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Endurecimento da quarentena em São Paulo é tímido e tardio, avaliam especialistas

Médicos e cientistas temem uma piora nos números da pandemia em dezembro, mês de saídas para compras de Natal e aglomerações de final de ano
Jovens desrespeitam a quarentena e se aglomeram na esquina das ruas Augusta e Peixoto Gomide, na capital paulista Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo
Jovens desrespeitam a quarentena e se aglomeram na esquina das ruas Augusta e Peixoto Gomide, na capital paulista Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo

SÃO PAULO — Médicos e cientistas que lidam com a Covid-19 desde o início da pandemia em São Paulo criticaram a resposta do governo paulista em relação ao cenário de piora da pandemia. Na avaliação de especialistas ouvidos pelo GLOBO, o recuo de 100% dos municípios para a fase amarela do plano de retomada econômica, nesta segunda-feira, foi tardio e tímido. Eles também criticaram a data da decisão, um dia depois do resultado do segundo turno das eleições municipais.

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Para o infectologista e diretor da Sociedade Pauista de Infectologia (SPI), Evaldo Stanislau de Araújo, são necessárias medidas mais agressivas para se ter um real impacto real na transmissão do coronavírus em São Paulo, que vem em ritmo acelerado desde o final de outubro.

— Da maneira que está sendo conduzido, logo após uma campanha eleitoral, que o que mais teve foi aglomeração, é, no mínimo, hipócrita. Se não há como fiscalizar mais e proibir aglomerações, então temos de fechar nos horários de pico todos os estabelecimentos não essenciais. Como foi feito, é tardio e tímido —  avalia Araújo.

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Nesta segunda-feira, o governador João Doria anunciou que todo o estado de São Paulo está novamente na fase amarela da quarentena, o mesmo patamar alcançado em 11 de setembro. Em 9 de outubro, 76% do estado melhorou os indicadores e passou para a fase verde. Isso incluiu as regiões da Grande São Paulo, Baixada Santista, Taubaté, Sorocaba, Piracicaba e Campinas.

Agora, novamente na fase amarela, significa que estabelecimentos devem funcionar com 40% da capacidade — não mais 60% como na fase verde — e ter horários mais rígidos. Bares, restaurantes, salões de beleza e academias poderão ficar abertos até as 22h, com 10 horas de funcionamento por dia.

Atividades presenciais nas escolas não serão interrompidas e estarão disponíveis para 20% dos alunos, segundo orientações do governo do estado, como já havia sendo feito.

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Apesar do recuo, explica o médico intensivista Ederlon Rezende, do ponto de vista prático as medidas não devem alterar os números da Covid no estado.

— Se eu tivesse que escolher entre o tempo (de endurecimento) e a intensidade, eu criticaria a intensidade. O que me deixou mais decepcionado é que eu esperava um endurecimento maior. Se tem uma coisa que a gente poderia fazer é restringir bares e espetáculos, por exemplo. Esse tipo de coisa pode deixar para depois, sempre com a ressalva de que existe um impacto econômico sobre isso, mas escolhas precisam ser feitas.

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Segundo Rezende, o cenário deve piorar nos próximos dias com as saídas para compras de Natal e vigens de janeiro.

— A análise não otimista é de que o nosso grande problema vai acontecer em meados de dezembro, com todos os impactos de compras e movimentações nas ruas. E também já temos grande parte da população programada para viajar. Vai ser uma outra pancada — avalia.

Para o epidemiologista Paulo Lotufo, a pandemia já dava indícios de piora desde outubro, época em que as medidas de isolamento podiam ter sido reavaliadas, evitando uma piora no quadro de internações, tanto na rede pública, quanto na privada. Hoje, a taxa de ocupação de UTIs para Covid é de 59,1% na Grande SP e 52,2% no estado.

— Veio tardio (o endurecimento da quarentena). Já tínhamos indícios desde o final de outubro que os dados estavam aumentando, já sabemos quais são os indicadores. Com certeza já dava para ter tomado uma medida antes — ressalta o epidemiologista.