Edição do dia 17/11/2013

17/11/2013 22h25 - Atualizado em 17/11/2013 22h30

'Não tenho mais vida', diz Fran sobre vídeo íntimo compartilhado na web

Fran, mãe de uma menina de dois anos, teve que mudar a aparência e parar de trabalhar. Hoje, ela evita sair de casa.

Uma situação dramática, que se repete cada vez mais: jovens mulheres filmaram relações sexuais, confiaram nos parceiros, e acabaram humilhadas por milhares de pessoas na internet. No domingo passado, a história de Júlia Rebeca, de apenas 17 anos, teve um fim trágico.

Júlia Rebeca, uma jovem, bonita e alegre, de 17 anos, morava no litoral do Piauí. Ela gravou um vídeo de sexo com uma garota e um rapaz - também menores de idade. As imagens foram distribuídas por celular na cidade de Parnaíba. Envergonhada, após se despedir da mãe em uma rede social, ela tirou a própria vida.

Júlia Rebeca estudava e era uma adolescente comum, sorridente, fã da cantora Miley Cyrus, e muito ligada à família. Nas últimas semanas, no entanto, segundo suas colegas de sala, ela estava distante e quieta. Não conversava com ninguém e passava o tempo todo digitando no celular.

“Ela era muito alegre no início, mas depois ela ficou deprimida. De repente. Totalmente retraída”, conta a amiga Carliane Silva dos Santos.

A polícia investiga quem divulgou a gravação.

“A princípio todos os três são vítimas dessa divulgação indevida da imagem deles. Mas também investigamos quem possa ter compartilhado com pessoas não envolvidas”, disse o delegado regional de Panaíba, Rodrigo Moreira.

A mãe de Júlia Rebeca, Ivânia, conversou com o Fantástico por telefone.

“Ela não demonstrou nada, nada, nada, nada. Todo o adolescente tem o direito de ser adolescente. Eles são inconsequentes mesmo. Essa exposição toda, do vídeo, da imagem da minha filha é uma violação”, destaca a mãe da vítima.

Um momento íntimo, que deveria ser protegido pela confiança entre parceiros, pode virar uma arma quando cai na internet. Publicada em redes sociais ou repassada de celular em celular, a gravação sai do controle. O Fantástico conversou com mulheres que tiveram suas intimidades expostas.

O caso que teve maior repercussão foi o de Fran, de Goiânia.

“Eu confiei. Nunca imaginei que ele faria isso”, disse Fran.

O vídeo de Fran com o ex parceiro foi compartilhado milhares de vezes. Ela virou piada na internet e na cidade.

“Meu celular não parava. O pessoal ligando, ligando. Eu fiz o boletim de ocorrência na sexta-feira. O pessoal não tinha dado muita importância. Quando foi na segunda-feira, eu vi a proporção que tava”, conta.

Fran, mãe de uma menina de 2 anos, teve que mudar a aparência e parar de trabalhar. Hoje, ela evita sair de casa.

“Ele tirou a minha vida, eu não tenho mais vida. Eu não consigo sair, não consigo estudar, trabalhar”, disse.

O ex-parceiro de Fran nega ter divulgado o vídeo, segundo seu advogado.

“Meu cliente não é a pessoa que está no vídeo, muito menos a pessoa que divulgou o vídeo”, disse o advogado Hugo de Angelis.

A perita em crimes digitais confirma que o número de casais que gravam vídeos de sexo é grande.

“Mais da metade dos casais registra ou já registrou o momento íntimo”, disse a perita digital Iolanda Garay.

Segundo ela, quase todas as vítimas da chamada "pornografia de revanche" são mulheres. Ela aconselha quem quiser se filmar a seguir algumas regras para se proteger.

A regra número um é: ao se filmar em momento íntimo, não revelar o seu rosto, o seu nome e nem a sua voz.
Regra 2: é importante que a mulher mantenha a filmagem na posse dela.
Número 3: não compartilhe, não envie por e-mail para o seu parceiro, não envie por chat, por dispositivo de mensagem.
E a quarta regra: apague tão logo seja possível.

“O pior do crime eletrônico não é exatamente você detectar quem foi o agressor. O grande drama é toda a carga moral, social, que acaba sobrando para a mulher”, disse Iolanda Garay.
Sete anos depois de ser exposta por um ex-namorado, a paranaense Rose Leonel ainda sofre com o que aconteceu.

“Ele publicou fotos minhas na internet, fez várias montagens e fez essas publicações e mandou postagens pra mais de 15 mil e-mails. As fotos que ele foi colocando tinham o meu telefone, o telefone do meu trabalho, o ramal do meu escritório. Ele chegou a colocar o telefone celular do meu filho, meu filho adolescente sabe... Assim, eram ligações de homens pedindo pra fazer programa. Ele colocava assim, fotos me vendendo como se eu fosse uma garota de programa... E o que mais me doeu foi essa, essa situação de vulnerabilidade dos meus filhos”, conta a vítima Rose Leonel.

Rose procurou a Justiça. O ex-namorado foi condenado por difamação.

“Essa condenação foi uma absolvição moral pra mim”, destaca.

Fantástico: Quando uma moça consente, permite que o namorado a filme numa situação de intimidade e depois o namorado publica esse material na internet, isso constitui um crime?
Alexandre Atheniense da Comissão da OAB sobre crimes na internet: Constitui sim: A lei Maria da Penha foi criada no sentido de proteger não só a integridade física, mas a integridade psicológica, a dignidade da mulher. E hoje, a vida digital é uma extensão da vida presencial.

O ex-namorado de uma professora de Minas Gerais também foi condenado pelo mesmo crime. Há nove anos, ele enviou fotos dela nua para milhares de pessoas. Teve que prestar serviços comunitários e pagar uma indenização por danos morais.

“Tentar resolver judicialmente a coisa ajuda internamente. Hoje, eu realmente estou sentada aqui diante mesmo de vocês com a situação resolvida pra mim”, destaca a professora.

“É um crime que se perpetua. Quando as pessoas postam, quando elas abrem um material desses, elas não tem consciência que isso perpetua o sofrimento da gente”, disse Rose.

“Eu não sou a única, eu não sou a última, eu não fui a primeira”, destaca Fran.

“As consequências são diárias. É irreparável”, disse Rose.

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