Economia

Dólar sobe a R$ 2,30; Ibovespa se desvaloriza 1,20% puxado por Vale e Petrobras

PIB americano do terceiro trimestre ficou acima do esperado e trouxe temor de corte de estímulos à economia já em dezembro

SÃO PAULO - Com a divulgação de que o Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos cresceu 2,8% no terceiro trimestre, acima dos 1,9% esperados pelos especialistas, o dólar ganhou força frente a outras divisas no mundo, nesta quinta-feira. Com o real, não foi diferente. A divisa se valorizou 1,05% no câmbio comercial e encerrou negociada na casa de R$ 2,30, a maior cotação desde o dia 5 de setembro, quando o dólar fechou a R$ 2,324. Com a economia americana crescendo mais forte, aumentou a expectativa de que o Federal Reserve, o banco central americano, possa começar a reduzir em dezembro os estímulos à economia. Além do cenário externo, continua o mal-estar do mercado com a economia brasileira, onde a inflação segue em alta, o crescimento será baixo este ano e a política fiscal gera desconfiança.

Ao fim do pregão, a moeda americana se valorizou 1,05% sendo negociada a R$ 2,305 na compra e R$ 2,307 na venda. Na máxima do dia, o dólar foi negociado a R$ 2,311 (alta de 1,22%) e na mínima bateu em R$ 2,273 (queda de 0,43%). Pela manhã, o BC fez mais um leilão de contratos de swap cambial tradicional e vendeu 10 mil papéis, o equivalente a US$ 496,6 milhões. O dólar chegou a cair após o leilão, mas acabou invertendo a trajetória após a divulgação do desempenho da economia americana.

- O dólar ficou pressionado a partir do dado mais forte do PIB americano no terceiro trimestre. O número cheio do PIB é bom, mas quando se olha no detalhe percebe-se que foi o aumento dos estoques e não o consumo que contribuiu para o crescimento da economia. Portanto, os investidores ainda estão cautelosos, esperando o número do mercado de trabalho americano que sai amanhã. Este indicador é que vai sinalizar melhor qual decisão o Federal Reserve poderá tomar em relação à redução dos estímulos à economia - diz Luciano Rostagno, estrategista-chefe do banco Mizuho no Brasil.

De acordo com o gerente de câmbio da corretora Correparti, João Paulo de Gracia Correa, o dólar subiu frente ao real e outras divisas no exterior amparado no PIB americano, mas também refletindo a desconfiança dos investidores em relação à situação da economia brasileira.

- O dólar voltou muito rápido ao patamar de R$ 2,30, refletindo as preocupações do mercado em relação ao corte de estímulos nos EUA, mas também com a economia brasileira, que apresenta baixo crescimento, inflação em alta e desconfiança da política fiscal. Agora vamos acompanhar se o Banco Central vai anunciar a rolagem dos quase US$ 11 bilhões em contratos de swap cambial que vencem em 1º de dezembro. A rolagem aliviaria um pouco a pressão sobre o dólar. Também há a expectativa da entrada de recursos do leilão de Libra - avalia João Paulo de Gracia.

BCE surpreende e baixa juro

O mercado foi surpreendido nesta quinta pela decisão do Banco Central Europeu que baixou o juro básico da economia para 0,25% ao ano, com o objetivo de estimular o crescimento econômico. As Bolsas de Frankfurt e Paris chegaram a subir mais de 1% após a notícia, mas perderam força depois da divulgação do PIB americano e da própria decisão do BCE, que sinaliza fraqueza da atividade econômica. Nos EUA, os principais índices acionários estavam em queda, refletindo os temores do fim do ciclo de dólares abundantes e baratos circulando pela economia.

Na Bolsa de Nova York, as ações do Twitter chamam a atenção: os papéis começaram a ser negociados nesta quinta-feira cotadas a US$ 45,10, alta de 73,4% em relação ao preço fixado pela empresa um dia antes. O volume de ações negociadas no primeiro minuto chegou a 13 milhões.

O Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo, começou o dia em queda, mas também passou a subir seguindo os pregões europeus. Com o crescimento da economia dos EUA acima do esperado, a Bolsa inverteu novamente a tendência e caiu puxada por Vale e Petrobras. No fim do dia, o Ibovespa cedeu 1,20% aos 52.740 pontos e volume negociado de R$ 8,4 bilhões.

Lucro da Vale surpreendeu o mercado

As ações preferenciais classe A da Vale abriram em alta, após o lucro de quase R$ 8 bilhões no terceiro trimestre, mas inverteram a tendência e se desvalorizavam 3,25% a R$ 33,35, devolvendo os ganhos registrados nos últimos 30 dias. Entre as demais blue chips da Bolsa, Petrobras recuou 2% a R$ 20,01; Itaú Unibanco PN teve queda de 1,49% a R$ 33,03 e Bradesco PN perdeu 0,86% a R$ 31,97. Os papéis da OGX, que foram excluídos do Ibovespa na semana passada, terminaram estáveis a R$ 0,15. as ações da empresa naval OSX, do empresário Eike Batista, recuaram 9,61% a R$ 0,47 com a possibilidade de a empresa pedir recuperação judicial. A OGX negou a intenção de uma fusão com a empresa.

A maior alta do pregão foi apresentada pelos papéis PN da Eletropaulo, com ganho de 9,20% a R$ 9,50. A empresa divulgar lucro líquido de R$ 27 milhões no terceiro trimestre, resultado melhor que o esperado pelos analistas. A maior queda ficou para as ações ON da B2W Digital, com recuo de 6,92 a R$ 13,05.

A mineradora Vale divulgou que seu lucro líquido no terceiro trimestre mais que dobrou em relação ao mesmo período do ano passado. A mineradora lucrou R$ 7,949 bilhões de julho a setembro, uma alta de 138,9% em relação aos R$ 3,328 bilhões no terceiro trimestre de 2012. O resultado é o melhor desde o quatro trimestre de 2011, quando a companhia apurou ganhos de R$ 8,35 bilhões.

Segundo a Vale, embarques de minério de ferro e pelotas atingiram o terceiro maior volume na história com preços mais elevados, e foram os principais responsáveis pela melhora nos resultados.

- O número da Vale foi positivo, porém, grande parte desse bom resultado já estava precificada nas ações da companhia, que nos últimos 30 dias subiram 13%, enquanto que o Ibovespa apresentou alta de 1,85% no mesmo período. Preços e volumes maiores, além da melhora nos custos operacionais, melhoraram os resultados da companhia. Porém, existe um motivo de preocupação com relação à dependência à China, que representou 40% das vendas da companhia - diz o analista William Castro Alves, da XP Investimentos.

Para o analista Victor Penna, da BB Investimentos, os números da Vale surpreenderam positivamente no terceiro trimestre. Ele lembra que a desvalorização cambial também ajudou a impulsionar os resultados da mineradora, ao lado de preço mais elevado e maior volume de vendas. Penna lembra que a reunião do Partido Comunista chinês, que acontece no próximo fim de semana e pode promover reformas na economia da China, pode beneficiar a Vale.

Juros futuros sobem acompanhando dólar

A alta de 0,57% da inflação medida pelo Indice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), abaixo do esperado pelo mercado - que era 0,59% - fez as taxas dos contratos de juros futuros recuarem no início do dia. Mas a alta do dólar inverteu a tendência. O contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2017 tinha taxa de 12,03%, de 11,90%. O DI para janeiro de 2015 tinha taxa de 10,91%, de 10,78% ontem. E a taxa do papel mais longo subiu de 12,33% a 12,43%.

O Tesouro Nacional fez hoje um leilão de títulos prefixados. Foram vendidos integralmente 4 milhões de NTN-F de dois vencimentos e 4 milhões de LTN de três vencimentos.