Economia Defesa do Consumidor

Teste mostra falhas de segurança em cadeirinhas infantis e bebês-conforto

Os 11 produtos avaliados são aprovados pelo Inmetro, mas nenhum deles passou no teste de impacto lateral

Bebê-conforto Burigotto Tourin foi uma das melhores avaliadas, principalmente no quesito proteção lateral para a cabeça Foto: FOTO: Divulgação
Bebê-conforto Burigotto Tourin foi uma das melhores avaliadas, principalmente no quesito proteção lateral para a cabeça Foto: FOTO: Divulgação

SAO PAULO - Falta segurança às cadeirinhas brasileiras para bebês e crianças andarem de carro. Esta é a conclusão de um estudo feito pela Proteste - Associação de Consumidores em parceria com a Global NCAP com seis bebês-conforto e cinco cadeiras para crianças. O principal problema dos produtos foi identificado nos testes, realizados em laboratórios da Alemanha, de impacto lateral. Nesse quesito, nenhuma das nove marcas avaliadas superou o status “aceitável”.

Os onze modelos testados são aprovados pelo Inmetro no Brasil. Mas foram submetidos a avaliação com padrões internacionais, explicou Maria Inês Dolci, coordenadora institucional da Proteste. Entre as marcas submetidas ao teste estão Bébé Confort, Chicco, Maxi Cosi, Peg Perego, Burigotto, Galzerano, Infanti, Graco e Cosco.

— As crianças são os ocupantes mais vulneráveis do carro, por isso são os que devem ter mais segurança — frisou Ronald Froman, representante da Associação de Defesa do Consmidor holandesa e um dos que comandou os testes da Proteste.

Entre as cadeirinhas avaliadas a que teve pior desempenho foi a da marca Cosco, modelo Commuter XP, que ganhou apenas uma estrela em um ranking com cinco estrelas. O produto também é o que tem menor preço médio (de R$ 229 até R$ 429) entre todos os pesquisados. O nível de três estrelas é o mais visto nos produtos brasileiros (Graco Cadeira Nautilus, Burigotto multipla 123, Chicco Neptune, Galzerano Piccolina, Burigotto Tourin e Peg Perego Primo Viaggio Tri-fix). Receberam 4 estrelas, a melhor nota obtida, Bebe Confort StreetFix, Chicco Keyfit, Maxi Cosi Citi SPS e Infanti Star. Dentre as melhores avaliadas, a que tem melhor preço é a Infanti Star (de R$ 436,79 até R$ 499)

— Nos testes que fizemos notamos que quase não há proteção lateral para a cabeça das crianças aqui no Brasil. É preciso estar atento a isso no momento de comprar o equipamento — alertou Froman, citando a marca Infanti como a com melhor desempenho no quesito.

Froman também citou a falta de precisão dos manuais de instrução dos produtos, sobretudo nas páginas que explicam como atar os equipamentos de conteção das crianças no carro. Presente no evento de divulgação da pesquisa, o diretor de avaliação da conformidade do Inmetro, Paulo Coscarelli, aproveitou para se comprometer a chamar os fabricantes de cadeirinhas e tentar resolver a questão dos manuais.

O modelo brasileiro previsto por lei de atar as cadeirinhas com o cinto de segurança, e não pelo sistema Isofix, no qual o equipamento é preso na carroceria do veículo, foi duramente criticado pela Proteste. Ressaltando que 50 mil pessoas morrem no trânsito por ano no Brasil, Maria Inês reforçou a necessidade de haver a atualização do sistema, já adotado em países europeus, Estados Unidos, Japão e até na vizinha Argentina.

— Nós temos uma defasagem enorme em relação a outros países — criticou Maria Inês.

A mudança par ao Isofix depende de uma alteração da legislação, mas também de um acerto entre as fabricantes de cadeirinhas e as montadoras. Froman reiterou diversas vezes que é “preciso ter um esforço conjunto”. Coscarelli, do Inmetro, lembrou que para os produtores das cadeirinhas já dominam a tecnologia Isofix e que não seria um problema fazer a alteração. Ele evitou, no entanto, cravar que o impasse ocorre por falta de interesse das montadoras.

— É uma questão de mercado. Está previsto para o ano que vem a solução deste assunto — completou Coscarelli.

O resultado dos testes, concluídos no terceiro trimestre deste ano, foram todos enviados aos fabricantes dos produtos. Nenhum deles, porém, respondeu à Proteste. Ainda assim segundo a associação, a decisão de levar as avaliações a público faz o consumidor refletir antes de realizar a compra.

Empresas dizem estar adequadas à legislação

A Galzerano disse, por meio de nota, "que os padrões deste ensaio são distintos dos utilizados para a certificação brasileira, a norma ABNT NBR 14.400, segundo a qual nosso bebê-conforto modelo Piccolina foi desenvolvido, testado e aprovado".

A Burigotto e a Pég-Perego informaram, em nota, que todas as cadeiras para automóveis que produzem ou importam "são certificadas de acordo com todos os requisitos de segurança da norma ABNT NBR 14.400, o que garante a plena segurança das cadeiras".

A Artsana, responsável pela marca Chicco, informou que todas as cadeirinhas da dela são certificadas de acordo com regulamentação brasileira, "através da portaria 38 de 29 de janeiro de 2007". E que os produtos "são submetidos a rigorosos testes em laboratório internacional, acreditado pelo Inmetro... atendem e excedem aos rigorosos parâmetros europeus de segurança".

A Cosco também argumenta que os critérios utilizados pela Proteste não correspondem aos padrões estabelecidos pela norma ABNT NBR 14.400, "principalmente a respeito do impacto lateral, que ainda não é um quesito definido nem mesmo em países cuja norma de cadeirinhas está à frente da nossa. Por fim, afirmamos que ele oferece a segurança necessária para seus usuários".  Bébé Confort e Maxi Cosi não se manifestaram por entender que seus produtos foram bem avaliados, obtendo a classificação Bom. A Infanti também não se manifestou.

A Graco informou que seus produtos passam por "rigorosos testes de segurança" nos EUA, Europa e Brasil. "Aqui no Brasil todas as nossas cadeirinhas foram certificadas pelo Inmetro, atingindo os resultados que estão na regulamentação do país".