Economia

CVM quer restringir uso de redes sociais por empresas com ações em Bolsa

Órgão regulador do mercado de capitais discute regras para divulgação de informações por Twitter ou Facebook

SÃO PAULO - O uso de redes sociais por empresas que têm ações negociadas em Bolsa entrou no radar da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o xerife do mercado financeiro brasileiro. O assunto já começou a ser discutido e é possível que a CVM estabeleça regras mais restritivas para a utilização dessas ferramentas. Procurada a CVM informou que “a utilização das redes sociais pelas companhias abertas levanta novas preocupações e discussões, sendo objeto de estudo”.

O uso de redes sociais para divulgação de informações de empresas ganhou destaque nos últimos tempos com o uso do assunto do Twitter pelo empresário Eike Batista que postava informações das empresas do Grupo EBX. Devido a excessos, desde maio, as postagens de Eike no Twitter ficaram mais escassas .

Por enquanto, a CVM considera que a publicação dos fatos relevantes das companhias em suas páginas do Twitter ou Facebook é apenas um complemento das informações oficiais, que devem ser divulgadas pelos meios de comunicação. Também considera que “as empresas devem divulgar pelas redes sociais informações verdadeiras, completas, consistentes que não induzam o investidor ao erro”. Mas o assunto ainda está sendo discutido pela área técnica, informou a CVM.

- Divulgar informações pelas redes sociais trará mais transparência tanto para empresas quanto para investidores. É um canal a mais de informação. Mas certamente a CVM vai estender as regras rígidas que já existem para a divulgação de informações ao mercado para as redes sociais - avalia o gerente de pesquisas do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), Luiz Martha.

Assim como um executivo ou administrador não pode dar uma entrevista revelando informações da companhia que não foram divulgadas através de fato relevante, o mesmo deverá valer para as redes sociais, avalia Luiz Martha. Também deverá ficar definido qual porta-voz pode se pronunciar através do twitter, por exemplo, com limites estabelecidos entre o twitter pessoal e o da empresa. E, caso haja abusos, a CVM poderá abrir um processo contra o executivo que extrapolar, prevê Luiz Martha, do IBGC.

- O impacto de informações divulgadas pelas redes sociais nas ações de uma empresa é imediato se divulgado com o mercado ainda aberto - diz ele.

Enquanto as regras da CVM não saem, o investidor que já utiliza esses canais como mais uma fonte de informação, deve se precaver.

- É sempre preciso se certificar que as notícias e informações divulgadas sejam de fontes confiáveis. Também é importante conversar com analistas e desconfiar de promessas ou rentabilidades incríveis de uma ação - diz Aline Rabelo, coordenadora do Investmania, uma rede social especializada em investimentos, com uma base que já chega a 40 mil cadastrados.

O Investmania conta com moderadores e analistas credenciados pela CVM para conversar com os participantes. As próprias empresas participam e esclarecem dúvidas dos internautas, analisando seus resultados, distribuição de dividendos, por exemplo, ou apresentando seu modelo de negócios. Para participar, é preciso fornecer o CPF e o IPI do computador também é identificado para evitar que alguém espalhe boatos ou informações inverídicas sobre uma companhia.

Usuário de redes sociais como ferramenta de investimento, o analista financeiro Felipe Lopes de Andrade, 29 anos, recomenda que a fonte da informação que circula nesses canais seja identificada e, de preferência, que seja a própria empresa. Comprar ações com base na opinião de um internauta, que diz ter tido ganhos astronômicos, é sempre arriscado sem checar a veracidade das informações.

- Não existe milagre. Não se pode achar que vai ganhar muito com uma ação sem ao menos conhecer a empresa. É preciso pesquisar sobre a companhia em outras fontes de informação, como jornais, e até mesmo relatórios da própria empresa. Há muita informação de “micos” circulando e, desses papéis, eu sempre fujo - diz Andrade, que também é usuário do Investmania.

O diretor de Relações com Investidores da Kroton, Carlos Lazar, afirma que a empresa do setor educacional, cujas ações recentemente passaram a integrar o Ibovespa, já utilizou o Twitter e o Facebook em sua política comunicação. Mas, como o público é muito diversificado, não teve aumento no número de seguidores. Por isso, hoje a empresa prefere redes sociais onde o público seja mais específico.

- A discussão entre participantes da rede sobre a companhia é interessante para saber que tipo de dúvidas eles possuem. Isso abre a possibilidade de explicar melhor a Kroton - diz Lazar.

Ele afirma que a partir de outubro a empresa terá aplicativos específicos para se comunicar com investidores via i-Pads e telefones celulares que usam o sistema Android.

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Em abril, a Securities Exchange Comission (SEC, correspondente à CVM no Brasil) afirmou que as companhias poderiam usar o Twitter, Facebook e outras mídias sociais para fazer anúncios-chave, desde que todas estas empresas informassem aos investidores quais sites utilizariam para divulgar informações consideradas relevantes para o mercado.

A orientação da SEC buscava esclarecer as regras de divulgação depois de ter aberto um inquérito sobre um post do presidente-executivo da Netflix, Reed Hastings, em sua página pessoal do Facebook, em que informava o número de horas vistas e filmes e séries de TV em junho de 2012.

A SEC, na ocasião, evitou abrir processo por entender que havia incertezas sobre como aplicar as regras de divulgação nas mídias sociais mas passou a monitorar a situação mais atentamente.

Seis passos para usar com prudência as informações das redes sociais

- Certifique-se que as notícias e informações sejam de fontes confiáveis

- Não acredite em tudo o que dizem. Pergunte a quem fez a afirmação qual foi o embasamento utilizado

- Tenha sua própria opinião. Não siga ao pé da letra o que os outros dizem ter feito

- Fale com especialistas e consulte outras fontes antes de tomar uma decisão de investimento

- Desconfie de promessas de rentabilidades incríveis. Ganho passado não garante rentabilidade futura

- Pesquise sempre. Nada é mais confiável do que buscar informação direto na fonte, com a própria empresa