Cultura

Disney desmente origem latina de nova princesa, Sofia, the First

Personagem que estreia na TV americana no dia 18 esquenta a polêmica sobre a questão étnica nos EUA

De pele clara e olhos azuis, Sofia é filha da rainha Miranda e nasceu em um país fictício inspirado na Espanha
Foto: Divulgação
De pele clara e olhos azuis, Sofia é filha da rainha Miranda e nasceu em um país fictício inspirado na Espanha Foto: Divulgação

RIO — Menos de dez dias depois de propagar pelo planeta o lançamento de sua primeira princesa latina — a pequena Sofia, the First —, a Disney manda avisar que a alteza de cabelos castanhos, pele clara e olhos azuis no alto desta página é, na verdade, “uma menina de conto de fadas que vive num mundo de conto de fadas”. Não tem, portanto, nenhuma ascendência no mundo real.

Segundo Nancy Kanter, vice-presidente de programação e gerente geral da Disney Júnior, braço da empresa voltado para crianças com idades entre 2 e 7 anos, apesar de Sofia ser filha de uma personagem que se chama Miranda e que nasceu num país fictício inspirado na Espanha, ela não é latina. Em entrevista à CNN, Nancy atribui o equívoco cometido na divulgação mundial do filme e do seriado batizados com o nome da personagem (com estreia na TV americana no dia 18) ao produtor Jamie Mitchell. Ele teria se “equivocado” numa coletiva ao responder que Sofia era uma personagem latina. Aos olhos da Disney, nunca houve um posicionamento oficial nesse sentido.

Desde que foi anunciada, no último dia 19, Sofia é notícia. Primeiro, no Twitter, ganhou a hashtag #Latina Princess e figurou entre as informações mais comentadas dos Estados Unidos. Depois, quando virou capa da revista “Entertainment Weekly”, caiu em desgraça. Os primeiros a chiarem foram os membros da Coalizão Nacional de Mídia Hispânica (NHMC, na sigla em inglês). “A princesa é branca, tem olhos azuis e cabelos castanhos! Precisamos de mais heróis que sejam identificáveis”, declarou Alex Nogales, presidente da coalizão, em entrevista à Fox News latina. “Se vão promover os latinos, façam o favor de desenhar uma verdadeira latina.”

4,8 milhões de meninas

O fato de Sofia ter a voz de uma atriz branca (Ariel Winter) também agravou a situação. Era um sinal de que a nova personagem não teria sotaque. Foi aí que veio o desmentido oficial da empresa sobre sua etnia e que o caldo entornou de vez.

Sites como o da CNN e o Huffington Post acumulam nas matérias relacionadas a Sofia milhares de comentários que provam que a questão étnica ainda racha os americanos. “Ela não parece latina mesmo. Não carrega armas nem fala aquele espanhol incompreensível”; “Se fosse latina, teria mil filhos e um marido que bateria nela” e “Vocês querem uma princesa latina? Então apertem a tecla SAP!” foram algumas frases postadas na web nos últimos dias. No outro extremo, estão latinos mais brandos, gente que prega a ideia de que não existe um biotipo único capaz de representar o conjunto inteiro. Deles, saem frases como “Os argentinos são quase italianos!” e “As infantas da Espanha são todas louras!”.

Há anos o mercado latino aguarda uma princesa que o represente. Sofia se uniria a Pocahontas, a índia da Disney, a Mulan, a princesa oriental, a Tiana, a beldade negra, e a Jasmin, a árabe. Se se assumisse latina, teria mercado garantido, falando ao coração de um público de pelo menos 4,8 milhões de crianças. Segundo o censo americano de 2010, é esse o total de meninas hispânicas com idade até 9 anos.