Problema com o fornecimento de energia é um tema presente em diferentes regiões do Rio, mas principalmente dentro das comunidades. É o que aponta o primeiro relatório de eficiência energética nas favelas, lançado na quinta-feira (20).

Ao todo, mais de 4 mil pessoas foram ouvidas em 15 comunidades no Grande Rio para apontar a relação da energia com a pobreza e a desigualdade social.

E 30% dos entrevistados contaram que já perderam eletrodomésticos, alimentos e outros itens por falhas na rede elétrica. Mais de 40% disseram que já ficaram mais de um dia sem luz nos últimos meses.

"Eu já fiquei três dias, num calor terrível", disse uma moradora.

"É constante a falta de luz. Quando não é a luz é a água", disse outro morador.

De acordo com o levantamento do Painel Unificador das Favelas, mais da metade dos entrevistados está abaixo da linha da pobreza.

“Os mais pobres são os mais afetados. Pessoas que têm falta de luz todo dia, são os pobres que sofrem mais. E na questão do retorno da luz, as pessos que levam mais tempo para ter o serviço normalizado são as famílias mais pobres”, disse o cientista social e pesquisador Kayo Moura.

O ar-condicionado pode ser considerado o vilão entre os gastos com energia elétrica no estudo, representando mais da metade (51,4%) do consumo das famílias nas comunidades.

No Morro da Providência, considerada a primeira favela do Brasil, e em outras 14 comunidades que integram a pesquisa, 69% dos moradores responderam que se a conta de luz fosse mais barata usariam o dinheiro para alimentação e outros gastos como medicamentos e educação.

“Nem todo mundo tem condições de pagar, e sem luz não dá pra sobreviver.”

E se engana quem pensa que a ilegalidade é a única maneira de ter energia dentro da favela. Há sim quem queira e muito ter o serviço regularizado, mas não consegue.

“Água eu já tenho, agora tô pedindo a luz."

Muitos moradores ainda desconhecem a tarifa social, um desconto na conta de luz oferecido a consumidores de baixa renda.

“Nós identificamos que 70% das pessoas não têm conhecimento desse benefício. E desses 70, 90% têm direito a esse benefício”, fala o articulador social e pesquisador Bruno Tavares.

Ainda de acordo com a pesquisa, 31% das famílias encontram-se em situação de pobreza energética, ou seja, comprometem uma parcela muito grande da renda mensal com a conta de luz. E assim, enfrentam problemas.

"Já é cotidiano isso. Quando a gente fica sem luz e vê alguns bairros três horas sem luz, a gente sente que na favela está há cinco dias", diz o líder comunitário Fernando Zulu.