Diante do recrudescimento dos casos de covid-19 no Brasil, médicos infectologistas e representantes de professores defendem que o uso de máscaras deveria voltar a ser obrigatório nas escolas, mas há pouca esperança de que a medida seja retomada tanto em instituições de ensino como em outros locais fechados devido à proximidade das eleições, principalmente em Estados onde os governantes são candidatos à reeleição, como é o caso de São Paulo.
“Com o índice de positividade atual, seria importante que crianças estivessem usando máscaras pensando na coletividade. Uma criança dificilmente vai ter um quadro grave depois de vacinada, mas pode se infectar e acabar contaminando familiares, inclusive pessoas de grupos de risco”, disse o vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, Alexandre Naime.
“Seria importante [o retorno da máscara obrigatória], mas somos pouco otimistas porque é uma medida impopular. Estamos vendo claramente que governantes que tomaram medidas corretas do ponto de vista sanitário acabaram prejudicados eleitoralmente.”
Preocupada com o cenário, o Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp) voltou a fazer levantamento dos casos de covid-19 identificados nas escolas. De 11 de maio à última sexta-feira, foram relatados no site da entidade 182 casos em 26 escolas paulistas, sendo 90 professores, 14 funcionários e 31 alunos - os outros 47 não foram detalhados.
A reportagem procurou quatro secretarias do governo de São Paulo (Saúde, Educação, Planejamento e Comunicação) em busca de informações sobre a quantidade de licenças solicitadas devido à contaminação por covid por professores na rede estadual, mas nenhuma afirmou ter os dados para disponibilizar.
A Apeoesp tem feito campanha para que o uso de máscaras nas escolas seja reforçado, mas reclama que sem obrigatoriedade fica mais difícil convencer alunos e inclusive funcionários a usarem o acessório.
“Estamos pedindo a volta das máscaras tanto para estudantes quanto para professores. Se estiver uma pessoa infectada na sala de aula, a máscara protege. O libera geral não foi bom”, disse a presidente da Apeoesp e deputada estadual, Maria Izabel Azevedo Noronha, a Professora Bebel.
Escolas particulares também deixaram de exigir o uso de máscara em suas dependências, seguindo a lei estadual que determina a obrigatoriedade apenas no transporte público e espaços de saúde.
Segundo Cleber de Moraes Motta, consultor médico de projetos em saúde da Consultoria Einstein, ligado ao hospital Albert Einstein, do ponto de vista de saúde e segurança, a utilização das máscaras é considerada uma medida importante na contenção do contágio pela covid-19 no ambiente escolar. Por isso, recomenda aos clientes a manutenção do acessório em ambientes fechados e abertos com aglomeração, associado a outras medidas de prevenção.
“No entanto, a Consultoria Einstein compreende também que as comunidades escolares optaram por seguir o decreto governamental de liberação de uso de máscara, mantendo como ponto facultativo o seu uso. Assim, diante deste cenário, a atuação dos nossos consultores é no sentido de apoiar os colégios a estabelecer e implantar outras ações que possam garantir uma vigilância maior e minimizar o risco da infecção”, pontuou Motta.