Economia

Cenário externo leva dólar a R$ 2,257, maior nível em um mês

Com risco de pedir recuperação judicial, OSX fechou em alta

RIO - Dados melhores que o esperado da economia americana, acompanhados de resultados decepcionantes da produção industrial e da balança comercial no Brasil, levaram o dólar a fechar em alta de 1,02%, a R$ 2,257 para venda, no maior patamar desde 27 de setembro deste ano.

De acordo com Vladimir Caramaschi, estrategista-chefe do banco Credit Agricole no Brasil, o avanço do índice ISM, espécie de prévia da atividade industrial, para 56,4 pontos em outubro, sendo que a média projetada pelo mercado era 55 pontos, ajudou a reforçar sinais de recuperação da economia dos EUA.

Essa melhora sugere maior possibilidade de que a redução dos estímulos monetários, com as compras de títulos públicos pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano), sejam feitas antes do que o mercado esperava. Indicadores da economia brasileira também não ajudaram.

A balança comercial registrou déficit de US$ 224 milhões em outubro, o pior para o mês desde 2000. Na quinta-feira, tinha sido divulgado déficit fiscal recorde no setor público consolidado, de R$ 9,048 bilhões, o maior desde dezembro de 2001. A piora nas contas externas e no quadro fiscal aumentou os temores de um rebaixamento do rating soberano do país, de acordo com Caramaschi, o que faz estrangeiros diminuírem a concentração de recursos em ativos brasileiros.

- As notícias domésticas não ajudaram. Tem que ver se o Banco Central adota uma iniciativa mais agressiva para conter o câmbio. A tendência lá fora parece ser uma continuidade de pressão, de valorização, no dólar - disse Vladimir Caramaschi, estrategista-chefe do banco Credit Agricole no Brasil.

Outra contribuição para aceleração do dólar veio da redução da posição do Banco Central em cerca de US$ 2,4 bilhões no mercado futuro. Esse é o volume financeiro aproximado de contratos de swap cambial que não foram rolados (renovados) pelo Banco Central e vencem nesta sexta-feira. Assim, permanecem em circulação cerca de US$ 63 bilhões em swap cambial para tentar segurar a valorização da moeda americana.

- Dados melhores que o esperado da economia americana levam o mercado a considerar mais chance de o Fed diminuir os estímulos - disse Rostagno.

No primeiro pregão fora do Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), as ações ordinárias (ON, com voto) da OGX Petróleo, do empresário Eike Batista, dispararam com alta de 7,69%, a R$ 0,14, sob bastante especulação com o rumo da negociação com os credores.

Analistas também veem uma valorização forçada por compras de investidores que apostavam a descoberto na queda dos papeis e tiveram de comprar ações a qualquer preço ao encerrar o aluguel do ativo. Na quarta-feira, a petrolífera protocolou pedido de recuperação judicial para ganhar tentar mais tempo e vantagens para renegociar dívidas de R$ 11,2 bilhões.

- Esse movimento de alta pode ser influenciado por investidores zerando aluguéis, mas não é nada em cima do noticiário, só especulação - disse Luiz Roberto Monteiro, operador da corretora Renascença.

Outra empresa do grupo de Eike, a OSX Brasil, deve pedir recuperação judicial  para renegociar dívidas de R$ 5,3 bilhões. OSX ON teve alta de 20%, a R$ 0,54. Para operadores, há especulação de que Eike venha a aportar recursos na empresa para aliviar o caixa da companhia.

Entre as empresas de Eike que ainda permanecem no Ibovespa, MMX ON apresentou alta de 2,83% e LLX ON subiu 1,69%. Fora do índice, CCX ON ganhou 3,38%, enquanto Eneva ON recuou 5,77%.

Sem OGX no índice, o Ibovespa fechou em baixa de 0,44%, aos 54.013 pontos, puxado principalmente pela queda dos papeis de Petrobras após uma sequência de altas.

Também predominou para o sentimento negativo a divulgação de dados melhores que o esperado da atividade industrial nos EUA.

No caso de Petrobras, investidores reforçaram vendas de ações da estatal para embolsar ganhos depois de uma longa sequência de valorização, segundo analistas. Também surgiu receio de que o governo rejeite a metodologia proposta pela direção da Petrobras para reajuste de combustíveis e permita somente uma elevação dos preços na quantidade necessária para não impactar a inflação medida pelo IPCA, conforme revelou reportagem do GLOBO nesta sexta-feira.

- Parte do mercado confiava em um reajuste acompanhado de nova metodologia e pode ter se decepcionado - disse Luana Helsinger, analista da corretora GBM.

Entre as ações mais negociadas do Ibovespa, preferenciais (PN, sem voto) da Petrobras caiu 2,50%, a R$ 19,85, e Vale PNA subiu 1,82%, a R$ 33,44.

Entre os papéis de fora do Ibovespa, um destaque foi a valorização das ações do Bicbanco. Papéis ordinários (ON, com voto) da instituição subiram 11,11%, a R$ 8,20, enquanto papéis preferenciais (PN, sem voto) avançaram 6,66%, a R$ 8,00. A alta ocorreu um dia depois de ser anunciada a venda do controle da família Bezerra para o China Construction Bank (CCB) por R$ 1,62 bilhão. A venda vai exigir uma oferta pública de ações (OPA) para que acionistas minoritários possam vender papéis por R$ 8,90, mesmo preço embolsado pelos antigos controladores.

Esse mecanismo é conhecido como tag along . O preço final ainda está sujeito a ajustes. Em 23 de setembro, o Bicbanco publicou comunicado ao mercado negando que tivesse confirmação de negócios para alienação de controle. Foi uma resposta a ofício da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que mencionava notícias de jornais e cobrava esclarecimentos sobre uma eventual negociação.

- O mercado estava muito cauteloso com os fundamentos do banco. O negócio foi bom para quem comprou no curto prazo e acreditou que a empresa seria vendida - disse João Augusto Salles, analista da consultoria Lopes Filho.

No mercado de juros futuros, o rendimento dos contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) fechou em alta depois da divulgação da elevação de 0,7% da produção industrial em setembro, metade do esperado pelo mercado, e do avanço de 0,55% da inflação, medida pelo IPC-S, na última semana de outubro.

Mesmo com a piora da atividade industrial, a inflação persistente pode indicar uma necessidade de elevação maior da Taxa Selic, destaca Rostagno, do Mizuho no Brasil. Também influencia a alta dos rendimentos dos títulos públicos dos EUA. Os contratos DI com vencimento em janeiro de 2015 subiram de um rendimento de 10,57% para 10,67% enquanto os contratos com vencimento em janeiro de 2017 avançaram de 11,47% para 11,65%.

Com exceção da Bolsa de Londres, os mercados europeus fecharam em queda. O FTSE 100, de Londres, avançou 0,07%. O CAC 40, de Paris, caiu 0,31%, enquanto o DAX, de Frankfurt, retrocedeu 0,18%. O IBEX 35, de Madri, perdeu 0,40% e o FTSE MIB, de Milão, recuou 0,51%.