Por Clara Velasco, Gessyca Rocha, Roney Domingos, g1


Como os criadores de fake news enganam você

Como os criadores de fake news enganam você

Frases exageradas, falta de informações específicas, manipulação e edição de imagens... Os criadores de fake news utilizam uma série de truques para fazer com que as pessoas acreditem nas mentiras e as compartilhem.

Para ajudar as pessoas a conseguir identificar as mensagens falsas, o g1 consultou especialistas que elencaram as principais características que os criadores de fake news usam.

Esta reportagem faz parte de uma série de vídeos que tira as principais dúvidas das pessoas sobre mensagens falsas e que foi lançada pelo Fato ou Fake no dia 7 de março, no g1 e no YouTube. Publicados semanalmente, os episódios mostram também o que fazer para não se tornar uma vítima da desinformação.

Veja abaixo quais são os principais elementos usados pelos criadores de fake news.

Mensagens apelativas e exageradas

Segundo os especialistas, as mensagens falsas são feitas para chamar a atenção das pessoas. Por isso, é comum que elas tenham teorias da conspiração, informações bombásticas (e improváveis) e muitos emojis e exclamações.

No final de 2021, por exemplo, começou a circular uma mensagem que afirmava que o presidente da Petrobras disse em entrevista que a gasolina está cara por causa de indenizações de "880 bilhões" pagas aos Estados Unidos por conta de corrupção.

Além de apelar para exclamações e emojis, o texto usa tom de indignação e informações exageradas e mentirosas para atingir as pessoas - ao falar de 880 bilhões, por exemplo, sendo que a Petrobras na verdade pagou US$ 853,2 milhões de indenização a investidores americanos. Além disso, o texto cita uma frase que supostamente foi dita pelo presidente da estatal -- sendo que isso nunca aconteceu.

Mensagem falsa sobre a Petrobras usa informações exageradas e apelativas, com emojis e exclamações, para chamar a atenção das pessoas — Foto: Verônica Medeiros/g1

Como foi explicado no primeiro vídeo desta série, sobre "Por que as pessoas acreditam em fake news?", quando as pessoas têm contato com mensagens que as deixam com raiva ou indignadas, elas perdem temporariamente o juízo de valor. Neste momento, a tendência é que elas compartilhem estes conteúdos sem pensar duas vezes (veja o vídeo completo mais abaixo).

"Estudos de como as coisas viralizam na internet são enfáticos ao falar que uma desinformação ou qualquer conteúdo que crie comoção ou uma reação emotiva tende a viralizar. Quando essa comoção é de medo, de angústia, de raiva, tende a viralizar com mais sucesso comparada com uma emoção positiva", diz David Nemer, professor da Universidade da Virgínia e pesquisador de Harvard, nos Estados Unidos.

"Por isso que é muito mais comum ver uma fake news falando que o Brasil vai ser invadido pela tropa chinesa comunista do que um meme de um gato dando bom dia", diz Nemer.

Felipe Nunes dos Santos, professor de comunicação política, eleições e metodologia na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), concorda. "Toda notícia falsa tem uma direção clara. Ela recorre a um exagero, a um sensacionalismo, porque o objetivo é mexer principalmente com a emoção das pessoas", diz.

Por isso, segundo o psicólogo Cristiano Nabuco, do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (USP), é sempre bom pensar duas vezes quando temos contato com conteúdos que nos afetem muito.

"Sempre que eu leio alguma coisa que eu sinto que fiquei muito irritado, que me deixou indignado, eu falo: ‘Opa, estão atuando em cima de mim. Vamos devagar. Vamos ler isso de novo. Será que isso é verdade? Isso que está escrito é factível? Será que, de fato, esse candidato ou essa pessoa falaria isso?'", diz Nabuco.

Por que as pessoas acreditam em fake news

Por que as pessoas acreditam em fake news

Falta de informações específicas

Outro truque bastante utilizado nas fake news é a ausência de informações específicas, como datas e locais em que os fatos narrados aconteceram. Desta forma, as mentiras ganham um tom "universal", já que qualquer pessoa de qualquer lugar pode ler, se identificar e achar que aquilo aconteceu ali, na sua cidade, hoje mesmo.

"É uma linguagem geralmente muito fácil de ser entendida, uma linguagem simples, porque é um conteúdo que não pode trazer reflexão. As pessoas não podem ter oportunidade de encontrar nos detalhes erros ou problemas que possam colocar em xeque", afirma Felipe Nunes dos Santos.

