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Por Nabil Ghorayeb

Médico cardiologista do HCor, doutor em Cardiologia (FMUSP), fundador do CardioEsporte do Instituto Dante Pazzanese, Prêmio Jabuti (Literatura, Ciência e Saúde)

São Paulo


Um dos grandes nomes da basquete, o ala LaMarcus Aldrige, do Brooklyn Nets, surpreendeu os torcedores ao decidir abandonar o esporte profissional aos 35 anos. A aposentadoria aconteceu no meio da atual temporada da NBA porque o atleta teve novamente uma arritmia cardíaca (já havia tido em ao menos outros dois momentos dos últimos 14 anos), como ele mesmo descreveu batimentos cardíacos irregulares e acelerados. Tudo começou em 2007, quando ele descobriu ter uma doença cardíaca chamada Síndrome de Wolff-Parkinson-White (WPW), e já havia se repetido em 2017. Mas o que é essa doença?

LaMarcus Aldridge em ação pelos Nets: atleta anunciou aposentadoria em razão de mais um de muitos episódios de arritmia cardíaca em sua vida — Foto: Getty

Na Síndrome de Wolff-Parkinson-White, o marca-passo natural do coração, ao invés de ter apenas uma ligação elétrica com o restante do sistema de condução cardíaco para a contração do mesmo, como é o usual, tem duas ou mais ligações que se formaram durante a gestação. Os gatilhos que disparam uma arritmia (irregularidade dos batimentos cardíacos) podem ser:

  • Atividade física ou esportiva;
  • Emoções fortes;
  • Substâncias estimulantes.

Esses casos não são raros e o diagnóstico pode ser feito pelo eletrocardiograma em repouso, o qual sempre insistimos que seja feito ao menos anualmente, principalmente por quem pratica exercícios físicos de qualquer tipo e intensidade. Ressaltamos que o laudo desse exame deve ser dado por cardiologista treinado e, no caso de atletas ou esportistas, conhecedor das alterações produzidas pela prática esportiva.

O tratamento tem duas vertentes:

  1. Pode ser clínico com medicações ininterruptas, mas que são consideradas doping nos esportes;
  2. Ou pode ser pelo procedimento conhecido como intervenção invasiva, chamado de Estudo Eletrofisiológico com Ablação. Ou seja por meio de cateteres introduzidos pelos vasos sanguíneos pela virilha: ao se aproximarem do coração, os cateteres se comportam como um GPS para localizar esse feixe elétrico extra e, usando a radiofrequência ou a técnica de congelamento, destroem esse feixe extra e inútil. Após alguns dias o paciente estará liberado para vida normal.

Na ablação, cateteres são introduzidos pela virilha para encontrar o feixe elétrico extra e destrui-lo — Foto: TV Globo

Algumas pessoas, como parece ser o caso de LaMarcus Aldridge, podem ter mais de um feixe elétrico extra, alguns não detectáveis na ocasião da ablação. Após a cirurgia, ao longo do tempo, esse outro passa a ser estimulado eletricamente, voltando a causar arritmias com risco de vida. Nessa situação, uma nova ablação se faz necessária para corrigir e anular esse outro feixe extra.

Existe ainda a possibilidade de não ser possível o tratamento por intervenção de ablação. Neste caso, é indicado tomar a medicação antiarrítmica para o resto da vida, e o afastamento dos esportes mais intensos pode ser indicado.

Imaginamos que o La Marcus, pela volta das arritmias e pela idade, não de animou a continuar jogar no basquete mais disputado do mundo, o da NBA. Concordamos que ele tomou a melhor decisão, abandonando a vida esportiva profissional.

Entre nós, já tivemos inúmeros casos semelhantes, principalmente atletas de futebol e de basquete. Todos foram tratados pela ablação e o insucesso não chegou a 1%. Em semanas, a enorme maioria voltou aos esportes.

* As informações e opiniões emitidas neste texto são de inteira responsabilidade do autor, não correspondendo, necessariamente, ao ponto de vista do GE / EuAtleta.com.