Economia

China: a missão de evitar a 'armadilha da renda média'

Vice-presidente de Academia de Ciências Sociais diz que meta é duplicar a renda da população até 2020

RIO – O vice-presidente da Academia de Ciências Sociais da China (Cass, na sigla em inglês), Zhao Shengxuan, afirmou que a grande missão da China no momento é evitar cair na armadilha da renda média. O fenômeno ocorre quando países de renda média não conseguem avançar em direção à uma renda mais elevada. Ao participar do seminário “Armadilha da Renda – Visões do Brasil e da China”, promovido pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas, ele citou medidas que são necessárias para fugir desse risco e apontou que a China tem muito a aprender com o Brasil.

- Nós temos condição de passar para a renda elevada. Esta é a grande missão: evitar cair na renda média. Os governantes chineses estabeleceram como meta duplicar a renda da população até 2020 para construir uma sociedade harmoniosa. O desenvolvimento é o caminho – disse Zhao.

Para ele, “o completo aprofundamento das reformas na China”, anunciado na semana passada na Terceira Sessão Plenária do Partido Comunista Chinês, será percebido nos próximos dez anos:

- Nos próximos dez anos, veremos as decisões da semana passada, que vão nortear o caminho que o povo chinês trilhará para sair da renda média. Será um novo mapa do desenvolvimento – afirmou.

Entre as medidas que apontou como importantes para evitar que a China permaneça apenas como país de renda média, estão o aprofundamento das reformas da economia, a busca de maior eficiência e de um crescimento baseado em tecnologia, proteção do meio ambiente e questões sociais, e a melhoria de qualidade de vida da população em aspectos como moradia, emprego e educação.

Na avaliação de Chen Changsheng, diretor do Departamento de Pesquisa Macroeconômica do Centro de Desenvolvimento de Pesquisa do Conselho de Estado da China, há riscos para o país cair na armadilha da renda média, mas esses são pequenos. O país asiático, segundo ele, tem vantagens como um crescimento econômico com participação de trabalhadores, a contínua possibilidade de urbanização, uma estratégia de reformas flexível e um custo de mão de obra qualificada em elevação, mas ainda menor que de outros países.

- De forma geral, estamos indo para o caminho dos países renda alta – disse.

Para Chen, a desaceleração do crescimento chinês é um fenômeno de médio e longo prazo e o país não deve voltar a taxas tão elevadas como se viu em anos anteriores.

- A versão oficial é que estaremos entrando numa fase de crescimento médio alto, de 7%, 8%. (…) Esta desaceleração chinesa não é vista como cíclica, é de médio, longo prazo. Podemos ver um reaquecimento, mas é de longo prazo. É muito difícil voltar a elevados índices de crescimento – apontou.

O seminário marca o lançamento do livro Armadilha da Renda Média, produzido em parceria pelo Ibre/FGV e pelo Instituto de Estudos da América Latina da Academia de Ciências Sociais da China (Ilas/Cass).