Economia

Investidores da Oi vão receber ações da CorpCo no lugar dos atuais papéis

CorCo vai ser listada no segmento Novo Mercado da Bovespa

RIO - A CorpCo, empresa que surge da fusão da Oi com a Portugal Telecom, foi recebida positivamente pela maioria dos analistas de corretoras e bancos, que consideraram a fusão como um possível “ponto de virada” para as ações da empresa de telefonia na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) para o longo prazo. Com a fusão das duas empresas, a CorpCo vai ter apenas uma modalidade de ação negociada na Bovespa, as chamadas de classe ordinária (ON, com direito a voto). Os papéis passam a ser negociados assim no segmento Novo Mercado da Bovespa, integrado apenas pelas empresas com melhor práticas com os acionistas minoritários.

Segundo analistas do Itaú BBA, se a operação for aprovada pelos órgãos oficiais, vai “marcar uma virada na história de investimentos da Oi e vai resolver as questões de endividamento e pavimentar o caminho para uma melhoria no front operacional” da empresa. A XP lembrou que nova estrutura societária pode reduzir os conflitos que marcaram a empresa nos últimos anos. Já a Concórdia, que considerou a operação positiva, avaliou que a fusão melhora o nível de governança da empresa, com uma única ação listada em Bolsa.

Uma parcela do mercado segue cautelosa, porém, para recomendar a compra das ações antes que a operação seja aprovada pelos órgãos brasileiros. Indagam se o potencial de sinergia entre as duas empresas — anunciado oficialmente em R$ 5,5 bilhões — será alcançado de fato. Temem também que a diluição (redução de participação) dos acionistas minoritários possa pressionar para baixo o preço das ações nas próximas semanas.

— Os investidores que não têm as ações da empresa, o melhor é continua sem elas até que fique mais claro o que realmente vai ser o resultado dessa fusão. Quem já tem as ações, o melhor é continuar com elas e participar do processo de troca dos papéis — diz Ricardo Corrêa, analista da Ativa Corretora.

A Oi tem atualmente 1.752.482 de investidores pessoas físicas, segundo informações prestadas pela empresa à Comissão de Valores Mobiliários (CVM). O número é elevado, maior do que o total de investidores pessoas físicas da Bolsa, por causa do plano de expansão do setor, que concedeu ações das empresas para quem comprou uma linha telefônica entre 1975 e 1995. Muitos dos investidores sequer sabem que têm as ações.

Para entender o processo, o investidor precisa primeiro saber que existem duas classes de ações da Oi na Bovespa, as ordinárias e as preferenciais (PN, sem voto). A empresa vai realizar, em data a ser estabelecida, uma oferta pública de venda dessas duas classes de ações ao mercado, num total de R$ 7 bilhões a R$ 8 bilhões. O preço dos papéis nessa oferta será determinado por um book building , como é chamado o processo em que a empresa estabelece o valor das ações que vai vender de acordo com a demanda do mercado.

Os pequenos investidores que têm ações da Oi terão direito a participar dessa oferta, segundo William Castro Alves, analista da XP Investimentos. Esses minoritários terão a oportunidade de comprar as novas ações que serão emitidas pela empresa de forma a manter sua atual participação na Oi.

— Quem não aderir à oferta poderá ter sua participação reduzida pela metade. Quem tem 1.000 ações terá que comprar quase mais 1.000 para manter sua participação na empresa — exemplifica Alves, acrescentando que a empresa que surge pode ser um bom negócio a investidores. — A compra da Oi pela Portugal Telecom pode eliminar problemas de ineficiências operacionais, governança, endividamento.

Fonte de um banco chegou a estimar em 60% a diluição dos pequenos investidores, ou seja, a mais da metade.

Encerrada a oferta pública, que precisará ser aprovada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), as ações da Oi passarão por um processo de substituição. Segundo comunicado das empresas, a ação ordinária da Oi será substituída por uma ação ordinária da empresa, a CorpCo. No caso dos papéis preferenciais, o minoritário vai receber 0,9211 ação da gigante que vai surgir no mercado em 2014. Os dois processos ocorrem de forma quase simultânea.

Os investidores minoritários que não quiserem participar da troca das ações podem exercer o chamado direito de recesso, obrigando os controladores de Oi e Portugal Telecom a recomprarem as ações. Os especialistas não recomendam usar o direito de recesso, já que as antigas ações devem deixar de ser negociadas na Bolsa. Se o uso do recesso exceder a capacidade dos controladores, a criação da CorpCo pode ser até inviabilizada.

Nesta quarta-feira, as ações da Oi apresentam forte valorização na Bovespa e na Bolsa de Nova York . Os papéis da Portugal Telecom também avançam forte no mercado europeu.

Segundo o banco de investimentos J.P.Morgan, o “massivo aumento de capital” pode pressionar, porém, as ações da Oi no curto prazo. O banco diz que o aumento de capital, que pode variar de R$ 7 bilhões a R$ 8 bilhões seria muito alto em comparação ao valor de mercado de R$ 7 bilhões da companhia, mesmo considerando que R$ 2 bilhões serão subscritos pelo TMarPart e BTG Pactual.

“Nós continuamos cautelosos com recomendação neutra para Oi. Nós acreditamos que o dado positivo sobre a empresa passar a ser listada no Novo Mercado pode ser deixada de lado diante do aumento de capital e a pouca visibilidade de potenciais sinergias da operação”, escreveram os analistas Andre Baggio e Marcelo Santos.

Os investidores que têm ações da Portugal Telcom, que são negociadas na Bolsa de Lisboa, receberão 0,6330 ação da CorpCo mais 2,2911 euros em ações da CorpCo, ao mesmo preço do aumento de capital. Os papéis da CorpCo também serão negociados na Bolsa de Nova York e na NYSE Euronext Lisbon, segundo informou a companhia.