Economia
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Por Gabriel Shinohara — Brasília

A ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) divulgada nesta terça-feira mostrou que o Banco Central (BC) avalia que os juros precisarão se manter mais altos por um período mais longo para que a inflação fique "ao redor" da meta em 2023.

Em todas as reuniões do Copom, os diretores e o presidente do BC avaliam o cenário econômico e constroem cenários de referência. Na deliberação da última semana, esse cenário tinha juros em 13,25% ao final de 2022, 10% em 2023 e 7,5% em 2024.

Assim, a inflação ficaria em 8,8% este ano, 4% em 2023 e 2,7% em 2024.

No entanto, a ata da reunião que decidiu por um aumento de 12,75% para 13,25% na taxa básica de juros na semana passada, aponta que os juros deverão ser um pouco mais altos e deverão ficar em um patamar elevado por mais tempo para que a inflação de 4% em 2023 seja atingida.

“A estratégia requerida para trazer a inflação projetada em 4,0% para o redor da meta no horizonte relevante conjuga, de um lado, taxa de juros terminal acima da utilizada no cenário de referência e, de outro, manutenção da taxa de juros em território significativamente contracionista por um período mais prolongado que o utilizado no cenário de referência"

E concluiu:

"Dessa forma, a estratégia de convergência para o redor da meta exige uma taxa de juros mais contracionista do que o utilizado no cenário de referência por todo o horizonte relevante”, aponta a ata.

O "horizonte relevante" citado pelo BC é o ano de 2023. Para o próximo ano, a inflação em 4% já ficaria acima do centro de meta, em 3,25%, mas dentro do intervalo de tolerância de 1,75% e 4,75%.

Na avaliação de Simone Pasianotto, economista-chefe da Reag Investimentos, o tom da ata foi mais duro contra a inflação. Com isso, ela espera que a Selic fique no patamar de 13,75% até o fim do primeiro semestre de 2023 e termine o próximo ano em 10,5%. A projeção anterior era de 9,75%.

— Eu digo que foi mais dura porque mostra a necessidade de manter a taxa de juros num patamar mais contracionista do que o cenário de referência — disse.

Defasagem nos efeitos

Na ata, o Copom ainda cita que a maior parte do efeito da alta nos juros ainda não impactou a economia. Esse movimento demora alguns meses para fazer algum efeito na economia real, um fenômeno conhecido como “defasagem da política monetária”.

A Selic saiu do menor patamar da história em 2% para 13,25% em pouco mais de um ano.

“O Copom iniciou sua discussão com a avaliação do ciclo de ajuste empreendido até a presente reunião. Ressaltou-se que o ciclo de aperto monetário corrente foi bastante intenso e tempestivo e que, devido às defasagens de política monetária, ainda não se observa grande parte do efeito contracionista esperado bem como seu impacto sobre a inflação corrente”, diz o documento.

Após essa análise, o Copom apontou, como já havia sinalizado no comunicado da semana passada, que na próxima reunião deve fazer mais uma elevação de 0,5 ponto percentual (p.p) ou menos.

“O Copom enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados para assegurar a convergência da inflação para suas metas, e dependerão da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação para o horizonte relevante da política monetária”, diz.

Para Andrea Damico, economista-chefe da Armor Capital, a ata não foi tão dura porque o Banco Central sinalizou, em vários momentos, que deve finalizar a trajetória de alta nos juros na próxima reunião, em agosto. Ela exemplifica, por exemplo, com a sinalização de que os preços ainda sentirão os efeitos das elevações anteriores.

Ainda segundo a economista, a decisão de manter o patamar dos juros elevado por mais tempo é correta porque "suaviza" a política monetária.

—Pelos manuais dos bancos centrais, a suavização é bem-vinda, a única questão que fica é se ele vai consegui reancorar as expectativas com essa estratégia. Acho que está fazendo efeito, ele tende a conseguir — apontou.

Atividade mais fraca

A ata ainda aponta que a atividade econômica deve desacelerar nos próximos meses por conta do efeito da alta dos juros no país e globalmente.

“O Comitê avalia que a atividade deve desacelerar nos próximos trimestres quando os impactos defasados da política monetária se fizerem mais presentes”, aponta a ata.

Por outro lado, os membros do Copom ressaltaram que os indicadores de atividade econômica, como os números do mercado de trabalho e de consumo das famílias, contribuíram positivamente para a economia nos últimos meses.

Além disso, a avaliação do Copom é que os dados positivos de atividade econômica ainda refletem um processo de normalização da economia após a pandemia. Como exemplo, a ata menciona alta nos serviços, que foram bem impactados nos últimos dois anos, e a utilização da poupança que foi guardada durante o período.

Riscos fiscais

Como já havia feito no comunicado da última semana, o Copom voltou a mencionar que as medidas tributárias em discussão diminuem “sensivelmente” a inflação neste ano, mas devem aumentar, em menor magnitude, os preços em 2023.

Essas medidas tributárias fazem parte de um esforço do governo para diminuir os preços de combustíveis esse ano e incluem o teto do ICMS e a alíquota zero para alguns impostos federais sobre gasolina e etanol.

“O Comitê reforça que a incerteza sobre o futuro do arcabouço fiscal do país e políticas fiscais que sustentem a demanda agregada podem trazer um risco de alta para o cenário inflacionário e para as expectativas de inflação”, apontou.

Ainda de acordo com a ata, a conjuntura é "particularmente incerta e volátil" e requer serenidade na avaliação de riscos.

Depois da reunião do Copom, o Congresso passou a discutir com o governo uma elevação de cerca de R$ 50 bilhões de despesas fora do teto de gastos para tentar reduzir o preço dos combustíveis.

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