Cultura
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Morreu na manhã deste sábado a artista plástica Brígida Baltar, aos 62 anos, vítima de uma leucemia. A artista lutava contra a doença desde 2012. Pioneira no Brasil da escultura transitória, que lida com elementos da natureza, ela será cremada amanhã em cerimônia restrita aos familiares. A morte foi confirmada pela Escola de Artes Visuais do Parque Lage, onde Baltar estudou e lecionou.

Baltar foi aluna do EAV no final dos anos 1980. Foi lá que encontrou outros integrantes que iriam formar com ela o Grupo Visorama, como Eduardo Coimbra, Ricardo Basbaum. Eles fazem parte de uma geração que ficou conhecida como "os outros 80".

— A Escola de Artes Visuais do Parque Lage (EAV), durante os anos 1980, absorveu, com energia, os assuntos trazidos pela exposição "Como vai você Geração80?", e embora alguns integrantes do Visorama tenham feito parte desta exposição, os interesses se ampliaram - disse Baltar em uma entrevista para a revista Concinnitas, em 2019. — Queríamos outras ações, sem formato definido, a descoberta da arte como performance, fotografias, registros, arte conceitual, ambientes, instalações. Arte como existência. Arte como incorporação da própria cultura.

O trabalho de Baltar começa a ganhar força nos anos 1990, quando ela transforma o seu ateliê, onde também morava, em um "laboratório de experiências", conforme definiu na biografia de seu site oficial. O local se tornou matéria-prima para reflexões sobre o feminino e a vida urbana.

Segundo a página da artista, Baltar "cavou buracos e abriu janelas. Ocupou espaços inesperados, fundindo corpo e casa. Colheu goteiras e lágrimas, descascou paredes, juntou resíduos, colecionou pedaços do lugar. Fotografou-se tomando banho, cortando os cabelos e em outras ações íntimas".

Em 1996, criou a obra "Abrigo" (1996), em que projeta a forma do seu corpo escavada na parede da sua casa-ateliê.

A artista também realizou ações ao ar livre, trabalhando com a natureza. Durante quase uma década, entre 1994 e 2001, ela coletou em excursões pela montanha elementos transitórios, como neblina, orvalho, umidade e maresia. Na 25ª Bienal de São Paulo, em 2002, apresentou o trabalho Casa de Abelha, uma instalação com imagens inspiradas nos insetos.

— Baltar inaugura algo essencial na arte brasileira, que é o conceito de escultura transitória — explica Alberto Saraiva, diretor do EAV Parque Lage. — Isso não existia antes, e antecipa a reflexão climática, estruturando o seu trabalho em um sentido ecológico. Com isso, Baltar migrou do universo feminino pessoal dos materiais sensíveis trabalhados em sua casa-ateliê para o universo feminino do planeta. Seu trabalho é muito rico, aberto a discussões contemporâneos, tanto na natureza quanto na vida da cidade.

Brígida Baltar na obra "A coleta da neblina", 1998 — Foto: Divulgação
Brígida Baltar na obra "A coleta da neblina", 1998 — Foto: Divulgação

Em 2015, a artista se submeteu a transplante de medula, tendo como doador seu irmão, o acrobata Claudio Baltar. Seus incômodos antes e depois do procedimento, como aftas, hematomas, petéquias (pequeninas manchas vermelhas provocadas pela baixa de plaquetas), foram transformados em arte na sua exposição individual “Irmãos”, de 2016. Por causa da doença, diagnosticada em 2012, ela passara quatro anos sem expor. Em 2019, o Espaço Cultural BNDES realizou a maior mostra de filmes da artista, reunindo 28 vídeos feitos por ela a partir dos anos 1990, alguns inéditos.

— O transplante, apesar de todo o sofrimento, é muito belo — disse ela ao GLOBO na época da exposição. — É um ato de doação. As células do meu irmão estão dentro de mim, então tem toda uma beleza nessa história.

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