Por Chico Regueira, RJ1


Levantamento mostra que negros são mortos frequentemente em operação policial

Levantamento mostra que negros são mortos frequentemente em operação policial

O Rio de Janeiro é o estado com mais ações policiais em todo o Brasil, de acordo com levantamento da Rede Observatórios de Segurança. Outro estudo, da Casa Fluminense, indica que, em cinco cidades da Região Metropolitana, todas as pessoas mortas por agentes do estado eram negras.

Segundo a pesquisa da Rede de Observatórios da Segurança, foram 2.772 ações policiais entre junho do ano passado a maio deste ano.

Outro estudo mostra que, em pelo menos cinco cidades das 22 que integram a Região Metropolitana do Rio, todos os mortos em ações policiais são pessoas com pele negra. São elas: Cachoeiras de Macacu, Guapimirim, Petrópolis, Rio Bonito e Seropédica.

O levantamento, que faz parte do Mapa da Desigualdade, produzido pela Casa Fluminense, mostra ainda que, em 20 das cidades analisadas, mais da metade das vítimas dos homicídios decorrentes de agentes do Estado eram pessoas negras.

Levantamento que faz parte do Mapa da Desigualdade mostra ainda que, em 20 das cidades analisadas, mais da metade dos homicídios decorrentes de agentes do Estado eram pessoas negras. — Foto: Reprodução/ TV Globo

Em Mesquita, o número de vítimas de pele negra chega a 93,8%; em Belford Roxo, 89%; em Niterói, 88%; e na cidade do Rio de Janeiro chega a 81%.

“Isso é uma articulação perversa entre o racismo estrutural, que enxerga que certas vidas são menos importantes, são corpos matáveis, e de outro a certeza da impunidade”, explicou Henrique Silveira, coordenador-executivo da Casa Fluminense.

Uma das vítimas é Jonhatha Oliveira, que foi morto em 2014 na favela de Manguinhos, na Zona Norte da capital. O policial militar acusado de atirar contra ele deve ir a júri popular, mas a data ainda não foi marcada.

“Não tive direito ao luto. Tive que ir à luta. E foi nessa luta que eu encontrei outras mães, mulheres pretas, faveladas, que também tiveram seus filhos assassinados”, disse Ana Paula Oliveira, mãe de Jonhatha.

O filho de Ana Paula, Jonatha, morreu em 2014 na favela de Manguinhos, no Rio — Foto: Reprodução/ TV Globo

O Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJ-RJ) disse que o policial militar acusado da morte de Jonatha ainda não foi a júri porque a defesa dele recorreu. Ainda de acordo com o TJ-RJ, por causa da pandemia do coronavírus, a data só será marcada quando puder acontecer de maneira presencial.

A Polícia Civil afirmou que só comenta estudos sobre segurança pública e violência depois de ter acesso ao texto completo e ter tempo para analisar as informações.

A Polícia Militar declarou que as ações de enfrentamento ao crime organizado são planejadas com base em informações de inteligência e tem como preocupação central a preservação de vidas.

A PM destaca ainda que não cabe à corporação avaliar o perfil etnológico de criminosos, mas sim enfrentá-los quando eles não aceitam a rendição e fazem a opção pelo confronto.

Em 2018, a cidade de Petrópolis voltou a fazer parte da Região Metropolitana do Rio. Geograficamente, a cidade continua na Região Serrana, mas voltou a ser prioridade para participar de programas e projetos do Governo Estadual, segundo informou a Câmara Metropolitana do Rio.

Quando a Região Metropolitana foi criada, em 1974, Petrópolis fazia parte da sua formação. A cidade deixou de ser inserida no bloco a partir de 1990 e retornou em 2018.

Idade média ao morrer

O estudo do Mapa da Desigualdade também analisou a diferença de idade média ao morrer entre brancos e negros na Região Metropolitana. Em todas as cidades, os negros morrem mais jovens que os brancos, seja por ações violentas ou não.

A maior diferença está em Niterói, onde a população de pele negra vive em média, 13 anos a menos. Na capital a diferença é de 10 anos, número igual a média da Região Metropolitana.

“O fato das polícias desfecharem ações violentas nas favelas, com mortos e feridos, desestruturando o cotidiano, fechando escolas e postos de saúde. Não é à toa que estes são os espaços onde há a maior proporção de população negra e que também tende a sofrer com a ausência do estado no acesso à bens públicos e de cidadania tão básicos. Quando a gente compara as ações da polícia, muitas vezes em relação ao mesmo crime, dentro de favelas e fora de favelas, ou com pessoas brancas, a gente vê que a atuação é muito menos violenta e, de certa forma, protege mais os direitos em vez de violá-los”, destaca Pablo Nunes, coordenador da pesquisa da Rede de Observatórios da Segurança.

Estudo mostra que idade média ao morrer entre brancos é dez anos maior que a dos negros na Região Metropolitana do Rio — Foto: Reprodução/ TV Globo

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