Economia

Em Nova York, Dilma rebate críticas americanas ao Brasil e reclama da atuação dos países ricos contra crise

Presidente brasileira fez o discurso de abertura da 67ª Assembleia Geral da ONU

Presidente Dilma abriu nesta terça-feira a 67ª sessão da Assembleia Geral da ONU em Nova York
Foto: Richard Drew / AP
Presidente Dilma abriu nesta terça-feira a 67ª sessão da Assembleia Geral da ONU em Nova York Foto: Richard Drew / AP

NOVA YORK - Ao fazer o discurso da 67ª sessão da Assembleia Geral da ONU, em Nova York, a presidente Dilma Roussef mandou um recado aos Estados Unidos, que reclamaram das tarifas brasileiras para produtos importados e disse que as medidas não podem ser "injustamente classificadas como protecionistas".

— Não podemos aceitar que iniciativas legítimas de defesa comercial por parte dos países em desenvolvimento sejam consideradas protecionismo — disse a presidente.

Assim como em 2011, a presidente abriu o discurso falando da questão da mulher e voltou a atacar países desenvolvidos pelo que chamou de política monetária expansiva.

— Política monetária não pode ser a única reposta para a crise. Países desenvolvidos continuam com política monetária expansiva, o que agrava ainda mais o quadro recessivo global. As economias dos países emergentes não podem ser taxadas injustamente de protecionistas — disse Dilma.

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Segundo a presidente, “a valorização artificial das moedas (...) agrava ainda mais o quadro recessivo global".

— A opção por políticas fiscais ortodoxas agrava a recessão nas economias desenvolvidas com reflexo nos países emergentes, inclusive o Brasil.

A presidente ainda defendeu a necessidade de investimentos como resposta à crise econômica mundial e destacou as realizações do governo brasileiro, mesmo num cenário mundial adverso.

— Responsabilidade fiscal é tão necessária quanto medidas de estimulo ao investimento(...). Fomos impactados pela crise mas mantivemos o nível de emprego e continuamos reduzindo a desigualdade social e ampliando a renda.

A reunião, com representantes de 193 países, deve ser pautada pela crise na Síria e a Primavera Árabe. O Brasil abre tradicionalmente as sessões da Assembleia Geral, desde a criação da ONU, em 1945. Dilma Rousseff foi a primeira mulher fazer o discurso de abertura da assembleia, no ano passado. Na época, a presidente defendeu a criação do Estado palestino - um dos temas centrais da sessão em 2011 - e exaltou o papel da mulher na política internacional.

Antes do discurso, Dilma se encontrou com o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon. Não há outras reuniões agendas para esta terça-feira. Na segunda-feira, a presidente brasileira, que chegou a Nova York no domingo, se reuniu com o presidente da Comissão Europeia, o português José Manuel Durão Barroso. Os dois conversaram sobre a crise econômica na zona do euro.

Ban Ki-moon: tempo de distúrbio, transição e transformação

Na abertura da sessão, Ban falou de um “tempo de distúrbios, transição e transformação”. O secretário-geral da ONU fez um alarme para a comunidade internacional e disse que o povo hoje quer progresso e uma solução imediata, “uma esperança concreta de futuro”, afirmou o diplomata sul-coreano.

- Pessoas querem empregos e uma vida decente, mas o que ganham é a negação de seus sonhos e inspirações - disse Ban. - É nosso dever responder suas frustrações.

Sobre a Síria, Ban disse que a crise - que ele chamou de “calamidade” - é cada vez pior e não está mais limitada apenas a Damasco. O secretário-geral da ONU pediu que a comunidade internacional e o Conselho de Segurança apoie o enviado especial Lakhdar Brahimi.

- Brutais abusos de direitos humanos estão sendo cometidos, principalmente pelo governo, mas também por grupos da oposição. Eles devem ser punidos. É nosso dever colocar um fim na impunidade a crimes internacionais - disse Ban.

O discurso de Dilma será seguido pelo do presidente americano, Barack Obama, que deve alertar o Irã para as consequências de levar a cabo seu programa nuclear. A Assembleia Geral deste ano também deve ser dominada pelos protestos recentes no mundo islâmico contra o filme amador anti-Islã “Inocência dos muçulmanos”.