Uma mensagem que circula há muitas anos nas redes sociais e que envolve um suposto golpe do "Whatsapp Gold" é um exemplo deste tipo de fake news. A mensagem é falsa, pois não existe um "Whatsapp Gold", nem nenhum golpe parecido. Mas a mentira consegue se perpetuar porque não dá detalhes sobre a data.

Uma das variações desta mensagem diz o seguinte: "Existe um vídeo que será lançado amanhã no Whatsapp e se chama Gambarelli. Não abra!! O vírus vai para o seu telefone, sua conta bancária é zerada e seu telefone bloqueado para sempre!". O texto não especifica a data, então o "amanhã" é sempre o dia seguinte ao que a pessoa recebeu esta mensagem -- e, desta forma, a fake consegue se manter sempre atual.

Mensagem falsa genérica que cita um golpe envolvendo o 'Whatsapp gold' circula há muitos anos nas redes sociais — Foto: Verônica Medeiros/g1

Imitar aparência da mídia tradicional

Os especialistas dizem que um truque muito comum é tentar imitar o formato ou a aparência da mídia tradicional para que a mensagem falsa ganhe credibilidade. Desta forma, as pessoas podem olhar o conteúdo sem muita atenção, acreditar que saiu em um site confiável e passar adiante sem pensar duas vezes.

"Mimetizar as mídias tradicionais, imitando o formato da manchete, o formato da url e o nome que se dá ao site que está abrigando essa fake news, é uma das estratégias usadas", diz Nina Santos, pesquisadora do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Democracia Digital (INCT.DD) e da Université Paris II.

O Fato ou Fake já desmentiu diversas histórias que tentaram copiar o formato do g1 para parecer que a mensagem havia sido publicada no site -- sendo que tudo não passava de uma montagem, como é possível ver nos exemplos abaixo.

Mensagens falsas usam formato do g1 para tentar ganhar credibilidade e fingir que mentiras são verdadeiras e foram publicadas no site — Foto: Verônica Medeiros/g1

Manipulação de imagens e 'deepfake'

Vídeos, fotos e áudios com algum tipo de manipulação também são muito comuns entre os conteúdos falsos que circulam na internet.

Uma categoria preocupante são as "deepfakes", um tipo de manipulação de imagem ultra-realista. É uma técnica que permite mostrar o rosto de uma pessoa em fotos ou vídeos alterados com ajuda de inteligência artificial. Para criar o material editado, basta ter um vídeo verdadeiro e modificá-lo com um dos vários aplicativos criados com essa finalidade.

"'Deepfake' é um fenômeno bem preocupante e bem interessante. É uma ferramenta pensada para construir um vídeo tão realista que você não possa distinguir [se é verdade ou não]. Por exemplo, pegar um vídeo de uma pessoa cometendo algum crime terrível e colocar em cima desse vídeo o seu rosto", diz Yurij Castelfranchi, professor da UFMG e especialista em desinformação.

Um dos usos mais preocupantes dessas ferramentas é a criação de vídeos pornográficos com o rosto de outras pessoas. Em 2020, um relatório da empresa Sensity indicou que nudes falsos de mais de 100 mil mulheres estavam sendo compartilhados na internet.

As imagens adulteradas também são usadas na política. Em 2019, a presidente da Câmara dos Deputados dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, foi vítima de um deepfake que se baseou um vídeo autêntico para sugerir que a representante democrata tinha dificuldades na fala em um discurso.

"Vai ser muito mais complicado, tanto para o cidadão quanto para os jornalistas e os cientistas que estudam isso, tentar achar soluções e táticas para combater [a mentira]. Então a luta contra a desinformação vai ser cada vez mais difícil", diz.

Empresas lançam concurso para combater 'Deepfakes'

Empresas lançam concurso para combater 'Deepfakes'

Uso de humor e ironias

Muitas mensagens falsas também apelam para o uso de humor e sátiras para espalhar mentiras ou para colocar em dúvida informações.

"Uma forma de fazer com que esse material fique palatável é o uso do humor. É comum que a desinformação venha disfarçada de piadinhas, de formas mais simples e mais engraçada de tratar um determinado tema. Isso pode acontecer com muita frequência", diz Nina Santos.

O que fazer para evitar cair em fake news?

