Edição do dia 24/04/2014

24/04/2014 16h53 - Atualizado em 24/04/2014 16h53

Artistas de rua utilizam espaço público em busca de reconhecimento

Malabaristas e músicos são alguns anônimos que tentam transformar a rua em palco. Em busca de visibilidade, muitos artistas entram no mundo virtual.

Artista é o que não falta nas ruas das cidades mundo afora. São malabaristas em sinais de trânsito, músicos dos mais variados estilos para plateias dos mais diferentes gostos. Estátuas vivas, que encaram os mais diversos personagens, e desenhistas, pintores, que trabalham ao ar livre e expõe as suas obras fazendo do espaço público a sua galeria.

E o que acontece muitas vezes: na correria passamos batido, mesmo com todo o esforço dos artistas para chamar nossa atenção.

“Que é cansativo é, cansa muito ficar subindo e descendo toda hora, mas é um dinheiro suado, gostoso, estar fazendo o que eu sei fazer”, conta o artista Jean Macedo.

Jean Macedo tem 18 anos e, desde os 11, passa, em média, seis horas por dia em um sinal de trânsito. Ele tem 40 segundos de espetáculo: restam mais 20 segundos para passar o chapéu enquanto o sinal está fechado para os carros. Entre uma cena e outra, o intervalo é de apenas 1 minuto. E tudo começa outra vez. Ele repete este ciclo aproximadamente 400 vezes por dia.

No fim, o que faz ele pensar que valeu a pena é o foco no futuro. “Ficar na rua para sempre ninguém quer ficar, né? Tenho que estudar, fazer uma faculdade, construir uma família”, explica.

Para Ronald dos Santos, que é ator e trabalha como estátua humana, mesmo convivendo com a agressividade dos centros urbanos, a motivação vem dos pequenos gestos do público.

“Os sorrisos. As pessoas que vêm cabisbaixas, tristes, e quando olham para mim e dão aquele sorriso eu sinto a alma do sujeito se levantando. Ver um sorriso de uma criança, sentir um abraço, isso me dá energia para ficar aqui”, diz Ronald.

Mas é claro, que o que conta mesmo, é o dinheiro no bolso no fim do mês, afinal, é da arte que esses personagens da cidade tiram o sustento.

“As pessoas, a maioria das vezes, elas me dão pelo coração delas, não pelo trabalho que eu estou fazendo. Poucos conseguem perceber o meu trabalho, poucos”, afirma o guitarrista Maza.

Este é um ponto crítico para quem trabalha na rua: o reconhecimento. O guitarrista Maza não trabalha lá por opção. Em tempos mais difíceis, já morou na rua e sentiu na pele como o olhar do outro interfere diretamente no seu trabalho. Hoje, consegue se sustentar com a arte que produz e, para isso, o anonimato não é um aliado.

“A partir do momento que você não vai a um estúdio, emissora, fazer um teste, um programa de calouros, as pessoas têm dúvidas das sua competência. Será que esse cara é bom? Agora eles estão vendo vocês me filmarem, muitos estão passando e ‘ah tão filmando ele’. Talvez eu ganhe até uns trocadinhos, depois que vocês se forem, mas também é momentaneamente. Chega amanhã volta tudo ao normal: volto a ser um anônimo”, lamenta Maza.

Para conseguir mais visibilidade, muitos artistas aliam o trabalho na rua com outros espaços, como ateliês e o mundo virtual. O desenhista Gabriel Masias trabalha há sete anos no Centro do Rio e teve que se adaptar às exigências do público.

“Antes elas me traziam uma foto e queriam fazer a foto. Traziam uma foto física, impressa. Mas agora as pessoas me enviam várias fotos para eu escolher pelo WhatsApp, pelo e-mail. Eu trabalho não olhando mais para uma foto, eu trabalho olhando para a tela do computador. Já não uso mais a lupa, uso o zoom da tela”, conta o desenhista Gabriel Masias.

É árdua a luta por um lugar ao sol. Isso em qualquer profissão, mas quando o assunto é arte de rua, o que fica é a forma como ela te toca, te arranca um sorriso ou convida para uma reflexão no meio do caos da cidade.

“Batalha eu já perdi bastante, mas a guerra eu não vou perder”, afirma Maza.