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Por Jornal Nacional


Pesquisa mostra a evolução da pandemia em uma das maiores favelas do país

Pesquisa mostra a evolução da pandemia em uma das maiores favelas do país

Foram divulgados, nesta quinta-feira (17), os resultados da pesquisa sobre as consequências da pandemia em uma das maiores favelas do Brasil.

Para quem vive em Paraisópolis, na Zona Sul de São Paulo, parar é um luxo quase impossível. A quarentena imposta pela Covid durou pouco. A busca pelo sustento falou mais alto. "Se parar, como a gente vai viver?", questiona mulher. "Você se expõe ao risco para poder colocar comida em casa", diz outra.

A mobilização da comunidade, que chegou a transformar escolas em áreas de confinamento para casos suspeitos, segurou a transmissão em Paraisópolis. Mas a longa duração da pandemia agravou a situação.

Para ter um retrato novo e ajudar no cuidado da saúde, um projeto das empresas OutDoor Social, Alchemy Strategy e Latam Intersect PR, chamado "Bora Testar", entrevistou e fez exames sorológicos nos moradores.

O que os pesquisadores temiam apareceu nos resultados. A contaminação pelo coronavírus em Paraisópolis é muito maior que na média da cidade de São Paulo. E, mesmo lá dentro, quanto mais pobre e aglomerada a área da favela, mais doentes ela tem.

Foram 400 moradores entrevistados, 122 testados e, destes, 22% já tiveram contato com o vírus. Com a dona Maria, os sintomas foram leves, mas confirmação ela só teve com o exame feito agora. "Deu positivo. Eu pensei assim: a época de eu ficar mais preocupada é quando eu estava, né? Mas eu fiquei boa, estou bem"

E foi em áreas como onde corre o esgoto e onde as casas são coladas e cheias que a situação é mais grave. E esses não são os únicos riscos.

“Dos 22% que testaram positivo, 40% é do setor de serviços. Então precisam estar presencialmente ao trabalho, ou seja, estão expostos ao transporte público; e 50% trabalham na área de Saúde, então também estão expostos a esse vai e vem dos transportes públicos”, conta Emília Rabello, fundadora da OutDoor Social.

Exames feitos pela Prefeitura de São Paulo mostraram que o índice médio de contaminação na cidade é de 13,9%. Mas a prevalência é menor - 9,5% - nas regiões mais ricas. E, mesmo na capital como um todo, a transmissão é maior nas regiões mais pobres, 19%.

“Essas áreas mais vulneráveis a gente precisa, todo mundo olhar. Ter um cuidado e buscar soluções específicas e aplicáveis a elas. Porque, com isso, a gente consegue retomar a economia e fazer o Brasil voltar a crescer”, avalia Daniel Cavaretti, co-fundador do G10 Favelas.

Os líderes comunitários, os voluntários e os trabalhadores de Paraisópolis estão em movimento. Os exames feitos estão em uma plataforma que funciona como um prontuário médico no celular do morador. É mais um instrumento para que ele também receba informações que ajudem a conter a pandemia onde ela está batendo mais forte.

“A gente consegue manter o distanciamento social, mantendo a máscara - que já é uma barreira -, e reforçando a higiene das mãos. Manter isolamento domiciliar se eu estou com suspeita, não ter medo de comunicar isso. Se todos nós cuidarmos de nós mesmos e uns dos outros, a gente consegue minimizar o impacto dessa pandemia”, destaca médica infectologista Juliana Arruda de Matos.

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