Por Gilvana Giombelli, g1 PR — Foz do Iguaçu


Cientista comenta sobre mulheres na ciência e barreiras que venceu para chegar ao evento

Cientista comenta sobre mulheres na ciência e barreiras que venceu para chegar ao evento

A pesquisadora da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Ariane Schmidt, de 27 anos, foi selecionada para participar, com outros 600 cientistas de várias partes do mundo, do Encontros Lindau com Prêmios Nobel. O evento será em junho, na Alemanha.

O encontro acontece todos os anos desde a década de 1950, surgiu como uma iniciativa europeia de reconciliação entre os cientistas no pós-guerra, e tem como objetivo promover a troca entre pesquisadores de diferentes gerações, culturas e disciplinas.

No encontro, cerca de 40 ganhadores do Nobel são convidados a interagir com o grupo de jovens cientistas classificados no mundo. Veja outros detalhes da seleção mais abaixo.

Ariane estudou em escolas públicas desde a educação básica, e destaca que a conquista foi árdua devido à falta de investimentos contínuos na ciência e tecnologia no Brasil. Por outro lado, ela comenta que o fato de ter sido selecionada mostra que o país tem um grande potencial.

"O Brasil tem investido cada vez menos em ciência e tecnologia, então ter a possibilidade de participar deste evento, com pessoas de outros lugares do mundo onde têm investimento nessas áreas, de pessoas que não enfrentam as dificuldades que o Brasil e a América Latina enfrentam. [...] E saber que aqui, eu, como cientista do Brasil, com cortes expressivos na ciência, ter conseguido ser selecionada para um evento deste porte, mostra que conseguimos chegar a lugares assim, mesmo tendo todo esse esforço contra cientistas brasileiros," destaca a pesquisadora.

Ariane irá participar de evnto com outros 600 cientistas de várias partes do mundo — Foto: Reprodução

Seleção para o encontro

Ariane conta que desde 2015 integra um grupo de pesquisa na área de Química da UFPR e que isso foi fundamental para a classificação dela.

A pesquisadora explicou que para participar do encontro inicialmente ela passou por uma seleção feita pela Academia Brasileira de Ciência (ABC) que levou em conta critérios como engajamento com a ciência, contribuições relevantes para a área de pesquisa e análise curricular.

No terceiro ano do doutorado em Química pela UFPR, ela se dedica a estudos relacionados com o desenvolvimento de materiais para aplicação em baterias.

Após a classificação nacional, Ariane disputou com cerca de 3,5 mil pesquisadores do mundo em avaliação feita pela organização do evento. Mais de 200 renomadas instituições de ciência e pesquisa de todo o mundo atuam em cooperação para selecionar os participantes mais qualificados.

"É um grande prestígio fazer parte desse evento, porque a seleção é bem acirrada e me faltam palavras para expressar o quanto está sendo importante ter conseguido ser selecionada para este evento. Eu só consigo imaginar como de fato vai impactar a minha carreira no futuro com tudo que eu tiver oportunidade de vivenciar lá," comenta a pesquisadora.

Ariane tem muitas expectativas com relação ao evento que, segundo ela, contará com a participação também de empresas e instituições que estarão acompanhando as atividades e selecionado as pesquisas que possam ser mais promissoras para a ciência mundial.

Ariane participando de congresso na área de Química — Foto: Acervo pessoal

Mulher na ciência

A pesquisadora destaca que a conquista tem um gosto ainda mais especial por se tratar de uma mulher cientista, e que sempre estudou em instituições públicas de ensino. Ela chama a atenção para que as meninas e mulheres não desistam do sonho de atuar na ciência e que busquem o próprio espaço, mesmo sabendo das dificuldades relacionadas a gênero.

"Existe um longo caminho para se percorrer, para que realmente exista uma igualdade de gênero, que ainda não existe. Mas os caminhos para as mulheres na ciência estão se abrindo cada vez mais e não pode achar que não tem espaço. Tem muita mulher qualificada para fazer ciência e o gênero não é algo que pode delimitar isso" , ressalta Ariane.

Dados da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, a Capes, mostram que as mulheres são maioria entre os estudantes de pós-graduação do Paraná que recebem bolsa da fundação que é vinculada ao Ministério da Educação. Do total de 5.780 bolsistas, 3.496 (60,5%) são mulheres.

No estado, a presença de mulheres na pesquisa é maior do que no cenário nacional. No Brasil, de 76.825 bolsas, 44.654 (58,1%) são para mulheres.

Mas, quando se trata de mulheres na coordenação de projetos financiados pela Capes no Paraná, o percentual é menor. De 19 pesquisas, elas estão à frente de 8 (42%).

Nas ciências exatas, que abrangem áreas como ciências da computação e engenharias, o número de homens bolsistas é 16% maior que o de mulheres.

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