Rio

Após problema em elevatória prejudicar abastecimento, Cedae anuncia gabinete de crise

MP e Defensoria Pública cobram mais transparência de empresa na divulgação de áreas que vão receber água em ‘rodízio’, sistema adotado há dez dias
Reparo na linha de abastecimento do Lameirão deixa moradores de Nilópolis sem água da Cedae Foto: Cléber Júnior / Agência O Globo
Reparo na linha de abastecimento do Lameirão deixa moradores de Nilópolis sem água da Cedae Foto: Cléber Júnior / Agência O Globo

RIO — Após ser pressionada pelo Ministério Público do Estado (MPRJ) e pela Defensoria Pública, a Cedae anunciou a instalação de um gabinete de crise para tratar das medidas adotadas para minimizar os impactos do problema na Elevatória do Lameirão, que desde o último dia 17 deixa 17 bairros do Rio e a cidade de Nilópolis, na Baixada Fluminense, sem água ou com o abastecimento prejudicado. Com três de seus nove motores fora de operação, a elevatória trabalha com apenas 75% de sua capacidade.

Representantes dos dois órgãos e especialistas da Fiocruz e da Universidade Federal Fluminense (UFF) se reuniram ontem com a diretoria da Cedae e cobraram transparência sobre as medidas adotadas. Eles destacaram que há uma decisão judicial em vigor obrigando a companhia a fornecer água a todos os cidadãos por conta da pandemia, ainda que por meio de carros- pipa.

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Segundo o defensor Eduardo Chow, que participou da reunião, os dois órgãos podem entrar com uma nova ação judicial para garantir a transparência no rodízio de abastecimento e das demais medidas adotadas para minimizar o impacto do defeito na elevatória. Eles deram prazo até hoje para que a Cedae responda oficialmente aos questionamentos feitos na reunião.

— O problema de planejamento é muito evidente nessa situação. Tem que detalhar muito mais a informação para as pessoas, para elas se programarem, saberem quando vão ter água. As informações têm que ser prestadas de uma forma muito mais eficiente do que está sendo feito — disse Eduardo Chow.

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O defensor diz que a manutenção nos motores da elevatória é complexa, mas destaca que, por isso mesmo, é preciso haver mais planejamento, por conta da importância do sistema.

— Isso não é uma coisa que acontece do nada. É uma sequência histórica. Esperamos uma postura diferente da atual gestão — afirma.

Além da cobrança do MP e da Defensoria, a Cedae também está na mira da Agência Reguladora de Energia e Saneamento (Agenersa), que instaurou um processo para apurar responsabilidades, podendo penalizar a companhia se forem constatadas irregularidades na manutenção da elevatória ou no plano de contingência.

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Ontem, o presidente da Cedae, Edes Oliveira, afirmou que um dos cinco motores principais da estação foi enviado para manutenção em abril deste ano, mas o reparo atrasou devido à pandemia, deixando a elevatória sem reserva quando outras duas bombas queimaram. Segundo ele, o motor que está em reparo deve ser entregue em até 23 dias, prazo para a normalização do serviço.

Solução ineficaz

Enquanto a solução não chega, moradores de diversos bairros dizem estar sem água mesmo com as manobras feitas pela Cedae, que reveza as áreas que serão prejudicadas. O analista de planejamento Anderson Silva, morador de Madureira, diz que está sem água há 11 dias. Ele só conseguiu se manter graças à cisterna e a uma piscina de plástico, que secaram ontem:

— Eu solicitei um carro- pipa da Cedae no dia 17, o prazo estourou no dia 23 e até agora nada. Moro com mulher, três filhos e uma idosa. Está muito difícil.

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Moradora do Rocha, a jornalista Rayssa Martins, de 24 anos, diz que precisou comprar uma bomba para fazer com que a pouca água que começou a entrar nos últimos dias chegasse à caixa d’água.

— Estamos há quase duas semanas nessa situação, e ontem mesmo passaram para medir a água. A conta já chegou, mas praticamente não temos água. Está assim no bairro inteiro — reclama.

Presidente da Comissão de Saneamento Ambiental da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), o deputado Gustavo Schmidt (PSL) atribui os problemas à gestão do ex-presidente da Cedae Hélio Cabral, nomeado no início de 2019 e demitido após a crise da geosmina, em fevereiro deste ano.

— Pagamos o preço dessa gestão que trouxe muitos problemas. O que ocorre é resultado disso — afirma.

Procurado, Hélio Cabral declarou que fez um diagnóstico dos problemas ao assumir a empresa e que trabalhou para saná-los. Ele afirmou que o problema no Lameirão não tem relação com a sua gestão, encerrada há 10 meses.