Economia

Renda do trabalhador cresce 8,3% e concentração cai, mostra a Pnad

As maiores altas foram registradas para os 10% mais pobres, com aumento de 29,2%, enquanto para os mais ricos o aumento foi de apenas 4,43%, entre 2009 e 2011

RIO — O rendimento médio mensal dos trabalhadores brasileiros cresceu 8,3% entre 2009 e 2011 e a desigualdade entre os mais ricos e mais pobres recuou. Isso porque o ganho dos 10% mais pobres aumentou 29,2% nesse período enquanto a renda dos 10% mais ricos subiu 4,43%, mostra a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad-2011), divulgada nesta sexta-feira pelo IBGE. Em valores nominais, a renda média do brasileiro ficou em R$ 1.345.

— No levantamento foi observada a redução do crescimento do rendimento médio conforme aumentava a faixa de rendimento — destacou a gerente da Pnad, Maria Lúcia Vieira.

A especialista em mercado de trabalho e transformação social Hildete Araújo relaciona a maior distribuição de renda ao aumento do salário mínimo.

— É um dos fatores que reflete em uma distribuição um pouco menos desigual – explicou.

Assim, o índice de Gini usado para medir a concentração de renda caiu de 0,518 em 2009 para 0,501 em 2011. Quanto mais perto zero estiver o índice, menor a desigualdade.

O diretor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Carlos Frederico Rocha, destaca o aquecimento do mercado de trabalho:

— O crescimento da economia pode ter feito com o que os salários da base cresçam mais do que o topo. A construção civil cresceu muito, por exemplo, aumentando vagas para mão de obra pouca especializada — avaliou.

Desigualdade só aumentou no Norte

A região Norte foi a única que apresentou elevação do índice de Gini, de 0,488, em 2009, para 0,496, em 2011. Segundo o IBGE, isso ocorreu porque no norte do país os maiores aumentos salariais não ocorreram nas faixas mais baixas de rendimentos, como nas demais regiões. O maior ganho ficou com os 10% da população que tem renda mais alta, cujos salários aumentaram em média 7,6%. Já entre os 10% de menor renda, os salários encolheram 4,3% no ano passado na comparação com 2009.

Na avaliação do economista Carlos Frederico Rocha, a zona franca pode ter contribuído para o resultado. — Houve crescimento muito grande da zona franca, e pode ter sido mais intensivo em mão de obra especializada. E, com isso, tem aumento de salários mais altos — disse.

Em todas as demais regiões, o índice caiu, sendo que a queda mais expressiva foi na região Sul, de 0,482 para 0,461, no mesmo período de comparação. As regiões Nordeste e Centro-Oeste apresentaram os maiores índices em 2011, 0,522 e 0,520, respectivamente, e a região Sul, o menor.

Mesmo tendo ficado menos concentrados, a maior parte dos rendimentos no Brasil ainda estava nas mãos de uma pequena parcela da população: 41,5% do total das remunerações estão concentradas nos 10% da população ocupada que detém os maiores rendimentos. Em 2009, 42,5% dos ganhos estavam nas mãos dos 10% com os maiores rendimentos.

Por outro lado, os 10% da população ocupada com os rendimentos mais baixos ficaram com 1,4% do total dos salários no ano passado. Em 2009, essa proporção era de 1,2%

No que se refere à diferença de sexos, os homens continuam recebendo salários bem mais gordos que as mulheres. O rendimento médio mensal dos homens foi de R$ 1.417, enquanto o das mulheres foi de R$ 997, o que equivale a 70,4% do rendimento de trabalho dos homens. Em 2009, essa proporção era de 67,1%.

Desemprego atinge menor nível em cinco anos

Após o encolhimento da economia em 2009, em razão da crise econômica mundial, o país registrou, além do recuo na concentração de renda, queda no desemprego, aumento da taxa de ocupação e do número de empregados com carteira assinada, atestou a Pnad.

O desemprego no ano passado ficou em 6,7%, o menor índice registrado nos últimos cinco anos. Foram 6,7 milhões de pessoas sem trabalho, 1,6 milhão de desempregados a menos do que em 2009, quando a taxa chegou a 8,2%.

