Economia

Bolsa cai 0,93% e dólar sobe a R$ 2,31 com dados positivos do mercado de trabalho nos EUA

Na Europa, rebaixamento da nota de crédito da França pela S&P fez bolsas recuarem

SÃO PAULO - Os dados mais fortes do mercado de trabalho americano, divulgados nesta manhã, deram o tom do mercado financeiro nesta sexta-feira e provocaram uma correção nos preços dos ativos. Entre os investidores cresceu a expectativa de que o Federal Reserve, o banco central americano, possa começar a reduzir os estímulos à economia dos EUA já em dezembro. No mercado doméstico, o dólar chegou a se valorizar 1,69% frente ao real, na máxima do dia, atingindo a cotação de R$ 2,34, mas perdeu força durante a tarde. A moeda americana terminou o pregão negociada a R$ 2,316 na compra e R$ 2,318 na venda, uma alta de 0,47%. É a maior cotação desde o dia 5 de setembro, quando a divisa encerrou cotada a R$ 2,324. Na mínima do dia, a divisa foi negociada a R$ 2,296 (baixa de 0,47%). Na semana, o dólar acumulou alta de 2,71% e no ano sobe 13,2%.

O Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo, encerrou o pregão com desvalorização de 0,93% aos 52.248 pontos e volume negociado de R$ 9,1 bilhões. Foi o quarto pregão de queda consecutivo do índice, que encerrou a semana com desvalorização de 3,27%.

O Departamento do Trabalho dos EUA informou que foram criadas 204 mil novas vagas de trabalho em outubro, quando a expectativa dos analistas era de abertura de 120 mil novos postos. A taxa de desemprego subiu de 7,2% para 7,3%, dentro do esperado pelo mercado.

O número reforçou a tendência de que a economia está em plena recuperação e as compras mensais de US$ 85 bilhões em títulos podem começar a ser reduzidas. O comportamento das taxas dos Treasuries (títulos americanos de dez anos) mostrou que o mercado também está antecipando uma alta dos juros nos EUA. A taxa dos Treasuries saltou de 2,6%, na véspera, para 2,7% nesta sexta.

- O número de novas vagas de trabalho foi o dobro do que os analistas esperavam. Com isso, as taxas dos títulos de dez anos (Treasuries) subiram a 2,7% refletindo a expectativa do mercado de que o Federal Reserve inicie a retirada os estímulos já em dezembro e também suba os juros da economia em breve - diz Luís Gustavo Pereira, estrategista da Futura Corretora.

Os dados do mercado de trabalho dos dois meses anteriores também foram revisados para cima, de acordo com o Departamento do Trabalho. Já a renda pessoal dos americanos subiu 0,5%, enquanto os gastos pessoais tiveram aumento de 0,2%. O único dado mais fraco foi a confiança do consumidor americano, medido pela Universidade de Michigan e pela Thomson Reuters, que caiu para 72,0 pontos em novembro, de 73,2 pontos no mês anterior. Analistas esperavam que o índice subisse para 75,3 pontos. Mesmo assim, os principais índices acionários americanos operaram em alta.

- As Bolsas americanas sobem porque existe também a leitura de que se o Fed já pode retirar os estímulos, a economia americana recuperou o fôlego, o que é benéfico para as empresas. O mercado faz a leitura que mais lhe convém - diz Luiz Roberto Monteiro, operador da corretora Renascença.

À tarde, o presidente da unidade do Federal Reserve de Atlanta, Dennis Lockhart, colocou em dúvida se o ritmo de crescimento da economia é suficiente para manter o nível de empregos.

"Mesmo com a economia crescendo e o mercado de trabalho melhorando, ainda existem sérias preocupações se o ritmo modesto do Produto Interno Bruto (PIB) é suficiente para manter o bom momento de empregos", ressaltou Lockhart.

BC fez novo leilão de dólares à vista com compromisso de recompra

No mercado de câmbio, o Banco Central realizou mais um leilão de linha, em que vendeu dólares no mercado à vista com compromisso de recompra no futuro. O leilão estava previsto no cronograma de atuações diárias no mercado de câmbio. Foram ofertados até US$ 1 bilhão. A data de liquidação de recompra é 4 de fevereiro de 2014 e a taxa ficou em R$ 2,34.

- O dólar perdeu um pouco de força, à tarde, com a entrada de exportadores no mercado vendendo moeda americana para embolsar os ganhos de 1,6% registrados em apenas algumas horas, depois dos dados positivos nos EUA - afirma Reginaldo Galhardo, gerente de câmbio da corretora Treviso.

No mercado de juros futuros, as taxas dispararam após os dados de emprego nos EUA. O contrato de Depósito Interfinanceiro com vencimento em janeiro de 2017 bateu em 12,30%, o mais alto patamar desde agosto de 2011. Os juros subiram acompanhando o movimento de alta do dólar e dos Treasuries.

À tarde, os investidores corrigiram os excessos. O DI com vencimento em janeiro de 2015 fechou com alta de 10,96% de 10,91% na véspera. A taxa do papel com vencimento em janeiro de 2017 subiu a 12,11% de 12,03% de ontem e o contrato mais longo, com vencimento em janeiro de 2021, saltou de 12,43% para 12,51%.

Entre as ações mais negociadas do Ibovespa, Vale PNA caiu 1,38% a R$ 32,95; Petrobras PN recuou 1,80% a R$ 19,70; Itaú Unibanco PN perdeu 2,63% a R$ 32,18 e Bradesco PN recuou 3,57% a R$ 30,84. As ações ON da OGX que foram excluídas do Ibovespa na semana passada, terminaram estáveis a R$ 0,15.

Rebaixamento de nota da França faz Bolsas na Europa caírem

Na Europa, o rebaixamento da nota de crédito da França pela agência de classificação de risco Standard & Poor's fez as Bolsas da Alemanha e de Paris fecharem em queda. A classificação de crédito de longo prazo da França caiu em um nível, para "AA", com perspectiva de se manter estável. A S&P informou que o alto desemprego está enfraquecendo o apoio por mais medidas de políticas estruturais e fiscais significativas, acrescentando que as reformas macroeconômicas do governo francês não elevarão substancialmente as perspectivas de crescimento de médio prazo do país. A S&P também revisou a perspectiva de crédito soberano da França para estável, de negativo.

"As Bolsas começaram o dia com o peso da França, ampliaram a queda com os dados dos EUA, mas as perdas foram atenuadas na reta final do pregão. Nós estamos voltando para alguma forma de normalidade no mercado, em que um dado macroeconômico muito positivo, nesse caso o dado de emprego dos Estados Unidos, pode ser benéfico para as empresas, refletindo nas Bolsas", afirmou em nota Alex Young, analista da CMC Markets UK.