03/11/2013 09h00 - Atualizado em 04/11/2013 10h29

Na zona norte do RJ, horta em favela envolve obra de infraestrutura pública

R$ 80 milhões foram investidos em ruas, serviço de água, esgoto e lixo.
Horta custou R$ 500 mil e causou grande impacto na comunidade.

Do Globo Rural

Em Manguinhos, na Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro, foi realizada uma obra de infraestrutura pública com investimento de R$ 80 milhões, destinados a abertura de ruas, coleta de lixo, serviço de água e esgoto, além da montagem da horta, que teve um custo de R$ 500 mil e causou grande impacto na comunidade.

O idealizador e gerente do projeto é o agrônomo Júlio César Barros, especialista em agricultura urbana. “Isso era considerada a maior cracolândia da cidade do Rio de Janeiro. Era uma área que exportava insalubridade”, diz.

O ambiente é ocupado por mais de 300 canteiros, com 160 em produção. A mão de obra é de 27 hortelões de Manguinhos, que recebem um tipo de bolsa-horta de quase meio salário por mês. Ninguém era do ramo. A exceção é o Ezequiel Cruz, um ex-jardineiro na Fundação Oswaldo Cruz.

Tirar o crack, o tráfico, o baixo astral e substituir por quiabo, cebolinha, abacaxi e autoestima foi obra de muito esforço. “Nós tiramos da área cerca de 700 caminhões de lixo e a camada de solo superficial”, diz Barros.

Foi removida uma camada de 55 centímetros de profundidade de terra contaminada. O valo foi preenchido com 40 centímetros de saibro e 15 centímetros de brita e pó de pedra, usados para evitar mato e lama.

Os responsáveis pelo projeto levaram terra, composto e mudas. Também foi montado o sistema de água e de drenagem. Como a proposta é de produção orgânica, eles usam o agrobio, uma calda biológica que age tanto como preventivo como defensivo agrícola.

A moradora Maria Vitória é uma das 20 mil pessoas que vivem em Manguinhos e divide a casa com outras duas famílias. Ela é divorciada, paga aluguel e mora com três filhos. A auxiliar de serviços gerais, que também trabalha com costura, plantou um terreiro onde cultiva jiló.

Colega de canteiro da Maria Vitória, Juarez Faria, que veio de Minas Gerais, faz um turno a mais na horta. Depois do trabalho como pedreiro, eletricista ou pintor, ele vai descansar no canteiro.

Embora recente, a produção de Manguinhos já começa a decolar. O pessoal tira produtos da horta de duas a três vezes por semana. A fartura vem de uma área que era extremamente degradável. Em uma comunidade com muitos moradores que passam dificuldade, a primeira produção é doada aos mais necessitados.

Manguinhos tem potencial para ser uma das maiores hortas comunitárias do Brasil. O presidente da associação dos moradores fica impressionado com os resultados do projeto. “Nunca imaginei na minha vida plantar, colher e comer tomate cereja na minha casa. É fantástico”, diz.

A moradora Luiza dos Santos é viúva de um alcoólatra, teve um filho assassinado e outro está preso em Niterói. Ela sofria com diabetes e pressão alta. O trabalho na horta caiu como uma benção. “Eu estou ótima, diabetes está tranquila, pressão está boa. Eu adoro colher”, diz.

No Rio de Janeiro, foram montadas 40 hortas com esse perfil. Oito delas não deram certo e sete já estão em condição de emancipação.

tópicos:
veja também
Shopping
    busca de produtoscompare preços de