Rio

Moradores pedem para sair da Vila Autódromo

Protesto foi em frente ao prédio da prefeitura, na Cidade Nova
Moradores da Vila Autodromo, na Zona Oeste, protestam em frente à prefeitura Foto: Pedro Kirilos / Agência O Globo
Moradores da Vila Autodromo, na Zona Oeste, protestam em frente à prefeitura Foto: Pedro Kirilos / Agência O Globo

RIO - Cerca de cem moradores da favela da Vila Autódromo — tratada pelos movimentos sociais como uma espécie de simbolo da resistência contra remoções de comunidades carentes da cidade — fizeram um protesto na tarde desta quarta-feira em frente à prefeitura. Apesar da garantia do município que esses moradores não vão precisar deixar suas casas por causa das obras dos BRTs Transcarioca (Barra - Aeroporto Tom Jobim) e Transolímpico (Barra-Deodoro) e do Parque Olímpico de 2016 na Barra da Tijuca, eles foram pedir ao prefeito justamente o contrário: que sejam reassentados no Parque Carioca, um condomínio do Minha Casa Minha Vida em construção a dois quilômetros da comunidade, que terá 900 apartamentos. Os manifestantes fazem parte de um grupo de 142 famílias que também querem se mudar da Vila Autódromo.

— Foi uma luta inglória, irreal, pedir para ficar em um local degradado, cheio de poeira, com esgoto a céu aberto. A realidade agora é o Parque Carioca — disse a contadora Alessandra de Oliveira, que mora há 28 anos no local.

As famílias que participaram do protesto já tinham se inscrito na subprefeitura da Barra da Tijuca para uma espécie de “fila de espera” de apartamentos do condomínio popular. A ideia da prefeitura é que no empreendimento sejam reassentados moradores de áreas de risco de outras comunidades.

À noite, uma comissão de sete moradores foi recebida pelo prefeito Eduardo Paes em seu gabinete. Paes pediu às famílias que fizessem um pedido formal por escrito que desejam sair.

— Eu fiquei surpreso ao saber que havia uma manifestação em frente prefeitura pedindo pedindo para que sejam reassentados. Apenas expliquei que gostaria de ter essa proposta formalizada para tomar a decisão — disse Paes.

Ao todo, cerca de 600 famílias vivem na comunidade. Destas, 278 terão que ser obrigatoriamente reassentadas por causa das obras. A previsão é que essas remoções ocorram no primeiro trimestre de 2014. Nas negociações com a Secretaria municipal de Habitação, 220 optaram por uma casa no Parque Carioca enquanto que 21 por indenizações — os valores variam conforme a qualidade do imóvel. Outras 27 ainda não aceitarma negociar a saída. Entre eles, está o presidente da associação de moradores, Altair Guimarães.

A polêmica sobre a permanência da Vila Autódromo se arrasta desde 1995. Na época, o ex-governador Marcello Alencar distribuiu aos moradores títulos de posse válidos por 99 anos e uma liminar impediu que a prefeitura removesse a comunidade. A retirada da favela voltou a entrar em discussão às vésperas dos Jogos Pan-Americanos de 2007. Há três anos, a prefeitura comprou por R$ 20 milhões um terreno na Estrada dos Bandeirantes para reassentar todos os moradores de baixa renda num condomínio do Minha Casa Minha Vida. Em princípio, a prefeitura não concordava em discutir a permanência da comunidade, mas tudo mudou após as manifestações de junho.

Nos últimos meses, a prefeitura passou a discutir a possibilidade de manter parte dos moradores no mesmo lugar. O município, porém, só não concorda em conversar com um grupo de moradores de classe média que mora às margens da Lagoa de Jacarepaguá, que também devem ser removidos.