09/02/2014 23h28 - Atualizado em 10/02/2014 09h14

Estagiário de advogado diz que ativista afirmou que homem que acendeu rojão era ligado ao deputado estadual Marcelo Freixo

Advogado recebeu ligação neste domingo e fez termo de declaração.
Marcelo Freixo nega conhecer o homem que acendeu artefato.

Do G1, com informações do Fantástico

Na tarde deste domingo (9), o advogado Jonas Tadeu e o estagiário Marcelo Mattoso prestaram assistência jurídica a Fábio Raposo, preso por admitir ter entregado a outro homem o rojão que atingiu e feriu o cinegrafista da TV Bandeirantes, na última quinta-feira (6), durante manifestação no Centro do Rio de Janeiro.

Mattoso recebeu uma ligação e a conversa foi ouvida pelo delegado que investiga o caso, que pediu ao estagiário que registrasse em depoimento o que foi falado nessa ligação. A Polícia Civil elaborou um registro chamado “Termo de Declaração”, em que Mattoso afirma que uma ativista informou que o homem que acendeu o rojão era ligado ao deputado estadual Marcelo Freixo, do PSOL. O deputado negou a acusação.

Veja o que diz o documento que está registrado na delegacia: "O estagiário Marcelo Mattoso, inquirido, disse que na data de hoje trabalhava como estagiário do Dr. Jonas Tadeu, durante a formalização do cumprimento do mandado de prisão de Fábio Raposo. Que logo após Fábio Raposo ter chegado à delegacia, recebeu em seu celular pessoal duas ligações de uma ativista e manifestante que se identificou como Sininho. E que ela perguntou se o advogado estava precisando de ajuda, pois teria advogados criminalistas à disposição. E que estaria indo com um grupo de manifestantes para a porta da delegacia para se manifestar como ativistas."

Em seguida o estagiário passou o telefone para o advogado Jonas Tadeu. Segundo a declaração, “a ativista informou ao advogado que o rapaz que acendeu o artefato que atingiu o jornalista era ligado ao deputado estadual Marcelo Freixo".

Em seguida, aparece uma frase truncada no documento. O texto diz que “o deputado teria à disposição de Fábio Raposo, caso ele precisasse”. A reportagem ligou para o advogado Jonas Tadeu, que esclareceu:  segundo ele, Marcelo Freixo teria advogados à disposição de Fábio Raposo. No fim do documento, está escrito que “Fábio Raposo já estava sendo assistido pelo doutor Jonas Tadeu e que o auxílio não se fazia necessário”.

Ativista foi até a porta da delegacia
O nome da ativista Sininho é Elisa Quadros. De fato, ela apareceu hoje na delegacia e houve um tumulto na chegada dela. Sininho chamou os jornalistas de carniceiros.
Um dos ativistas foi agredido por um cinegrafista ao ouvir dele a frase “tomara que os próximos sejam vocês”.

Elisa Quadros, conhecida como Sininho, deu entrevista na porta da delegacia. Ela confirmou que ligou para o estagiário Marcelo Mattoso, mas negou que tenha oferecido ajuda. “Liguei para o Marcelo”, disse. A ativista explicou por que fez a ligação. Disse que tinha falado com os pais de Fábio Raposo. “Liguei porque a gente falou com os pais dele, com a mãe dele e a gente queria saber o que estava acontecendo”, disse.

Questionada pela reportagem se havia feito alguma oferta, Sininho negou. “Não fiz oferta nenhuma”. Perguntada se ela propôs ajudar, ela disse que sim, mas negou que a ajuda fosse jurídica. "Mas não de forma jurídica, porque não sou advogada. Tem os advogados das manifestações, do movimento da DHHC e a gente queria saber quem estava assistindo ele e que a gente poderia acionar os advogados que inclusive já sabem do caso. E o Marcelo, assistente, falou que não precisava e pronto. A gente veio aqui para saber o que estava acontecendo”, afirmou.

Deputado se disse surpreso
Marcelo Freixo é deputado estadual pelo PSOL. Por telefone, se disse surpreso e contou que desconhecia o ocorrido. Depois de ler o termo de declaração prestado na delegacia pelo estagiário, concordou em gravar entrevista.

Marcelo Freixo afirmou que não conhece Fábio Raposo nem o homem que lançou o rojão que feriu o cinegrafista da TV Bandeirantes Santiago Andrade.

