Edição do dia 28/09/2012

28/09/2012 22h31 - Atualizado em 01/10/2012 19h42

Costa da Croácia reúne mais de mil ilhas com paisagens diferentes

Para se conhecer a Croácia é preciso seguir pelos caminhos de terra e água. Ao longo da costa, são 1.185 ilhas.

Para se conhecer a Croácia é preciso seguir pelos caminhos de terra e água. Ao longo da costa, são 1.185 ilhas. Cada uma com uma paisagem diferente.

Navegamos pelas mãos de um experiente e falante marinheiro. Que nos guia ao longo de praias de pedra onde os croatas se isolam do mundo e, sem inibições, aproveitam o sol no corpo inteiro.

Para onde vamos? Vamos visitar um pedaço do paraíso, a Ilha de Prisnjak.

A pequena ilha, cercada por águas azuis, é um convite ao prazer.

Petra e Ivan são apaixonados por esse lugar. Eles vivem na República Tcheca e é a terceira vez que passam férias lá.

O antigo farol foi reformado e virou uma casa de hóspedes. Banheiro, cozinha, dois quartos. As acomodações são simples, mas com uma vista dessa, quem precisa de luxo.

A repórter Isabela Assumpção pergunta do que ela mais gosta na ilha. Da solidão, do silêncio. Tudo aqui é natureza e todas as pessoas precisam disso para viver. Só o que se ouve é o vai e vem tranquilo do mar. Bom, quase sempre.

Por mil euros, dá pra ser "dono" da ilha por uma semana. Difícil depois é ir embora. Petra quer olhar mais uma vez a praia tranquila onde se refez do cansaço de um ano inteiro de trabalho.

Não dá mais para adiar. É hora de Petra dar adeus ao paraíso. Um adeus com jeito de até breve.

Pra nossa equipe também é hora de ir embora. Ainda temos muito o que explorar nas ilhas da Croácia.

A paisagem agora é rochosa, quase um deserto. Nosso destino é Pag, a ilha das mil e uma rendas.

A ilha é ligada ao continente por uma ponte. Aos pés da montanha, a cidade de pedra é recortada por becos onde mulheres cheias de histórias passam os dias bordando.

Fabijane chegou aos 87 anos, o marido já passou dos 90. Ela faz questão de mostras as rendas criadas pela filha. O casal é de uma simpatia contagiante. Dá vontade de ficar e conversar, mas, não é tão simples assim.

“É uma língua absolutamente impossível de a gente entender. Existem palavras quase que com só consoantes, sem vogal. Agora eles conversam com a gente como se a gente tivesse entendendo tudo, não é?”, contou a repórter.

Cenas que se repetem há séculos. Mas, como o mundo, as rendeiras de Pag também mudaram.

Aos 29 anos, Ivana Vidolin está mais para roqueira do que para rendeira. Pra quem duvida que tenha habilidade com a agulha, ela mostra mãos suaves, que trançam fios delicadamente.

Ivana vai desenhando suas teias. Às vezes leva horas pra fazer um pequeno pedaço, mas diz que vale a pena. Quando termina, se sente orgulhosa por ter conseguido.

A jovem tem até diploma. Fez curso na escola criada para manter viva essa tradição. As aulas acontecem no museu que relembra a arte de Pag desde a época do Renascimento.

Voltamos a caminhar pelos becos para ir ao encontro de dona Fani, uma das mais conhecidas rendeiras da cidade.

Ela aprendeu quando tinha 9 anos. Aos 85, continua com as mãos firmes e com olhos que enxergam detalhes. Essa mestra das rendas já ensinou muita gente, e quer tentar comigo.

“Olha, tem que acertar uns buraquinhos tão pequenininhos, uns furinhos na beirada, tão pequenininhos, que eu mal enxergo de óculos. Eu não sei como é que ela vê isso. Acho que é melhor a senhora continuar antes que eu estrague a sua renda. É linda, é linda”, disse Isabela.

Dona Fani fazia renda nas ruas, mas desde que ficou viúva, há quase meio século, só trabalha dentro de casa. E assim, de ponto em ponto, dona Fani espanta a solidão, espanta a saudade.

Deixamos as ilhas e voltamos ao continente. No nosso caminho, mais uma das curiosidades da Croácia. Você sabia que a segunda maior muralha do mundo fica lá? 5,5 mil metros de pedra montanha acima. Maior que ela, só a Muralha da China.

A imensa fortificação tem sete séculos de história e foi construída para impedir o avanço dos inimigos do passado. Hoje é apenas uma lembrança dos tempos de guerra. E não é a única.

Foi com os garbosos cavaleiros do antigo exército que a Croácia conquistou para sempre. O pescoço dos homens. O lenço que os guerreiros usavam virou moda na França. Depois, no mundo inteiro.

Hoje, a tropa que se exibe no centro de Zagreb é apenas um grupo de figurantes. Mas, a gravata, nunca mais os homens conseguiram se livrar dela.

Amada por uns, odiada por outros, na Croácia o acessório masculino tem status de produto de alta costura.

“Há é um exemplar de uma coleção tão exclusiva que só foram feitas quatro. Outra é feita com fios de ouro 24 quilates. Se você quiser ter uma igual, custa mais de R$ 800”, contou Isabela Assumpção.

Seja em cerimônias solenes, seja na rotina dos executivos, a gravata resiste. A moda dos antigos soldados está longe de virar peça de museu.

Falando em museu. O que um machado, um ursinho de pelúcia e um anão de jardim têm em comum? Resposta óbvia: nada. Mas lá tem. Os três objetos fazem parte de um acervo único no mundo: o do museu dos corações partidos. São testemunhas de histórias de amor desfeitas, fragmentos da vida de casais que se separaram.

Olinka Vistica e Drazen formavam um desses casais. Quando cada um escolheu seu próprio caminho, tiveram a idéia de criar o museu, hoje instalado no centro de Zagreb.

Olinka conta que eles não queriam terminar a relação de forma pouco amigável, esquecendo todas as coisas boas que tinham compartilhado juntos.

O coelhinho, que um dia fez parte da rotina dos apaixonados, foi escolhido para iniciar a coleção. Os amigos doaram outras peças e o acervo não parou mais de crescer. O anão de jardim que um dia voou para destruir o pára-brisa de um carro

O retrovisor que ela roubou quando viu o carro do namorado estacionando em frente "a casa da outra".

E o machado, então? Foi uma vingança e tanto. Depois da separação, quando a namorada voltou pra casa pra buscar a mobília, recebeu tudo em pedacinhos.

Agora, levante a mão quem nunca teve um amor desfeito, o coração partido?

O museu tem também um pequeno confessionário. As pessoas que quiserem podem, reservadamente, deixar por escrito o seu relato, a sua história, as suas dores, as suas mágoas. Em um livro enorme estão registros de pessoas do mundo inteiro, inclusive brasileiros, é claro, e essas com uma boa dose de otimismo. Vamos ver: “você partiu meu coração, eu me desmontei e já me reconstruí. A vida é assim, já me apaixonei de novo”. E outra: “já me separei duas vezes, mas isso não me fez desacreditar das relações. Ainda quero encontrar a minha metade, no Brasil ou em qualquer lugar do mundo”.