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Por Robson Ventura*


 — Foto: Getty Images
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A Inteligência Artificial é um conjunto de tecnologias usadas, em geral, para prever coisas por meio de modelos que, por sua vez, são formas de simplificação da realidade baseadas em estatística, matemática e muito poder computacional. A maneira mais efetiva de utilizá-la é em tarefas que são muito específicas e exigem processamento de muitas informações ou atenção constante. Na Gupy, por exemplo, algumas das aplicações da IA são a ordenação de currículos em uma lista completa segundo os pré-requisitos das vagas, e a validação automática de documentos admissionais, já que é um processo repetitivo que costuma levar muito tempo operacional dos profissionais de Recursos Humanos. Uma vez que este processo é feito automaticamente pela tecnologia, os RHs conseguem se dedicar a tarefas mais complexas que exigem as habilidades humanas.

Muitas empresas já utilizam tecnologias com Inteligência Artificial no Brasil para coletar, organizar e até analisar dados de seus clientes e agilizar processos para oferecer melhores soluções. Porém, na maioria dos casos, isso não é comunicado para o usuário final. O resultado é que grande parte da população já convive com estas tecnologias, mas não sabe como funcionam. Segundo um estudo do SAS, fornecedor de soluções de análise de dados, feito pelo IDC (International Data Corporation), o Brasil é o país que mais usa IA na América Latina. Cerca de 63% das empresas utilizam aplicações baseadas nesse tipo de tecnologia, e os setores mais avançados são o financeiro, o varejo e o de manufaturas.

A consequência da falta de comunicação e transparência sobre a aplicação da IA impacta as empresas, os consumidores e até mesmo o Estado: por um lado, muitas companhias não sentem a necessidade de trabalhar esta tecnologia com responsabilidade e ética por não ser algo cobrado pelo estado ou pelos seus clientes. Por outro, os consumidores não sabem como são impactados, especialmente quando se trata de seus dados pessoais. Por fim, tudo isso impacta o Estado, que ainda não tem visibilidade de como esta tecnologia é utilizada pelas empresas e instituições e de como os dados são trabalhados.

Quando se trata de tecnologia, o ser humano deve estar no centro de tudo e precisa ser preservado. Por isso, é de extrema importância que existam regulações. Assim como a LGPD, que fez com que as empresas aprendessem a se organizar e armazenar os dados das pessoas de maneira correta e ética, uma regulamentação é necessária para guiar as empresas sobre as boas práticas em inteligência artificial.

O Marco da Inteligência Artificial, uma proposta de lei baseada nas recomendações da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), será um grande avanço para solucionar esta falta de transparência, já que uma legislação assegurará o direito das pessoas e a segurança de seus dados e privacidade, além de permitir e incentivar a evolução tecnológica no Brasil. O projeto de lei, que teve seu texto final aprovado no final de 2022, traz importantes aspectos do trabalho com a Inteligência Artificial, como governança multissensorial, responsabilidade, vieses, além de transparência e explicabilidade, que trarão um grande avanço para o mercado, principalmente no que diz respeito a responsabilidade e também responsabilização de empresas e instituições.

Com a lei ou outras medidas que virão para regulamentar o uso da IA, também haverá mais transparência nas comunicações das empresas a respeito de suas tecnologias. Será por meio do conhecimento que as pessoas deixarão de enxergar este recurso como um tabu e começarão a vê-lo como uma ferramenta aplicável aos seus trabalhos, usando-a em seu benefício.

O mercado de trabalho e a área de Recursos Humanos ainda serão muito impactados pela IA. Inclusive, esta é uma das grandes tendências do futuro do trabalho: os empregos irão mudar, muitas áreas e cargos novos surgirão, mas isso acontecerá para que os profissionais possam evoluir e assumir funções mais complexas que necessitem de suas habilidades humanas. Trata-se de algo que engloba desde a operação, na base das empresas, até as áreas de negócio, e será necessário capacitar as pessoas colaboradoras constantemente para que consigam se desenvolver para realizar as novas tarefas que as empresas precisam para crescer.

Também precisamos de mais profissionais que saibam utilizar os recursos tecnológicos em seu dia a dia a favor das empresas, assim como questionar as suas aplicações e identificar as melhores práticas. Não é sobre migrar para a carreira de tecnologia, mas sim entender como as ferramentas digitais funcionam e podem nos ajudar a otimizar o nosso trabalho e impactar positivamente outras pessoas que fazem parte dos processos.

Este tipo de mudança no mundo do trabalho não é inédita, trata-se de algo que já aconteceu durante as revoluções industriais. Contudo, estamos vivendo justamente o início das transformações, e é natural que gere diversos questionamentos. Por outro lado, também estamos caminhando para que tecnologias como a IA não sejam apenas pautas de discussões técnicas ou de um grupo seleto de pessoas, mas, sim, de conhecimento público. Este cenário pode ser uma grande oportunidade para que as pessoas deixem de temer a tecnologia e descubram como elas funcionam, para usá-las em suas carreiras.

*Robson Ventura é CIO e cofundador da Gupy

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