“Se qualquer manifestante ligou para alguém e disse que a pessoa que jogou a bomba tem algum laço comigo, vai ter que provar isso. Se não provar, seja quem for, será processado por isso. Agora tem que realmente confirmar se disse isso. Até agora há uma versão de um advogado, que não sei quem é, afirmando que num determinado telefonema alguém disse isso. Isso tudo é muito suspeito, num momento que isso precisa ser apurado porque não sei quais interesses poderiam estar por trás dessa informação”, disse o deputado.

O deputado confirmou que recebeu uma ligação da ativista Sininho na manhã deste domingo. Segundo o deputado ela teria dito “que havia risco, medo de que ele [Raposo] fosse torturado nas prisões. Pedindo ajuda caso fosse torturado. Evidentemente que nem ele nem ninguém pode ser torturado e isso a gente acompanha. Agora daí uma denúncia de que haveria ligação com quem jogou a bomba vai uma distância enorme. Tanto o advogado quanto ela vão ter que prestar depoimento e vão ter que comprovar o que estão dizendo, se é que realmente disseram isso”, complementa.

'É preciso fazer acareação', diz advogado
Em entrevista à Globo no começo desta noite, o advogado Jonas Tadeu e o estagiário Marcelo Mattoso confirmaram as informações que constam no termo de declaração. “Essa moça que eu não conheço perguntou meu nome. Eu dei o nome e ela alegou que estava ligando a mando do deputado e oferecendo uma equipe de criminalistas pra defender o rapaz, o Fábio. E que o outro menino também era companheiro dela. Foi isso que aconteceu”, disse Jonas Tadeu.

Questionado pela reportagem se Sininho afirmou que o rapaz que detonou o rojão era ligado ao deputado, o advogado afirmou: "ela disse que o rapaz que estava junto com Fábio era ligado ao deputado. Não estou afirmando que o deputado declarou isso. Acho que foi à revelia dele, acho que ele não tem conhecimento disso, acho que usaram o nome dele”.

Os advogados disseram que se for preciso, fazem uma acareação com a ativista Sininho. “É a minha palavra contra a dela. É uma questão de acareação. Eu estou afirmando pra você a verdade”, disse.

Delegado quer ouvir depoimento da ativista
Em entrevista por telefone, o delegado Maurício Luciano, que investiga o caso, confirmou as circustâncias em que o termo de declaração foi prestado pelo estagiário Marcelo Mattoso.

“O que aconteceu é que durante o depoimento do Fábio, o estagiário do escritório do advogado que o representava recebeu um telefonema em que ele diz que a interlocutora era a Sininho, uma suposta manifestante já conhecida. E ele me disse que o diálogo era que ela estava noticiando alguma coisa envolvendo o Fábio. Que estava ali porque iria prestar solidariedade ao Fábio e oferecer assistência jurídica, dizendo que estaria ali representando uma pessoa, um deputado, Marcelo Freixo, e reportou isso pra mim”, disse o delegado.

O delegado disse que vai convocar a ativista Sininho para depor. “Nós aproveitamos que ela estava nas imediações da delegacia e intimamos para prestar depoimento na terça-feira (11). Vamos fazer a oitiva da Sininho pra ver se ela confirma ou não aquilo que o estagiário afirma que ela teria dito”.

O delegado afirmou também que não descarta ouvir o deputado Marcelo Freixo.

“Nós temos só a declaração de um estagiário, portanto, é tudo muito inicial pra gente fazer qualquer juízo de valor. Essa declaração dele foi de uma maneira genérica, sem explicar que tipo de ligação seria essa. Se profissional, pessoal ou apenas teriam se encontrado em manifestações. Portanto, é muito prematuro fazer qualquer tipo de afirmação, se há ligação ou se não há. Por isso que os depoimentos são importantes e o da Sininho, na terça-feira, será fundamental para esses esclarecimentos”, concluiu.

Na noite de domingo (10), o deputado Marcelo Freixo disse, em rede social, que o advogado Jonas Tadeu Nunes defendeu o ex-deputado estadual Natalino José Guimarães, que foi denunciado na CPI das Milícias, presidida por Freio. O advogado afirmou ao jornal "O Globo" que defendeu Natalino apenas no processo de cassação do mandato na Assembleia Legislativa do Rio.

 

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