Edição do dia 10/12/2013

10/12/2013 10h19 - Atualizado em 10/12/2013 10h19

Estilista Gustavo Lins quer transmitir conhecimento de moda a brasileiros

Ele foi o primeiro do país a fazer parte do grupo da alta costura francesa.
Desafio de seus instrutores é produzir com qualidade e preço acessível.

O estilista brasileiro Gustavo Lins foi o primeiro do país a fazer parte do seleto mundo da alta costura francesa, um grupo formado por apenas 12 maisons, como Chanel e Dior. Em seu ateliê no bairro do Marais, em Paris, ele prepara suas duas coleções anuais: primavera-verão e outono-inverno. Em cada uma, investe cerca de € 100 mil. O dinheiro é gasto com viagens, pesquisas, matéria-prima e mão de obra. Além disso, tem o custo de produção de um desfile, que fica em torno de € 60 mil.

“A alta costura concentra a informação da marca e depois vai destilando. A Dior não vende roupa, mas vende a marca. Todo mundo quer ter um chaveiro, um lenço... Essa é a força da marca. A alta costura tem essa faculdade de formar opinião”, avalia Lins, que também tem uma marca de prêt à porter e vende para algumas lojas selecionadas em Paris e Milão.

O resultado de seis meses de trabalho árduo passa rápido na passarela: menos de dez minutos. Mas o esforço dá retorno. Cercado por câmeras de televisão, o costureiro consegue espaço na mídia de vários países. “Os principais veículos são a internet e a televisão. São as mídias que ocupam praticamente todo o espaço e isso permite atrair pessoas que não necessariamente conhecem moda”, destaca Nicolas dal Sasso, assessor de imprensa do estilista brasileiro.

Da arquitetura para a moda

Nascido e criado em Belo Horizonte, Gustavo Lins se formou em arquitetura, mas a paixão pela moda falou mais alto. Com o dinheiro da venda dos vestidos que fez para as colegas de turma irem à formatura, viajou para a Europa. O objetivo era estudar a obra de Gaudi em Barcelona, mas ele acabou se mudando para Paris.

Na capital mundial da moda, trabalhou como modelista em grandes grifes, como Louis Vuitton, Kenzo, Jean Paul Gaultier e John Galliano. “Durante 12 anos nessas grandes casas, aprendi a construir o pensamento, a fazer de uma palavra uma frase; de uma frase, um texto; de um texto, um projeto; de um projeto; um produto”, conta Lins.

Ele vendeu o apartamento em Paris e investiu € 1 milhão na própria marca. A recompensa profissional veio em 2011, quando ele se tornou membro definitivo da Câmara da Alta Costura Francesa. Antes disso, passou por um rigoroso processo de seleção e precisou do aval dos outros integrantes. “É um título que você não pode comprar, você só tem por mérito. É uma coisa que abre as portas para o mundo inteiro”, diz o estilista brasileiro.

Transmissão do conhecimento

Para ganhar fôlego e crescer, ele procura um sócio-investidor disposto a traçar com ele o caminho de volta para casa, mas sem largar o que construiu na França. “O Brasil tem condição de absorver essa técnica e precisa dar um salto na sua indústria de vestuário”, aponta Flávia Lins, irmã e sócia do estilista. Ela ressalta que o desejo de Gustavo Lins é fabricar peças a preços que todos os brasileiros possam pagar.

Depois de se aventurar pelos principais ateliês franceses e aprender na prática a profissão, Lins está formando instrutores na escola de moda do Senai de Belo Horizonte. O desafio é produzir roupas que vestem bem em grande escala. Hudson Guimarães Afonso foi um dos instrutores selecionados pelo próprio estilista. Só em 2013, ele foi três vezes à capital francesa para fazer estágio. “Lá, a gente vivenciou o dia a dia do ateliê, que é uma realidade totalmente diferente do que a gente está acostumado”, diz. Agora, ele transmite o que aprendeu para funcionárias do ateliê da marca mineira Patrícia Bonaldi.