Em relação à pesquisa anterior, todas as regiões apresentaram queda no índice, com destaque para a região Sul, com redução de 28,2%, e a menor taxa de desemprego, 4,3%. O segundo maior recuo foi a região Centro-Oeste, com 24%, próximo ao do Sudeste, que registrou queda de 21,3%.

As regiões Norte e Nordeste foram as que apresentaram as menores quedas, de 13,8% e 13%, respectivamente, sendo que o Nordeste foi o que registrou o maior índice de desemprego, de ,7,9%.

— Se usar as Pesquisas Mensal de Emprego (PME) como referência, já mantínhamos taxa de desemprego baixa, mesmo com a redução do crescimento. Percebemos uma maior rigidez entre o momento de desaceleração e o momento em que se despede o funcionário. Toda vez que a economia cresce acima de 1,7%, aumenta o nível de emprego – disse Rocha.

Apesar da queda, alguns grupos encontram maior dificuldade de inserção no mercado de trabalho, segundo o IBGE. Mais da metade dos desocupados eram mulheres, com 59,0%; 57,6% eram pretos ou pardos; 53,6% não tinham completado o ensino médio; 35,1% nunca tinham trabalhado e 33,9% eram jovens entre 18 e 24 anos de idade.

— O índice de desemprego sempre foi maior para as mulheres, embora o mercado de trabalho seja mais dinâmico para esse grupo e com maior taxa de entrada — afirmou Hildete Araújo

Mercado de trabalho mais formal

O IBGE também mostrou que o número de trabalhadores com carteira assinada no setor privado ficou em 33,9 milhões, um aumento de 11,8% em relação a 2009. Em termos percentuais, 74,6% deles tinha registro em carteira, contra 70,2% em 2009.

Dos 93,493 milhões de brasileiros ocupados acima de 10 anos de idade, 50,427 milhões tinha o trabalho registrado, isto é, 53,93% dos trabalhadores.

Os números, porém, variam de uma região para a outra. No Sul e Sudeste, a proporção de trabalhadores com carteira assinada entre os empregados do setor público ultrapassou 80%. Nas regiões Norte e Nordeste, no entanto, era inferior a 60%.

Também cresceu o número de trabalhadores com registro no CNPJ. Segundo a pesquisa, 15,6% dos trabalhadores por conta própria, isto é, 3,1 milhões dos 19,6 milhões, têm registro no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ) da Receita Federal. Em 2009, este percentual era de 14,0%.

População ocupada aumenta

O total de pessoas ocupadas cresceu de 1,1% entre 2009 e 2011, somando 99,1 milhões de trabalhadores, num universo de 148,9 milhões de pessoas com idade ativa (15 anos ou mais). Todas as regiões tiveram aumento no percentual de ocupados, exceto o Nordeste, que registrou queda de 0,9% na comparação com a pesquisa anterior.

Na região Norte, a população com emprego cresceu acima das demais regiões (3,7%). Já no Sudeste, onde estavam concentrados cerca de 43% dos trabalhadores do país, houve alta de 1,6%.

A queda no Nordeste é significativa se comparada com as outras regiões, segundo o professor de Economia Industrial da UFF José Eduardo Castelato.

— Mesmo com todo o arranco que deu nos últimos anos, o Nordeste é sempre a economia mais débil. Pode ter tido uma desaceleração dos investimentos, principalmente em infra-estrutura — afirmou Castelato.

O economista Carlos Frederico Rocha relaciona o recuo na região ao programa Bolsa Família:

— Uma possibilidade é a redução do impacto do Bolsa Família, que gera renda e emprego. O programa no Nordeste pode não ter apresentado o mesmo desempenho que nos períodos anteriores – explicou.

A Pnad investiga os temas de habitação, rendimento e trabalho, associados a aspectos demográficos e educacionais. Foram ouvidas 358.919 pessoas em 146.207 domicílios. A pesquisa começou em 1967 apenas na área do Rio de Janeiro, e na atualidade é realizada nacionalmente, por meio de uma amostra de domicílios.