24/06/2012 14h13 - Atualizado em 27/06/2012 16h57

Gaúchos celebram as festas juninas com bombacha e vestido de prenda

Crianças são incentivadoras do hábito da pilcha em festas escolares.
Costume é natural e saudável, dizem estudiosos e tradicionalistas.

Roberta LemesDo G1 RS

Gêmeos escolheram a roupa e disseram não aos trajes caipiras (Foto: Roberta Lemes/G1 RS)Gêmeos escolheram a roupa e disseram não aos
trajes caipiras (Foto: Roberta Lemes/G1 RS)

Embora tenha origem nos povos primitivos, que durante épocas de colheita homenageavam os deuses com danças e fogueiras, as festas juninas encontraram um solo fértil no Brasil quando aqui chegaram, trazidas pelos colonizadores europeus. Populares e transformadas em festa principal do calendário de alguns estados, no Rio Grande do Sul a comemoração é mantida viva pelas escolas e clubes, mas não reúne as multidões que mobiliza no Nordeste.

No Sul, a comemoração se transformou em mais uma data para celebrar a tradição gaúcha: as usuais vestimentas caipiras dão lugar aos vestidos de prenda, para meninas, e a lenço e bombacha para os meninos.

Na festa junina do colégio Província de São Pedro, de Porto Alegre, caipiras e gaudérios dividiam o espaço tranquilamente. Os gêmeos Luísa e Rodrigo Fehlauer Lauermann, de 6 anos, fizeram questão de usar pilchas. "Eu que escolhi meu vestido, azul é minha cor favorita", contou a menina, trajando uma peça trabalhada em renda branca. Já o irmão fez questão da bombacha, embora tenha preferido o conforto de um tênis, ao invés da tradicional bota.

Os pais dos gêmeos, Sérgio e Martha Lauermann, afirmam que foram as crianças que fizeram questão de usar os trajes típicos. "Eles escolheram, não teve história de vestir xadrez e chapéu de palha", disse o pai. "Em casa, costumamos incentivar esses hábitos tradicionalistas. Embora não frequentemos CTG, gostamos muito da cultura do estado e achamos importante passar isso para eles."

Maria Augusta e Anita usaram vestido de prenda (Foto: Roberta Lemes/G1 RS)Maria Augusta e Anita usaram vestido de prenda
(Foto: Roberta Lemes/G1 RS)

Igualmente, as pequenas Anita Matusiak e Maria Augusta Kirstein, também de 6 anos, passeavam orgulhosas em seus vestidos longos, com saias de armação e flores no cabelo. "Já usei a minha roupa no ano passado, mas gosto muito dela mesmo assim, porque é toda rosa", falou Anita.

A professora Renata Sagebin Schebella, de uma turma do 2º ano, contou que houve debate em sala de aula justamente sobre os hábitos juninos em cada região. "Temos alunos que vieram recentemente de São Paulo e eles contaram um pouco como são as festas lá. Foi uma integração muito bacana." Às vezes, as vestimentas caipiras e gaudérias se mesclam, com meninas vestidas de prenda e com o rosto pintado. Para os pequenos, é comum haver combinação da bombacha e do lenço no pescoço com o chapéu caipira.

Recorte gauchesco
Para a professora da pós-graduação do curso de História da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), Eloisa Capavilla Ramos, esse movimento é natural e bem-vindo. "Demos um recorte brasileiro para as festas pagãs e elas estão cheias de referências regionais. O caipira é o homem do campo e nosso homem do campo veste bombacha, então é normal que usemos nossos trajes mais representativos", destaca ela.

A professora aponta também as diferenças na culinária e nas danças. "Não há pinhão em todo o país, por exemplo. Como não temos aquela infinidade de farinhas produzidas no Nordeste. Da mesma forma a quadrilha e o xote. Mas assim funcionam as manifestações culturais, preservando as tradições de forma dinâmica", avalia.

Tradição perpetuada

Caipiras e gaudérios dividem espaço nos festejos (Foto: Divulgação/PlayPress Assessoria)Caipiras e gaudérios dividem espaço nos festejos
(Foto: Marcelo Matusiak/PlayPress Assessoria)

Diretor da Fundação Cultural Gaúcha (FCG) e do Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG), Rogério Bastos aprova o uso de pilcha durante as celebrações juninas. "A preservação de valores está intrínseco nos festejos folclóricos de cada sociedade", diz ele.

Bastos acredita que essas manifestações são fundamentais na preservação dos costumes. Para ele, o fato de o gaúcho usar trajes típicos durante as festas juninas é um sinal de respeito à cultura local. "O dia 29 de junho é de homenagens a São Pedro, padroeiro do Rio Grande do Sul. Então, usamos nossas roupas tradicionais. Acho que as festas devem mesmo ser comemoradas ao estilo de cada estado", pondera ele.

Bastos também se posiciona contra o que chama de "espetacularização do caipira", destacando o casamento na roça, no qual o noivo seria "forçado" a casar, e o hábito de pintar os dentes de preto como meios de ridicularizar o homem do campo. "Usar pilcha identifica a festa junina como celebração ao homem do campo do Rio Grande do Sul. Se não mantivermos essas tradições, nossa história será extinta", avalia.

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