Apesar de ter condições para aguentar volatilidades externas causadas pela crise econômica mundial, o Brasil ainda não está a caminho de receber um aumento para a nota “A” em sua avaliação de risco de crédito, avaliou a agência de classificação Fitch Ratings, em evento sobre economias emergentes realizado nesta quinta-feira (18), em São Paulo.
A nota da Fitch para o Brasil atualmente é “BBB”.
“O Brasil tem espaço para subir, mas não achamos que está a caminho para ser ‘A’. O país ainda não tem o mesmo histórico que países com a nota ‘A’ possuem”, disse a diretora de soberanos da América Latina, Shelly Shetty. Ela citou inflação, baixa diversidade econômica, fraqueza na política fiscal e casos de corrupção entre os problemas a serem enfrentados no país.
“A economia brasileira não é tão diversificada, com alta dependência das commodities”, ressalvou. Shetty avaliou, ainda, que o país tem ainda muito a fazer com relação às finanças públicas, dizendo que elas são o “calcanhar de Aquiles” brasileiro.
“O Brasil tem gastos altos e pouco investimento. Nós vamos olhar para isso antes de avaliar uma mudança na nota do país”, explicou. A diretora afirmou que o desafio do Brasil é o oposto do da China, por exemplo, uma vez que precisa se distanciar do apoio no consumo e ir para o investimento - a economia chinesa,por sua vez, é muito baseada no investimento, apontou.
Proteções
A diretora afirmou, contudo, que o Brasil tem flexibilidade e proteções para enfrentar a crise econômica internacional. “Achamos que o país tem condições boas para aguentar a instabilidade”. Ela citou “colchões” de proteção brasileiros como reservas de US$ 370 bilhões e ativos externos em patamares elevados. “O Brasil tem melhorado a composição de sua dívida nos últimos anos”.
Tais fatores, na opinião de Shetty, colaboram para a atuação do país nos casos de volatilidade. “Se a retração for mais aguda, há como atuar, desde que a inflação seja contida."
“Se a economia voltar para o ano que vem para o crescimento de 4%, o Banco Central terá de ficar de olho na questão da inflação e calibrar sua política com cuidado. (...) Há a necessidade de reformas estruturais para aumentar a competitividade do Brasil, o que ajudaria o Banco Central a baixar as taxas por um período mais longo”, disse, referindo-se à política de redução de juros adotada pelo BC nas últimas reuniões do Comitê de Política Monetária.
A diretora apontou que a atual correção do patamar do câmbio no Brasil (com o dólar na casa dos R$ 2), tem ajudado na melhora da competitividade brasileira, mas fatores importantes a serem tomados são a reforma tributária, melhorias na infraestrutura e aumento da poupança e do investimento, entre outros.
“Temos visto anúncios na direção certa, mas os efeitos vão levar tempo”, disse. Recentes medidas do governo nesse sentido, por exemplo, são o pacote para a redução do preço da energia elétrica e concessões na área de infraestrutura.
Entenda a avaliação de risco de investimento
A avaliação de risco de investimento é um sistema de nota desenvolvido por agências de análise de riscos para alertar os investidores de todo o mundo sobre os perigos do mercado em que eles escolhem para aplicar seu dinheiro.
A partir da nota de risco recebida por determinado país, os investidores podem avaliar se a possibilidade de ganhos (por exemplo, com juros maiores) compensa o risco de perder o capital investido por causa da instabilidade do país em questão.
O principal benefício de o país se tornar "investment grade" é atrair grandes investidores de países desenvolvidos que, por regras dos seus estatutos, só podem investir em ativos considerados de baixo risco.
A classificação da Fitch tem 23 categorias. A principal, AAA, é atribuída a países como Alemanha, Estados Unidos e Suíça. A D, que não é atribuída a nenhum país, é a mais baixa. Países classificados abaixo da categoria BBB- são considerados de "grau especulativo".
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