O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) anunciou ontem que conseguiu coletar as 27 assinaturas necessárias para protocolar um pedido de instalação de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) cujo objetivo é investigar as denúncias que envolvem o Ministério da Educação do governo Jair Bolsonaro e o ex-titular da Pasta Milton Ribeiro. A última assinatura registrada, que possibilita o pedido de abertura da comissão, foi do senador Alexandre Giordano (MDB-SP), que assumiu o mandato após a morte do ex-senador Major Olímpio.
Apesar disso, Randolfe deve continuar trabalhando na coleta de assinaturas nos próximos dias. Isso porque o senador quer evitar que uma ofensiva do Palácio do Planalto, nos bastidores, acabe por provocar a retirada de outros apoiamentos à CPI, como aconteceu há alguns meses. De acordo com ele, ao menos três senadores também estão em tratativas para assinarem a CPI do MEC: Izalci Lucas (PSDB-DF), Otto Alencar (PSD-BA) e Marcelo Castro (MDB-PI).
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“Nós vamos perseguir outras assinaturas para dar ao requerimento dessa comissão parlamentar de inquérito a robustez necessária para evitar quaisquer eventuais abordagens por parte do governo”, contou.
O pedido de criação da CPI do MEC foi apresentado por Randolfe, originalmente, no mês de março, quando surgiram as primeiras denúncias envolvendo o ministério. Na época, entretanto, o governo Bolsonaro articulou para evitar que o senador da oposição tivesse sucesso. Três senadores chegaram a retirar seus apoiamentos por pressão de pessoas próximas ao presidente da República. “Tenho certeza de que nenhum dos colegas que subscreve esse requerimento ira retirá-la [assinatura]”, minimizou o senador.
A CPI do MEC somente voltou a ganhar força nesta semana com a prisão do ex-ministro Milton Ribeiro. O senador do Rede demonstrou estar confiante de que o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), irá instalar a CPI. De acordo com ele, a ideia é que a CPI investigue o ministério apenas durante 90 dias.
Randolfe minimizou a estratégia da base governista de também pedir a instalação de uma série de CPIs como forma de inviabilizar o instrumento da oposição. Algumas das CPIs pedidas pelos bolsonaristas já tramitam no Senado há tempos, mas ganharam força nessa articulação para barrar a CPI do MEC.
O senador do Amapá admitiu, entretanto, que a tendência é que a comissão de inquérito passe a funcionar apenas depois do recesso parlamentar, ou seja, somente a partir do mês de agosto.
O autor do pedido de instalação da CPI também afirmou que terá de fazer uma escolha: integrar a comissão de inquérito ou permanecer na coordenação da campanha presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
“Será incompatível ter as duas funções. É uma escolha futura que terei de fazer, sobre [ser] um ou outro”, admitiu Randolfe a jornalistas, em entrevista coletiva. O senador explicou que tem dito a outros parlamentares que não exigirá estar à frente da CPI e, no limite, sequer fazer parte dela, caso isso ajude a afastar acusações de que a investigação parlamentar tem fins político-eleitorais.