Economia

Impasse nos EUA faz Ibovespa fechar em queda de 0,20%; dólar recuou a R$ 2,20

Investidores temem que maior economia do mundo possa dar calote se não houver acordo para elevação do teto da dívida pública

SÃO PAULO - As Bolsas europeias, americanas e a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) voltaram a ter uma dia de queda generalizada com o impasse fiscal nos EUA. Analistas preveem que até o próximo dia 17, prazo limite para que o Congresso aumente o teto da dívida pública americana, haverá turbulência no mercado, já que um acordo deverá ser fechado apenas na última hora. Também a falta de entendimento entre democratas e republicanos para aprovação do orçamento de 2014 continua sendo motivo de preocupação. A paralisação parcial dos serviços públicos nos EUA completou uma semana nesta terça sem que as negociações avancem na direção de um acordo.

Com esse contexto como pano de fundo, o dólar se desvalorizou pelo segundo dia consecutivo frente ao real e a outras divisas no exterior. A moeda americana fechou negociada a R$ 2,203 na compra e R$ 2,205 na venda, uma baixa de 0,18%. Contribuiu ainda para a queda, a intervenção realizada pelo Banco Central, que vendeu os dez mil contratos ofertados na operação de swap cambial realizada entre 9h30 e 9h40. O BC vendeu o equivalente a US$ 497,7 milhões. Os contratos têm vencimento em 5 de março de 2014.

O Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo, apresentou instabilidade pela manhã, mas se fixou no campo negativo à tarde. O Ibovespa se desvalorizou 0,20% aos 52.312 pontos, com baixo volume negociado, de R$ 5,5 bilhões, o que sinaliza a cautela dos investidores. A queda dos papéis da Petrobras pressionou negativamente o índice.

- A questão fiscal americana continuou sendo o foco do mercado financeiro. Quanto mais se demora para aprovar o orçamento, maior é o impacto na economia real, já que a máquina pública tem peso importante na composição do PIB. Por isso, a cautela dos investidores - avalia João Pedro Brugger, analista da Leme Investimentos.

Entre as ações mais negociadas do índice, Vale PNA recuou 0,66% a R$ 31,23; Petrobras PN teve queda de 1,66% a R$ 18,31, pesando sobre o índice; OGX Petróleo ON subiu 5% a R$ 0,21; Itaú Unibanco PN perdeu 0,34% a R$ 31,50 e Bradesco PN caiu 0,13% a R$ 30,71.

As ações da Petrobras recuaram com a indefinição sobre um aumento no preço dos combustíveis, além do rebaixamento do rating da empresa, na semana passada, pela agência de classificação de risco Moody's. Maria das Graças Foster, presidente da Petrobras, afirmou nesta terça em São Paulo que é possível e previsível um novo reajuste no preço da gasolina ainda esse ano, mas que não há data definida. As ações PN da Petrobras tiveram o maior giro financeiro do pregão, movimentando R$ 427 milhões.

A Petrobras negou, em comunicado, que estuda alteração na sua política de reajuste de combustíveis, com reajustes automáticos. "A companhia, com frequência reitera que não há data para alterações de preços e que sua política de convergir preços internos aos internacionais permanece inalterada. Caso haja alguma informação nova relevante sobre o tema, [a empresa] comunicará tempestivamente ao mercado", diz o documento publicado na Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

Na China, o índice dos gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) do setor de serviços caiu para 52,4 pontos em setembro, de 52,8 pontos em agosto, de acordo com o instituto de pesquisas Markit Economics em parceria com o HSBC. O número, embora seja positivo, pesou sobre as ações de mineradoras de todo o mundo, e a Vale acompanhou esse movimento de queda.

As ações ON da MMX Mineração, do Grupo EBX, do empresário Eike Batista, se desvalorizaram 7,21% a R$ 1,03, a maior queda do pregão. A segunda maior baixa foi apresentada pelos papéis PN da Gol, com os investidores devolvendo os ganhos dos últimos dez pregões, quando as ações subiram mais de 30% após expectativa de que o governo ajudaria as companhias aéreas, que têm custos atrelados ao dólar.

