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Volta às aulas no segundo semestre traz à tona desafios da educação

Volta às aulas no segundo semestre traz à tona desafios da educação

A volta às aulas no segundo semestre trouxe mais uma vez à tona as dificuldades que a pandemia impôs aos estudantes brasileiros.

“Meu nome é Jéssica Costa, eu tenho 29 anos, tenho três filhos. A minha grande preocupação hoje é a educação dos meus filhos”, conta a vendedora Jéssica Costa.

A Rakely, de 12 anos, está na 7° série. A Rayane, de 10, está no 5° ano e o Juan, de sete, no 1° ano, na alfabetização. Os três irmãos voltaram às aulas do segundo semestre com muitos problemas. Os quase dois anos em que ficaram em casa, sem aulas presenciais, por causa da pandemia, estão cobrando um preço alto.

“Foi muito difícil porque as aulas pararam, e eu não tenho acesso à internet, e praticamente eles quase não estudaram. Como é que eu vou dar aula online se a minha casa não tem nem wi-fi? Eu não tenho acesso à internet. E o meu menor também, que agora está na alfabetização e está sem professor”, relata Jéssica Costa.

“Eu tenho um pouco de dificuldade na leitura e na escrita”, diz Rayane.

A Base Nacional Comum Curricular define que a alfabetização deverá ocorrer até o segundo ano do ensino fundamental, mas um levantamento do Todos pela Educação, feito com base em dados do IBGE, mostra que entre 2019 e 2021, houve um aumento no número de crianças com idades de 6 a 7 anos que não sabiam ler nem escrever. Isso segundo a percepção dos próprios pais ou responsáveis. Um contingente que chegou a 2,4 milhão.

Não é segredo que a pandemia aprofundou as desigualdades na educação. Entre as crianças mais pobres, o percentual das que não sabiam ler nem escrever aumentou de 33,6% para 51%. Entre as mais ricas, o aumento foi de 11,4 para 16,6%.

A pandemia aprofundou as desigualdades na educação — Foto: JN

A presidente-executiva do Todos pela Educação diz que a reversão desses números depende de ações em três áreas:

“Uma frente da saúde, que é alimentação e saúde mental dos alunos. Uma frente de composição das aprendizagens e uma terceira frente, que é apontar para frente. Quer dizer, não é apenas mitigar os efeitos da pandemia, mas olhar para frente, porque a educação brasileira precisa ainda melhorar muito”, explica Priscila Cruz.

Especialistas em educação deixam claro que o problema é grave e que as soluções precisam chegar de maneira consistente e o mais depressa possível. Estamos falando de vidas que poderão ser condenadas à pobreza por falta de educação adequada.

Em uma escola municipal, no Rio, um grupo de reforço está atuando para que palavras como esperança e futuro não sejam apenas palavras. A ONG Parceiros da Educação trabalha em conjunto com a Secretaria Municipal de Educação do Rio em 29 escolas.

A ONG oferece tablets, material de apoio e estagiários da faculdade de Educação da UFRJ que, duas vezes por semana, fazem o reforço em leitura e escrita com as crianças que mais precisam. Isso dá mais tempo para o professor titular se dedicar aos outros estudantes da sala.

“A gente percebe já que os nossos alunos já subiram o aproveitamento na prova de língua portuguesa do 1° ano de 61% para 81%. Então, assim, as ações de reforço, de apoio às escolas, em todos os níveis, têm surtido muito efeito”, diz a coordenadora pedagógica da Parceiros da Educação, Lêda Maria da Fonseca

Um outro levantamento, da Fundação Itaú Social, mostrou que 70% dos pais entrevistados acreditam que ações de reforço escolar contribuíram muito para os alunos.

A superintendente da fundação, Angela Dannemann, diz que nessa situação de urgência, o poder público deve estreitar lações com organizações que já atuam na educação, para ajudar os alunos em dificuldade de alfabetização.

“A gente está com famílias desejando fazer o reforço, as crianças com esperança de que isso ocorra. Se a gente não consegue rapidamente fazer aquilo que é preciso, ter estrutura na escola, professores prontos e remunerados ou tecnologia que permita essa criança estudar à distância, a gente tem que acionar um outro canal”, aponta Angela.

Esperança e futuro. A Jéssica quer mais do que palavras.

“Um futuro bom. Um futuro bem melhor do que o meu e eu creio que eles vão me dar muito orgulho sim. Eu tenho certeza”, deseja Jéssica.

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