Rio

Mãe pretende denunciar morte de dançarino DG à Anistia Internacional

Maria de Fátima Silva acusa PMs de torturarem Douglas Rafael
RI Rio de Janeiro (RJ) 24/04/2014 - Velório do dançarino Douglas Rafael da Silva Pereira, o DG, morto em tiroteio no Morro do Pavão Pavãozinho, em Copacabana, no Cemitério São João Batista . A mãe Maria de Fátima velao corpo de Douglas . Foto de Gabriel de Paiva/ Agência O Globo Foto: Gabriel de Paiva / Agência O Globo
RI Rio de Janeiro (RJ) 24/04/2014 - Velório do dançarino Douglas Rafael da Silva Pereira, o DG, morto em tiroteio no Morro do Pavão Pavãozinho, em Copacabana, no Cemitério São João Batista . A mãe Maria de Fátima velao corpo de Douglas . Foto de Gabriel de Paiva/ Agência O Globo Foto: Gabriel de Paiva / Agência O Globo

RIO - A mãe do dançarino Douglas Rafael da Silva Pereira, de 26 anos, o DG, encontrado morto no Pavão-Pavãozinho na segunda-feira, voltou a criticar a ação dos policiais na comunidade da Zona Sul do Rio. Durante o velório de DG, no Cemitério São João Batista, Maria de Fátima Silva disse que pretende viajar em breve para denunciar a morte do filho à  Anista Internacional. O rapaz foi enterrado nesta tarde, sob forte comoção. Houve passeata pelas ruas de Copacabana, com parentes e amigos exigindo Justiça:

- Não vou deixar a morte do meu filho cair no esquecimento. Agradeço muito aos moradores da comunidade. Se não fosse o grito deles, meu filho iria para um saco de lixo e seria queimado na Baixada Fluminense. Meu filho não morava no Pavãozinho, mas dizia "lá era o meu morro".

Bastante revoltada, ela voltou a afirmar que o dançarino foi torturado por policiais da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), e acrescentou que a intenção dos PMs era "sumir" com o corpo de seu filho.

- Depois da morte dele, quando os moradores descobriram que seu corpo estava na creche, houve um reforço policial para impedir o acesso deles. Além disso, dois policiais, com luvas cirúrgicas, entravam e saíam da creche muito nervosos. Eles pretendiam ensacar e sumir com o corpo do meu filho - denunciou Maria de Fátima.

Ela disse, ainda, que Douglas não estava num churrasco, como foi divulgado. Segundo ela, o dançarino estaria com a namorada, uma remadora:

- Meu filho não mora na comunidade, mas estava lá porque frequenta muito o local, onde tem uma filha e também onde fazia os ensaios do grupo de dança. Segundo relatos de amigos, parte da comunidade estava sem luz na hora em que ouviram tiros. Alguém alertou Douglas para que não saísse do local em que estava, mas ele disse que não era traficante e que iria embora para casa.

Maria de Fátima disse, ainda, que tentará se lembrar de momentos felizes do filho:

- Vou guardar na lembrança aquele menino alegre, com sorriso no rosto, distribuindo ovos de Páscoa para a plateia da Regina Casé. Não agora, com o rosto sem vida.

O pintor Paulo César Pereira, de 50 anos, pai de DG, passou mal após saber da morte do filho e precisou ser internado. Ele estava fora do Rio e só conseguiu chegar ao cemitério  por volta das 11h30m desta quinta-feira. Muito revoltado com forma brutal da morte de Douglas, Paulo César disse que nunca imaginou que o filho fosse morrer antes dele.

- Não é a ordem natural das coisas. Pensei que eu fosse morrer antes - disse ele, pai de mais sete filhos.

Paulo César também frisou que DG era um rapaz trabalhador, que deu muito duro para chegar onde chegou, e sonhava seguir adiante. O pintor quer justiça, mas disse que outros casos semelhantes ainda irão ocorrer.

- Se eles (os policiais) tivessem ferido acidentalmente, deveriam socorrer. Não fazer o que fizeram - acrescentou.

A apresentadora Regina Casé, que já havia lamentado a morte do dançarino de seu programa nas redes sociais, estava muito abalada no enterro.

- Se fosse alguém que eu não conhecesse, que nunca tivesse visto, eu ficaria transtornada. Mas, sendo ele um menino trabalhador, muito criativo, alegre, que sempre inventava coisas lindas - disse Regina, chorando. - Toda a família "Esquenta" está aqui. Ele era muito querido.

Usando suas contas no Twitter e no Instagram, a apresentadora do programa da TV Globo falou sobre a dor de perder o colega, usando uma imagem toda preta:

"Abraçados...,de roupa....,chorando.... adormecemos por algumas horas. Hoje o dia vai ser duro Apoiar e amparar sua família,a minha, a nossa... E procurar forças pra enterrar nosso menino e buscar coragem pra continuar... DG Vem que vem pra sempre pros nossos corações! (sic)", escreveu.

Larissa Ignássio,  de 20 anos, mãe da filha de 4 anos de Douglas, chegou ao velório vestindo uma camisa com a foto do dançarino. Ela contou que a criança ainda não sabe sobre a morte do pai. Por volta das 10h, cerca de 50 mototaxistas da comunidade do Tabajara chegaram ao velório levando uma coroa de flores. Antes de DG ser dançarino, ele foi mototaxista.