agosto deste ano.

A funcionária do Carrefour Adriana Alves Dutra foi presa preventivamente cinco dias após a morte. A polícia acredita que Adriana teve participação decisiva nas agressões sofridas por João Beto, porque ela teria poder de comando sobre os dois seguranças, mas não impediu.

O que dizem os agressores?

O advogado de Magno, William Vacari Freitas, disse que o cliente só vai se posicionar sobre o caso durante o processo.

Em depoimento à Polícia Civil, Giovane disse que não percebeu que João Alberto Silveira Freitas estava morto.

“Eu tentei sentir a pulsação dele. Eu estava com a adrenalina muito alta. O fiscal também, este que estava com ele. Veio outro rapaz da Vector, fez ali, e disse que ele estava bem. (…) Depois chegou outro senhor e falou: ‘Cara, acho que ele tá morto’. Sinceramente, achei que ele, naquele momento, estivesse encenando”, disse Giovane em depoimento.

Quem era João Alberto Freitas?

João Alberto Silveira Freitas, de 40 anos, foi espancado e morto por dois homens brancos em Porto Alegre. — Foto: Reprodução/Redes sociais

João Beto, como era conhecido pelos amigos, vivia numa comunidade na Vila Farrapos, na Zona Norte de Porto Alegre, a cerca de 600 metros do supermercado em que foi morto.

"Um cara de boa", define o amigo Paulão Paquetá, presidente da Associação de Moradores do Bairro Obirici. Os dois moravam a cerca de 200 metros de distância um do outro e se conheciam havia mais de dez anos.

"Um cara legal, estava sempre junto de nós. Gostava de sinuca e futebol. Torcia para o São José. Todo fim de semana fazia churrasco pro pessoal do bairro", disse Paquetá.

Segundo a polícia, João Beto tinha antecedentes criminais por violência doméstica, ameaça e porte ilegal de arma.

De acordo com o amigo, João Alberto trabalhava como soldador na empresa do pai. Dos dois primeiros casamentos, João Beto tinha quatro filhos. Com a esposa, tinha uma enteada. "Ele era da torcida do São José. Sempre que tinha jogo, ele estava no jogo logo cedo", diz.

O que diz o Carrefour?

O Carrefour afirmou que vai reforçar o treinamento de funcionários e terceirizados que fazem a segurança da loja.

Em nota, informou que lamenta profundamente o caso, que iniciou rigorosa apuração interna e tomou providências para que os responsáveis sejam punidos legalmente.

A empresa comunicou ainda que todo o resultado de vendas de lojas no Brasil, na sexta-feira (20), será revertido para projetos de combate ao racismo no país.

VÍDEOS: Caso João Beto

Veja também

Mais lidas

Mais do G1
Deseja receber as notícias mais importantes em tempo real? Ative as notificações do G1!