13/04/2012 14h19 - Atualizado em 13/04/2012 15h25

Secretários do GDF se reuniram com diretor da Delta, diz porta-voz

Barbosa e Tadeu se reuniram com Cláudio Abreu no dia 7 de abril de 2011.
Reunião foi para tratar de problemas com a coleta de lixo, diz Ugo Braga.

Felipe Néri e Rafaela CéoDo G1 DF

O porta-voz do governo do Distrito Federal, Ugo Braga, disse nesta sexta-feira (13) que dois secretários do GDF – Rafael Barbosa, da Saúde, e Paulo Tadeu, do Governo – se reuniram com Cláudio Abreu, ex-diretor da Delta Construções no Centro-Oeste.

O encontro foi em 7 de abril de 2011, período em que Paulo Tadeu acumulava as tarefas da Casa Civil dentro da Secretaria de Governo [a Secretaria da Casa Civil foi criada no dia 19 de março deste ano], em um restaurante de Brasília. Braga disse que a reunião foi para tratar de problemas relacionados com a coleta de lixo.

“A Delta estava enfrentando dificuldades no trabalho de coleta de lixo, sobretudo no acesso ao Lixão e no recebimento das faturas. Então, pediu uma audiência com o secretário [Paulo Tadeu]. [A reunião] Foi feita. Assuntos afins, republicanos, sem nenhum problema [foram tratados]”.

O porta-voz explicou que o secretário de Saúde teria feito a intermediação da reunião entre Paulo Tadeu e representantes da Delta para tratar de problemas relacionados com a coleta de lixo no DF.

“O secretário de Saúde foi coordenador da campanha eleitoral do governador Agnelo Queiroz. A empresa estava com dificuldade de marcar audiência com o secretário Paulo Tadeu e recorreu ao coordenador da campanha, que fez a ponte e acompanhou o jantar por conta disso”, afirmou Ugo Braga.

A declaração do porta-voz ocorre depois de o secretário Rafael Barbosa ter dito, esta semana, que não tinha nada a ver com a questão do lixo no Distrito Federal. Nesta sexta-feira (13), o secretário de Saúde voltou a dizer que não participou do agendamento da reunião. Barbosa, no entanto, não negou a participação no encontro.

“Eu não sou intermediário, sou chefe de Estado de Saúde. Não tenho nada a ver com área de construção nem de lixo. O meu trabalho tem a ver apenas com o atendimento e a melhora da saúde pública.”

A assessoria do secretário de Governo confirmou que ele se reuniu com um representante legal da Delta para tratar de assuntos contratuais de interesse público ligados à coleta de lixo do DF.  Em nota, Paulo Tadeu, afirmou que nunca esteve com o contraventor Carlinhos Cachoeira e que também nunca recebeu ninguém a pedido dele.

“As reuniões de trabalho do Secretário Paulo Tadeu são sempre direcionadas ao cumprimento de agendas institucionais”, diz a nota (leia a íntegra abaixo).

Apesar da reunião, o porta-voz do GDF disse que não havia proximidade entre a empresa e os secretários. “Não havia proximidade alguma. Uma empresa prestadora de serviço do governo pediu para falar com o secretário que cuidava da área. Falou. O assunto tratado foi a respeito do serviço público. Não há problema. Não há proximidade, não há nada.”

O desencontro de informações entre membros do governo do Distrito Federal ocorre após o governador Agnelo ter dito que nunca havia estado com o empresário Carlinhos Cachoeira e, um dia depois, informar que se encontrou com o bicheiro em “2009 ou 2010”.

“O governador foi apresentado a Carlinhos Cachoeira em 2009 ou 2010. Ele não lembra com exatidão porque foi durante uma visita que ele fez a uma empresa farmacêutica em Anápolis [GO]. E estavam lá vários empresários desse ramo, inclusive Carlinhos Cachoeira”, falou o porta-voz Ugo Braga nesta quinta-feira (12).