Além de ficar de olho nas características e truques que foram citados acima, os especialistas dão uma série de dicas simples de como evitar cair nas armadilhas das mensagens falsas. Veja abaixo as principais:

  • Procurar informações e opiniões contrárias às nossas: “Você vai votar no candidato 1? Legal. Entra no candidato 2 e vê o que ele está falando também. Tenha contato com informações que são aparentemente incompatíveis, pois isso vai lhe dar uma opinião mais sensata e equilibrada”, diz o psicólogo Cristiano Nabuco, do Instituto de Psiquiatria da USP.
  • Reler as informações: “Sempre que eu leio alguma coisa que eu sinto que fiquei muito irritado, que me deixou indignado, eu falo: ‘Opa, estão atuando em cima de mim. Vamos devagar. Vamos ler isso de novo. Será que isso é verdade? Isso que está escrito é factível? Será que, de fato, esse candidato ou essa pessoa falaria isso?'"
  • Checar as informações em várias fontes: "Cruzar informações, buscar a origem e ter certeza", diz Nabuco. "Faça uma leitura lateral. Abra uma aba do lado e pesquise. Será que algum jornal falou isso?", diz Yurij Castelfranchi, professor da UFMG.
  • Jogar um trecho da mensagem em um buscador: "Veja se aquele trecho já aparece em outras fontes. Eu sei que a maioria das pessoas que acredita em fake news não confia nos jornalistas, mas a mídia é diversa. Se ninguém fala não é porque todo mundo esconde, é porque é mentira", diz Castelfranchi.
  • Não compartilhar caso tenha dúvida: "Na dúvida, não passar adiante, pois você também faz parte desse processo”, diz Nabuco.
  • Manter-se informado: Nabuco afirma que estar por dentro dos acontecimentos também ajuda a desconfiar e a não cair em informações falsas.

Veja como identificar se uma mensagem é falsa

Como identificar se uma mensagem é falsa

Como identificar se uma mensagem é falsa

Como se inscrever

Para seguir o g1 no YouTube é simples, basta clicar neste link.

Ou você ainda pode acessar o canal do g1 no YouTube, fazer o login e clicar no botão inscrever-se que fica no topo da página no lado direito.

Veja também

Mais lidas

Mais da editoria

Empresa esclarece que o anúncio é falso e a suposta promoção não existe.

É #FAKE anúncio que promete sandália a quem responde quiz

O Valor não publicou este conteúdo. Trata-se de uma montagem feita com o logotipo do jornal e que usa ainda a assinatura de um repórter que não faz parte dos quadros do Valor

É #FAKE que acionista da Globo fez recomendação de investimento

O vídeo é falso. Nunca houve um plantão da Globo com essa informação. O áudio que imita a voz de William Bonner foi gerado por meio de inteligência artificial, segundo duas ferramentas de verificação. Facebook classificou post como "falso".

É #FAKE que o plantão da Globo anunciou que Elon Musk daria internet grátis para todos os brasileiros

Vídeo gravado na Jamaica circula acompanhado de legendas falsas que alegam que a cena foi registrada no aeroporto de Guarulhos.

É #FAKE que vídeo de mulher nua em aeroporto seja um protesto no Brasil e tenha relação com preço das passagens aéreas

O animal foi encontrado entre os pneus de uma aeronave na base da Força Aérea nos EUA. Ele foi solto logo depois no rio Hillsborough.

É #FATO: jacaré de três metros é achado entre pneus de avião militar e capturado nos EUA; VÍDEO - Programa: G1 Mundo

A Meta, que pertence a Zuckerberg e é dona do Facebook e do Instagram, esclarece que a imagem com a barba não é real. Vídeo de live com empresário foi alterado.

É #FAKE imagem que mostra Mark Zuckerberg com novo visual, barbudo

Áudios que viralizaram nas redes sociais afirmaram que homem fantasiado de garçom aplicou golpe em clientes na zona norte da cidade.

É #FAKE que falso garçom deu golpe em clientes de pagode do Rio - Programa: G1 Fato ou Fake

Áudios que viralizaram nas redes sociais afirmaram que homem fantasiado de garçom aplicou golpe em clientes na zona norte da cidade.

É #FAKE que falso garçom deu golpe em clientes de pagode do Rio - Programa: G1 Fato ou Fake

Publicação falsa mente ao falar em saque total do FGTS e oferece ao leitor link para chat que induz a golpe.

É #FAKE página que promete saque total do FGTS
Deseja receber as notícias mais importantes em tempo real? Ative as notificações do G1!