Economia

Petroleiras da Ásia serão ‘estrelas’ do leilão de Libra, diz consultoria

Sem gigantes americanas, chinesas são a principal aposta para a rodada

RIO - As petroleiras asiáticas, principalmente as chinesas (CNOOC, CNPC e a Sinopec), serão as “estrelas” no leilão de Libra no pré-sal da Bacia de Santos no próximo dia 21. Segundo Carlos Assis, do Centro de Energia e Recursos Naturais da consultoria global EY (antiga Ernst & Young), um estudo realizado pela empresa, a que o GLOBO teve acesso com exclusividade, mostra que as grandes petrolíferas internacionais, que chama de super majors (algo como “super gigantes”, em inglês), não participariam do leilão de Libra apesar do volume significativo das reservas estimadas entre oito bilhões e 12 bilhões de barris. E a expectativa, segundo o executivo, é que as asiáticas ofereçam o chamado óleo-lucro (parcela da receita que será oferecida para a União) vencedor de 50%, acima dos 41,6% mínimos fixados no edital do leilão.

— As asiáticas serão as estrelas, e as petroleiras gigantes internacionais deixaram esse papel para serem observadoras. Elas estarão acompanhando cada segundo do leilão de Libra, pois o que está em jogo não é só Libra, mas o desenvolvimento de todo pré-sal — destaca Assis.

O estudo “Perspectivas sobre a Rodada de Licitações de Libra” da EY mostra que as gigantes do petróleo internacionais visam em seus negócios o retorno dos investimentos de modo mais rápido, enquanto as chamadas National Oil Companies (NOC), que são empresas estatais como a Petrobras, PDVSA, Pemex ou as chinesas, têm como principal estratégia ter acesso a novas reservas de petróleo.

— Existe uma grande preocupação por parte dessas empresas em relação ao novo marco regulatório brasileiro. A questão não é o modelo ser de partilha, mas sim a forte intervenção do governo na gestão no consórcio vencedor que desenvolverá Libra — diz Assis.

Dentre outras questões que afugentaram as grandes companhias petrolíferas como a Exxon, Chevron, BP e BG está o fato de elas não terem autonomia na gestão operacional do negócio. Isto porque a Petrobras será obrigatoriamente a operadora em todos os campos, com uma participação mínima de 30%.

Outro ponto adicional às preocupações é a forte participação do Estado por meio da Pré-Sal Petróleo S/A (PPSA), a estatal que será a gestora e fiscalizadora de todas as operações. As companhias ficaram preocupadas com o fato de que a PPSA vai participar do comitê operacional que vai gerir os negócios, com direito a voto e a veto.

— As companhias avaliaram que, apesar de serem as investidoras, não terão nenhuma ingerência na operação que será comandada pela Petrobras, que apesar de sua competência reconhecida, ficará sobrecarregada. Além disso, vai ter uma outra estatal (a PPSA) dentro de sua gestão, com poder de veto e voto — destacou Assis.

Também preocupou as grandes petrolíferas os percentuais exigidos de conteúdo local para equipamentos e serviços. Segundo o executivo, as companhias temem que a indústria nacional não tenha condições de atender às demandas e, com isso, atrase o ritmo de entrada em operação de Libra. E esse atraso representaria um adiamento do início da obtenção do lucro no negócio. Foi fixado também conteúdo local mínimo do contrato de partilha de 37% para a fase de exploração e 15% para o teste de longa duração (TLD). Para os módulos da etapa de desenvolvimento que se iniciarem até 2021, o conteúdo local será de 55%. Para os módulos que se iniciarem a partir de 2022, será de 59%.

— O executivo de uma grande petrolífera me disse que esse marco regulatório do regime de partilha brasileira está determinado ao investimento de um banco e não de uma operadora — contou o especialista.

A LTERNATIVAS NO EXTERIOR

O executivo da EY diz que após o leilão de Libra o governo pode promover mudanças nas regras no sistema de partilha, flexibilizando, principalmente, dois pontos que, segundo ele, poderão fazer com que as super majors apareçam nos próximos leilões: retirar da Petrobras a obrigatoriedade de participar de todos os blocos com no mínimo 30% e flexibilizar os índices do conteúdo local.

O estudo da EY lembra que o campo de Libra e o pré-sal brasileiro não são as únicas opções de investimento da indústria, que avalia outras alternativas pelo mundo.

— Libra compete com grandes projetos em águas profundas, como os do Golfo do México, da África Ocidental ou da Margem Equatorial Atlântica, ou mesmo com os megaempreendimentos emergentes envolvendo gás da África Oriental — disse Assis.