25/10/2012 07h15 - Atualizado em 25/10/2012 16h57

Empresas 2.5 combinam foco em lucro com transformação social

Setor deve receber R$ 300 milhões em investimento em 3 anos.
Fundos focam negócios que dão retorno resolvendo problemas sociais.

Simone CunhaDo G1 em São Paulo

Um mercado ainda pouco conhecido, de empresas que estão no meio do caminho entre projetos sociais e negócios que buscam lucro, as empresas sociais devem receber investimentos de cerca de R$ 300 milhões nos próximos dois a três anos, segundo a Artemísia, instituição que trabalha como ponte entre investidores e empresários deste tipo de negócio.

Conhecido como setor “dois e meio”, essas empresas buscam lucro por meio de atividades que resolvem problemas e incluem uma parcela da população que tem maior dificuldade de acesso a certas estruturas e serviços. O 2.5 vem da posição que esses negócios ocupam: entre o 2º setor, das empresas que visam o lucro, e o 3º, das instituições sociais. Mas em termos legais e tributários, são empresas como qualquer outra.

Edgard Morato, sócio e fundador do Saútil (Foto: Divulgação)Edgard Morato, sócio e fundador do Saútil, vê o negócio social como 'ideologia lucrativa' (Foto: Divulgação)

É o caso do Saútil, uma espécie de “Google do SUS”, que organiza os serviços públicos de saúde disponíveis por CEP e em breve terá também os particulares com custo acessível à população de baixa renda. Para concretizar o negócio, os fundadores Edgard e Fernando colocam desde o ano passado dinheiro de outras empresas que têm no Saútil. “É um projeto de vida. Não é só criar uma ideologia lucrativa, de alguma maneira está contribuindo para a sociedade. É um fato tão importante quanto ter receita”, diz Edgard Morato, de 38 anos.

Formado em sua maioria por pequenas empresas e em início de negócio, o tamanho do mercado 2.5 é desconhecido, embora se tenha pistas que o impacto seja grande. A Saútil, por exemplo, tem 10 funcionários, mas impacta entre 90 mil e 100 mil usuários por mês. “Esperamos passar de um milhão por mês em 2013 e até 2016 impactar três milhões de vidas”, planeja Morato.

Fundos de investimento
O filão dos empreendimentos sociais tem atraído fundos de investimento “de impacto”, especializados em colocar dinheiro em negócios que dão lucro solucionando problemas sociais – em busca de retorno. No mundo, US$ 4 bilhões devem ter sido até setembro deste ano em negócios de impacto, segundo estudo do JP Morgan com 52 empresas do setor.

No Brasil, os fundos começam a se organizar. A Pragma, que tem uma divisão de investimento de impacto desde janeiro, tem R$ 60 milhões para serem investidos em negócios sociais nos próximos três anos, dos R$ 75 milhões que separou para o período. Outro fundo, o Vox Capital, pretende investir entre R$ 2 milhões e R$ 5 milhões até o fim do ano, além do que já destinou aos seis negócios em que investe desde 2009 – entre eles, o Saútil. Parte desse dinheiro passou pela Artemísia, que em dois anos fez a ponte de R$ 7 milhões em investimentos de fundos em 15 empresas e até o fim do ano quer chegar a R$ 10 milhões.

Os fundos têm formas diferentes de medir a rentabilidade do negócio, assessorar os empreendedores e escolher o foco dos investimentos – a Pragma, por exemplo, prioriza a área ambiental; a Vox, a de infraestrutura e educação. Em comum, eles têm o objetivo de formar um setor social no país e ganhar dinheiro com isso. “A gente investe em empresas que estão servindo populações de baixa renda”, diz Daniel Izzo, sócio da Vox. Mas não se trata de filantropia nem de empresas que tenham projetos ou departamentos de responsabilidade social.

“O impacto tem de estar diretamente relacionado ao produto ou negócio da empresa. Não é reduzir impacto negativo, mas sim ativamente buscar trazer impacto social positivo. A gente quer que dê dinheiro para mais gente investir”, diz Izzo.

Alternativa às ONGs
A possibilidade de ter retorno financeiro mudando realidades sociais se torna uma alternativa para o terceiro setor. “ONGs estão começando a migrar para o modelo de negócio social por ver que podem ter retorno e sustentabilidade nos negócios”, diz Rebeca Rocha, coordenadora no Brasil da Ande, que conecta empreendedores e outros atores da rede de negócios de impacto no Brasil por meio de investimentos entre US$ 10 mil a US$ 2 milhões.

É o que o Instituto Movere, que trata crianças e adolescentes com obesidade, resolveu fazer ao abrir uma empresa para vender a preços baixos, e para outro público, o serviço prestado gratuitamente a adolescentes da Grande São Paulo. Com a Aram, eles fazem parceria com empresas para tratar a obesidade em seus funcionários por meio do programa de nutrição, psicologia e exercícios físicos, e dão sustentabilidade ao projeto gratuito. “A ideia foi usar a expertise de oito anos em um negócio social, que também terá impacto grande, já que vamos atender a base da pirâmide a custo bem baixo e com excelência”, diz Vera Barbosa, presidente do Instituto Movere.

Instituto Movere (foto acima) aproveitou o conhecimento desenvolvido como entidade sem fins lucrativos no serviço que hoje presta a empresas em busca de lucro por meio da Aram (2ª foto) para viabilizar o projeto gratuito (Foto: Divulgação)Instituto Movere (foto acima) usou o conhecimento desenvolvido como entidade sem fins lucrativos para prestar serviço a empresas em busca de lucro e viabilizar o projeto gratuito por meio da Aram (2ª foto) (Foto: Divulgação)

Paulo Bollotti, da Pragma, diz que o fundo está negociando investimentos em duas ONGs que estão se transformando em empresas para “andar sozinhas”.

Para achar onde investir, a Pragma tem uma equipe de três pessoas garimpando empresas sociais em áreas como saúde, regulação fundiária e energias renováveis para receberem investimentos e ajuda na gestão da empresa, de forma a aumentar o impacto do negócio. A Vox diz que há cada vez mais empresas sociais no mercado, tanto que e analisou mais de 600 oportunidades de investimento desde 2009 para encontrar os atuais seis.

O difícil é encontrar negócios capazes de resolver problemas sociais existentes – e dar retorno em alguns anos. “A gente espera que haja mais de R$ 150 milhões disponíveis para serem investidos neste tipo de negócio. Tem dinheiro disponível, o que falta são bons negócios, é o que todo mundo diz”, afirma Maure Pessanha, diretora da Artemísia.

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