Saúde

Pediatras e psiquiatras unidos pelo diagnóstico precoce do Autismo

Dia da conscientização sobre a síndrome é marcado por abertura de clínica-escola e parceria para ampliar tratamento na infância

Dia Mundial de Conscientização do Autismo é marcado por parceria inédita entre pediatras e psiquiatras
Foto: StockPhoto
Dia Mundial de Conscientização do Autismo é marcado por parceria inédita entre pediatras e psiquiatras Foto: StockPhoto

RIO - Desde a criação do Dia Mundial de Conscientização do Autismo, há sete anos, os familiares de portadores da síndrome têm algumas conquistas a celebrar. Este ano, o 2 de abril está sendo marcado pela inauguração da 1ª clínica-escola para autistas no Brasil e por uma parceria inédita entre as sociedades brasileiras de Pediatria e Psiquiatria que promete aumentar em 40% o diagnóstico e tratamento precoce da síndrome no país.

Os pediatras começam a receber treinamento este ano para identificar pequenos sintomas de autismo antes dos 2 anos de idade. Eles receberão um questionário da Sociedade Brasileira de Psiquiatria que deverá ser feito aos pais para medir o desenvolvimento cognitivo da criança.

- A ideia é que os pediatras sejam capazes de perceber os sinais e encaminhar as crianças para a avaliação mais aprimorada. Baseado em modelos internacionais, notamos que este encaminhamento antes dos 2 anos aumenta em 88% o prognóstico - conta Fábio Barbirato, chefe do Departamento de Psiquiatria da Infância e Adolescência da Santa Casa de Misericórdia do Rio e membro da Academia Americana de Psiquiatria Infantil.

A intenção é criar algo parecido com a curva azul e rosa já utilizada pelos pediatras para saber se a criança está dentro ou fora da curvas de crescimento e peso. Se a criança estiver fugindo da curva do desenvolvimento cognitivo - que leva em conta memória, linguagem e principalmente atenção e sociabilização - ela deve ser encaminhada para um profissional especializado

- A perspectiva é que nos próximos dois anos haja um aumento de 40% no diagnóstico precoce da doença, o que dá qualidade de vida e maior autonomia mais para frente - explica Barbirato. - Muitas vezes o tratamento não é tão complicado. Complica quanto mais tarde é o diagnóstico, pois a intervenção precoce de um fonoaudiólogo, por exemplo, aumenta desde cedo a sociabilização da criança.

Somente no Brasil, o Movimento Família Azul - criado por Berenice Piana di Piana, mãe de um jovem autista de 19 anos - estima que existam 2 milhões de autistas. Apesar da quantidade de portadores da síndrome ser grande, foi somente em 2012 que Berenice e outros pais puderam comemorar a conquista da Lei Federal 12764/12, que garante a matrícula de autistas na rede regular de ensino de todo o país.

Nesta terça-feira, mais uma vitória: o Família Azul inaugurou a primeira clínica-escola para autistas do Brasil, em Itaboraí, no Rio. A escola funcionará como triagem para casos mais graves da doença. Com capacidade para atender 100 autistas, o colégio irá preparar as crianças para o ensino regular, oferecendo psicólogos, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais e neuropediatras.

- A inauguração desta escola representa um grande avanço para as famílias de autistas. Hoje no Brasil há uma legião de adultos autistas que nunca foram tratados. Poucas pessoas sabem lidar com a síndrome e por isso a clínica-escola é importante, especialmente no esclarecimento às famílias e formação de profissionais das áreas de saúde e educação - afirma Berenice.

O espaço será mantido pela Prefeitura de Itaboraí, por meio das secretarias de Educação e Saúde, e também terá um centro de capacitação de profissionais que lidam ou pretendem lidar com portadores da síndrome.