Gravação
Rafael Barbosa foi citado em uma ligação gravada pela Polícia Federal, dentro da Operação Monte Carlo, que que investiga o contraventor Carlos Cachoeira, suspeito de comandar um esquema de jogo ilegal em Goiás.

No diálogo, Marcello Lopes, ex-assessor da Casa Militar do GDF, fala com Idalberto Matias de Araújo, o Dadá, suspeito de ser um dos principais auxiliares do contraventor Carlos Cachoeira. No áudio, Idalberto Matias, é tratado pelo codinome Chicão.

Marcello: "Teve uma reunião, Chicão, entre o Agnelo; Agnelo, o Rafael e João Monteiro, agora esses dias. E o Agnelo falou para o João diretamente, isso foi o Cláudio me contando, pra cuidar da Delta, pra deixar tudo, pra não dar problema nenhum no lixo".

No diálogo são citados João Monteiro, ex-diretor do Serviço de Limpeza Urbana de Brasília (SLU), exonerado na última semana; Rafael, que seria Rafael Barbosa; e Cláudio seria Cláudio Abreu, ex-diretor da Delta no Centro-Oeste.

O governador Agnelo Queiroz nega qualquer relação com o grupo de Carlinhos Cachoeira e chama de fantasiosas as tentativas de envolvê-los no escândalo.

Marcello Lopes, ex-assessor de Agnelo Queiroz, disse que o nome dele está sendo usado para atingir o governador. O advogado de Lopes, Jorge Amarante, informou que a relação do seu cliente com Carlinhos Cachoeira não envolvia negócios com o governo.

"Ele teve contato com Carlos Cachoeira duas vezes, só por telefone, e a respeito de questões de índole pessoal, de contratos de índole particular e antes dele ser assessor de governo", disse Amarante.

O secretário de Saúde, Rafael Barbosa, falou que nunca se reuniu com João Monteiro e não conhece Carlinhos Cachoeira. Afirmou ainda que é secretário de Saúde e não tem nada a ver com lixo.

Em nota, João Monteiro repudia a vinculação de seu nome aos fatos em apuração e colocou seus sigilos telefônico, bancário e fiscal à disposição.

A construtora Delta é responsável por dois terços do serviço de limpeza urbana em Brasília. A empresa declara não ter qualquer relação imprópria com João Monteiro e afirmou que afastou Claudio Abreu por causa das ligações com Cachoeira.

Veja íntegra da nota do secretário Paulo Tadeu
“A respeito da divulgação de diálogos que citam o nome do Secretário de Governo, Paulo Tadeu, por pessoas envolvidas com Carlinhos Cachoeira e sua proximidade com políticos e governos, a Secretaria de Estado de Governo do Distrito Federal esclarece que:

O Secretário Paulo Tadeu nunca esteve com o contraventor Carlinhos Cachoeira como também nunca recebeu alguém a pedido dele. As reuniões de trabalho do secretário Paulo Tadeu são sempre direcionadas ao cumprimento de agendas institucionais.

As gravações da Polícia Federal revelam que os mesmos contraventores reconhecem que não conseguem encaminhar seus interesses no Governo do Distrito Federal, por meio da atuação do Secretário de Governo.

Ninguém pode ser responsabilizado por conversas de terceiros que usam o nome de gestores públicos para objetivos obscuros.

Não há e nunca houve tráfico de influência de empresas dentro da Secretaria de Governo. As agendas são sempre marcadas com indicação de pauta administrativa, não cabendo ao Secretário responder por interesses escusos.

Saber que as pessoas desonestas reconhecem a Secretaria de Governo como um lugar no qual não conseguem realizar seus esquemas, apenas nos orgulha e demonstra que agimos de maneira correta.

O Secretário de Governo já está adotando as providências para interpelar judicialmente Cláudio Abreu acerca das mentiras e calúnias com que se referiu ao seu nome. As tentativas de envolver o GDF com negociatas não passaram e não passarão por essa Secretaria.”

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