O Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgou nesta terça-feira a atualização de suas projeções para a economia global e para o Brasil. A entidade acompanhou as instituições financeiras e consultorias brasileiras que revisaram para cima as estimativas de crescimento do país em 2022 depois do resultado do PIB do segundo trimestre.
Na visão do FMI, a economia brasileira deve encerrar o ano atual com crescimento de 2,8%. A previsão anterior, divulgada em julho, era de 1,7%.
A previsão do organismo está um pouco acima da mediana das projeções do mercado coletadas pelo Boletim Focus. Ontem, o relatório mais recente do Banco central brasileiro apontou que a mediana das previsões para o PIB este ano segue com crescimento de 2,7%, mesmo número da semana anterior.
Em julho, assim como o FMI, a mediana do Focus via o PIB brasileiro com potencial mais baixo de crescimento. A mediana naquele momento estava em 1,9%.
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Para 2023, no entanto, o Fundo continua prevendo desaceleração e cortou em 0,1 p.p. (ponto percentual) a projeção de crescimento para o Brasil. A estimativa agora é que o Brasil cresça 1% em 2023.
A expectativa para o ano que vem, portanto, também está acima da mediana das projeções do Focus, que aponta crescimento de 0,54% em 2023, segundo o boletim divulgado ontem.
Perspectiva global com mais inflação e menos crescimento para 2022 e 2023
O panorama econômico global segue pouco auspicioso no curto prazo. Segundo o relatório trimestral, o mundo está enfrentando uma série de desafios turbulentos como a invasão da Rússia na Ucrânia, o aumento do custo de vida causado pelas pressões inflacionárias e uma desaceleração na China, além da pandemia de covid-19 que continua atrapalhando as cadeias globais de produção. Diante do cenário, o organismo atualizou as projeções de inflação e crescimento com viés negativo para o fim de 2022 e 2023.
O FMI manteve a expectativa de que o PIB global cresça 3,2% este ano, mas cortou mais 0,2 ponto percentual (p.p.) da previsão para 2023. Assim, a previsão de crescimento para o ano que vem caiu de 2,9%, projetado em julho, para 2,7% no relatório divulgado nesta terça-feira. Essa perspectiva é a mais fraca desde 2001, excluindo o momento da Crise Financeira Global de 2008 e a fase aguda da covid-19, em 2020. Em 2021, o crescimento global foi de 6% na esteira da reabertura econômica após as medidas de restrições sociais impostas ao redor do mundo para combater a pandemia.
O Fundo destaca que a desaceleração já era esperada diante do processo de aumento de juros e redução de estímulos fiscais após a injeção de gastos públicos aplicada durante os momentos mais severos da pandemia. Contudo, o relatório reforça o alerta lançado na semana passada pelo diretora-gerente Kristalina Georgieva sobre a possibilidade de um terço do planeta entrar em recessão em 2023, o que vai ser sentido por todo o mundo se acontecer.
O FMI fortalece no documento a percepção de que as pressões inflacionárias continuam sendo a ameaça mais imediata para a prosperidade econômica no presente e no futuro. Os economistas do organismo internacional estimam que, no fim de 2022, a inflação global terá aumentado de 4,7% em 2021 para 8,8% - em julho a expectativa era alta de 8,3% dos preços neste ano. Para 2023, a perspectiva é que a inflação global desacelere para 6,5%. Porém, a estimativa aumentou em 0,8 ponto percentual em relação à projeção de três meses atrás.
Entre as economias avançadas, o FMI cortou 0,1 p.p. do crescimento dos países desenvolvidos em 2022 para 2,4%. Para 2023, o organismo reduziu em 0,3 p.p. a previsão do PIB do conjunto dessas nações, para 1,1%. Para a inflação, a expectativa é que a média da alta de preços nesses países fique em 7,2% em 2022, num aumento de 0,6 p.p. na projeção, e desacelere para 4,4% em 2023 – apesar da desaceleração, a previsão subiu 1,1% ante o que os economistas do Fundo calculavam em julho.
Para os EUA, a previsão crescimento de 2022 se manteve inalterada entre os relatórios de julho e outubro. Ou seja, o Fundo continua esperando que a maior economia do mundo cresça 1,0% no fim do ano. Contudo, o momento é de preocupação, pois a previsão para o último trimestre é de crescimento nulo ou estável (0,0%). A secretária do Tesouro americano, Janet Yellen, tem dito que o país enfrenta riscos de recessão em meio aos esforços do Federal Reserve (Fed) para conter a alta inflação que atingiu recentemente o nível mais alto em 40 anos, embora depois de julho tenha entrado em rota de desaceleração quando Índice de Preços ao Consumidor (CPI, na sigla em inglês) recuou para 8,3%, na comparação anual.
Conteúdo publicado originalmente no Valor PRO, serviço de informação em tempo real do Valor Econômico