Na ponta das maiores altas, ficaram os papéis ON da Oi, com ganho de 4,29% a R$ 3,89, seguidos dos papéis PN da operadora, com valorização de 3,93% a R$ 3,70.

OGX confirma demissões

A OGX confirmou através de nota notícias divulgadas pela imprensa de que demitiu parte de seus funcionários, totalizando cerca de 60 pessoas. De acordo com o comunicado divulgado pela empresa, "a OGX está conduzindo um processo de reestruturação financeira, que passa pela negociação com credores, otimização de portfólio e custos, além de alguns ajustes no quadro de colaboradores".

- O próximo passo da OGX é entrar com pedido de recuperação judicial. Agora, qualquer oscilação de um centavo no preço do papel provoca alta ou baixa expressiva na ação - avalia Brugger.

Nos EUA, um grupo de executivos negocia com os credores uma saída para a OGX. O grupo estaria tentando convencer os investidores que detém títulos da petrolífera a converter seus papéis em ações da companhia. Eles também tentam alongar o prazo de pagamento dos juros de US$ 45 milhões, que venceram na semana passada.

Mercado acompanha reunião do Copom

Também no cenário interno, os investidores começaram a acompanhar a partir desta terça a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, que deve elevar a taxa básica de juro dos atuais 9% ao ano para 9,5%. A taxa dos contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) com vencimento em janeiro de 2014 subiu de 9,41% no fechamento de ontem para 9,44%, com os investidores de olho no Copom. Já os papéis com vencimento mais longo recuaram acompanhando a desvalorização do dólar. O papel com vencimento em janeiro de 2015 ficou estável em 10,08%, enquanto a taxa dos contratos que vencem em janeiro de 2017 caíram para 11,16% ante 11,24% de ontem.

EUA: teto da dívida precisa ser elevado até dia 17

Se até o dia 17 o teto da dívida pública não for elevado, o Tesouro americano ficará sem dinheiro suficiente para honrar todos os pagamentos e perderá a capacidade para pagar dívidas antigas tomando novos empréstimos. O diretor do departamento de pesquisas do Fundo Monetário Internacional (FMI), Olivier Blanchard, dise que se o teto da dívida americana não for elevado será um fracasso e um grande perigo para a economia do país e do mundo, inclsuive com risco de recessão. Mas a possibilidade de isto ocorrer é mínima.

"Vemos isto (a não elevação do teto da dívida) como um cenário extremo, ou seja, de menor probabilidade. Mas se ocorrer pode ter grandes consequências negativas", afirmou ele nesta terça, durante a divulgação do relatório de expectativas econômicas do Fundo.

Nos EUA, os principais índices acionários ampliaram a queda à tarde após discurso do presidente Barak Obama, que fez um apelo para que o acordo seja fechado o mais rápido possível, mostrando que não há avanços. O S&P 500 caiu 1,23%; o Dow Jones se desvalorizou 1,07% e o Nasdaq teve perda de 2%.

- As bolsas americanas ampliaram as perdas após o discurso de Obama. O apelo do presidente mostrou que as negociações com os republicanos estão sendo mais duras do que de costume - avalia Marcelo Torto, analista da corretora Ativa.

Na Europa, a questão fiscal americana fez os investidores venderem ações e as principais Bolsas fecharam em queda. O índice Dax, da Bolsa de Frankfurt, perdeu 0,42%; o Cac, do pregão de Paris, recuou 0,77% e o FTSE, da Bolsa de Londres, teve baixa de 1,11%. Também pesou sobre o mercado o fato de o FMI ter divulgado nesta terça que reduziu em 0,3 ponto porcentual a previsão para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) mundial em 2013, a 2,9%. O FMI também rebaixou a estimativa de expansão para 2014, em 0,2 ponto porcentual, para 3,6%.