Rio

‘Parecia que a polícia não queria me prender’, diz traficante Nem

Ex-chefe do tráfico da Rocinha prestou depoimento à Justiça do Rio em videoconferência nesta segunda-feira

Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem, ao ser preso, em novembro do ano passado
Foto: Reuters
Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem, ao ser preso, em novembro do ano passado Foto: Reuters

RIO - O traficante Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem da Rocinha, afirmou na tarde desta segunda-feira, durante depoimento à Justiça do Rio, que já havia tentando se entregar em uma ocasião anterior ao episódio no qual foi encontrado dentro da mala de um carro, com R$ 60 mil. Na ocasião, ele alegou que estaria indo se entregar na 15ª DP (Gávea).

— Parecia que a polícia não queria me prender, pois sempre diziam que só aceitariam caso eu delatasse os companheiros —, disse Nem, em depoimento.

O traficante foi ouvido através de videoconferência em dois processos criminais a que responde na Justiça do Rio. Segundo o site do jornal “Extra”, Nem foi interrogado novamente a pedido de sua defesa, pois no momento anterior das ações, ele preferiu ficar em silêncio.

Nas duas audiências, Nem usou o mesmo discurso. Ele confessou que se associou ao tráfico entre 2000 e 2004 para pagar uma dívida com o chefe do tráfico na comunidade na época, Luciano Barbosa da Silva, o Lulu. Nem disse que pegou R$ 24 mil emprestados para custear um tratamento para a filha, diagnosticada com uma doença rara, que demandava cuidados especiais e a implantação de cateter, o que estaria fora das suas condições financeiras.

O traficante contou que prestou serviços à comunidade em nome de Lulu, mas em 2004, ao conseguir pagar a dívida, saiu da Rocinha e morou por três anos na Paraíba. Ele só teria voltado ao Rio em 2007, ao saber que estava sendo processado.

Durante um dos interrogatórios, questionado sobre a amizade mantida com Vanderlan Barros, o Feijão, ex-presidente da Associação de Moradores da Rocinha, morto na comunidade em março deste ano, Nem afirmou que Vanderlan é o padrinho de sua filha e somente ajudou sua mulher a legalizar o salão de beleza de que é proprietária na Rocinha.

O traficante disse, ainda, que sua renda vinha do aluguel de quatro quitinetes construídas com as economias do tempo em que trabalhou como ajudante de pedreiro, que alugava por R$ 350 cada.

Em relação aos seguranças armados, o traficante falou que se tratavam de amigos que trabalhavam para o tráfico, mas o conheciam desde criança, já que nasceu e foi criado na comunidade da Rocinha.

No processo da 40ª Vara Criminal, Nem responde por tráfico de drogas e associação ao tráfico; já no da 36ª Vara Criminal, responde por tráfico de drogas, fabricação de objetos destinados a fabricação de drogas e associação para o tráfico. Os dois processos estão, agora, na fase de alegações finais.