Em uma das muitas palestras que faz pelo mundo, Bill Gates disse que cresceu estocando alimentos, amedrontado pela possibilidade de passar fome, caso houvesse uma terceira guerra mundial. Já adulto, revelou, em palestra em 2016, que se deu conta de que a maior ameaça à existência da humanidade são as epidemias. Mais de cinco anos depois dessa fala, a pandemia do coronavírus já matou mais de 15 milhões de pessoas em todo o mundo, pelas contas da Organização Mundial da Saúde.
A relação direta entre a perda da biodiversidade global e o surgimento de novas epidemias é dada praticamente como certa por cientistas ao redor do mundo, incluindo os da OMS. No entanto, aproximadamente um milhão de espécies animais e vegetais estão ameaçadas de extinção. “A perda de biodiversidade e a poluição ameaçam nossa viabilidade como espécie”, disse o secretário-geral da ONU, António Guterres, ao apresentar o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), em fevereiro passado.
De acordo com os estudos apresentados por ele no dia internacional da biodiversidade, celebrado em 22 de maio, se as atuais tendências negativas da biodiversidade e dos ecossistemas não forem abordadas rapidamente, elas comprometerão diretamente o alcance de 80% das metas estabelecidas pelos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) até 2030.
Ainda não são todos, mas um bom número de zoológicos e parques marinhos espalhados pelo mundo já trabalha em parceria com instituições de pesquisa, como parte importante no esforço de preservação da fauna e da flora global. Sob a coordenação do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), o zoológico de São Paulo, por exemplo, participa de trabalho de conservação de 20 espécies de animais considerados prioritários no Brasil - entre eles mico-leão-da-cara-dourada, jararacas, pererecas e arara jubas. Cada um tem uma espécie de book, um arquivo oficial, com registros genealógicos, dados como alimentação reprodução e até como cuidam de seus filhotes.
Rogério Dezembro, da Reserva Paulista, que administra o zoológico de São Paulo, explica que cada um dos programas tem uma finalidade e um plano de trabalho com ações diretas e indiretas, de pesquisa, elaboração de protocolos, para manter uma população em nível de segurança. Assim, se necessário, poderá ser feita uma reintrodução, ou revigoramento populacional, de uma espécie em seu habitat natural.
O exemplo prático mais recente é o da Arara-Azul-de-Lear, que já era considerada extinta. Téo, exemplar macho da espécie, nascido no zoológico de São Paulo, depois de 20 anos de manejo, recebeu Guadalupe, a noiva espanhola enviada pelo Loro Parque, de Tenerife (Ilhas Canárias). O casamento deu certo e rendeu frutos. Em abril passado, seis araras-azul-de-lear foram soltas na caatinga baiana, de onde são naturais. Entre os mais de 20 projetos de pesquisa da Fundação Parque Zoológico de São Paulo estão dois programas europeus de conservação de espécies ameaçadas - chimpanzés e orangotangos -, coordenado pela Associação Europeia de Zoológicos e Aquários (EAZA).
Em 2016, com um investimento de R$ 130 milhões o Grupo Cataratas inaugurou o AquaRio. Desde então, o local se tornou o terceiro ponto turístico mais visitado do Rio, com quase 5 milhões de pessoas desde a sua abertura, segundo a empresa - que também administra os parques nacionais do Iguaçu, da Tijuca e outros.
“Desde o projeto, o AquaRio foi pensado e desenvolvido sob o tripé educação, pesquisa e conservação”, afirma Rafael Franco, biólogo marinho e gerente técnico do espaço que, segundo ele, é o maior da América Latina - só o tanque oceano, informa Franco, tem 3,5 milhões de água salgada.
No total, o espaço tem 26 mil metros quadrados de área construída, mais de dois mil animais de 350 espécies diferentes. Os investimentos anuais em pesquisa de preservação da biodiversidade do AquaRio, de acordo com a empresa, somam R$ 700 mil.