Economia

Dólar para férias de janeiro pode ser comprado mais perto da viagem

Especialistas acreditam que cotação da moeda americana não vai sofrer oscilações significativas

SÃO PAULO — Há uma novidade em relação ao câmbio para quem está planejando viajar nas férias de janeiro e ainda não começou a comprar dólares. De acordo com analistas ouvidos pelo O GLOBO, a chance de o dólar comercial cair abaixo de R$ 2 ou subir acima de R$ 2,05 é muito remota. Isso se reflete no dólar turismo, aquele usado pelos viajantes, e a cotação tem ficado entre R$ 2,10 e R$ 2,15, sem muita variação.

Portanto, dizem os especialistas, aquela velha preocupação em relação a comprar dólares agora ou deixar para mais perto da data de embarque, pelo menos neste momento, não deve deixar ninguém preocupado. Isso considerando que nenhuma turbulência sacuda o cenário internacional — como um aprofundamento da crise na Espanha ou um novo calote na Grécia.

— Será muito difícil que o dólar caía abaixo de R$ 2,00 ou suba acima de R$ 2,05. O Banco Central tem administrado o câmbio nesta faixa, fazendo intervenções quando ele sobe demais ou se desvaloriza muito em relação ao real. Só para se ter uma ideia de como o câmbio se estabilizou nesta faixa, nos últimos quatro meses, a taxa média do dólar está em R$ 2,03 — diz Reginaldo Galhardo, gerente de câmbio da corretora Treviso.

Para Felipe Pellegrini, gerente da mesa de operação do Banco Confidence, para a turma que está de malas prontas o ideal é ir comprando dólares aos poucos. Pode ser a cada 30 dias ou a cada duas semanas. Essa estratégia ajuda a diluir os riscos, diz Pellegrini.

— Comprar aos poucos é ideal em qualquer situação, porque ajuda adiluir o risco de uma alta inesperada ou uma queda mais forte. É uma estratégia que independe do cenário econômico. E aconselho as pessoas a levarem US$ 100 ou US$ 200 em espécie para despesas como táxi ou um lanche e o restante em cartão de débito. O cartão de débito é mais seguro contra possíveis perdas ou roubo do dinheiro em espécie e o Imposto Sobre Operações Financeiras (IOF) é de 0,38% contra os 6,38% do cartão de crédito — diz Pellegrini.

É a mesma estratégia de compra recomendada pelo gerente da corretora Treviso.

— O ideal é comprar uma parte dos dólares que vai levar na viagem agora, outra daqui um mês e deixar para comprar pouco perto da viagem — alerta Reginaldo Galhardo.

De acordo com o sócio da corretora Pionner, João Medeiros, o mercado de câmbio está engessado por conta das ações do BC para conter o dólar. As declarações do ministro da Fazenda, Guido Mantega, têm sido no sentido de que o BC vai fazer tudo o que for possível, podendo até aumentar o Imposto Sobre Operações Financeiras (IOF) nas captações de empresas no exterior, para evitar que o dólar caía abaixo de R$ 2.

— Hoje temos um câmbio administrado e não flutuante. Por isso, o câmbio está parado em R$ 2,02 e R$ 2,03. Os bancos hoje estão comprados em cerca de US$ 900 milhões, o nível mais baixo do ano. Há falta de recursos no mercado à vista e o BC pode ter que atuar vendendo dólares para garantir liquidez — diz Medeiros.

Para Reginaldo Galhardo, da corretora Treviso, se o BC não mantivesse a mão de ferro sobre a moeda americana, a cotação poderia estar entre R$ 1,85 e R$ 1,90, avalia ele.

— O euro se valorizou cerca de cerca de 8% em relação ao dólar desde julho com a melhora do cenário externo, após o Banco Central Europeu (BCE) anunciar a recompra de títulos de países em dificuldades e as injeções de liquidez anunciadas nos EUA, China e Japão. O euro saiu de 1,21 para algo como 1,32. Hoje está em 1,29 em relação ao dólar. Outras moedas, como o dólar australiano ou canadense, também se recuperaram em relação ao dólar. Só o real se manteve desvalorizado por conta da ação do BC — analisa Galhardo.

Ele diz que mesmo que a crise se aprofunde na Europa, hoje os mecanismos de socorro estão prontos para evitar que o país quebre. E o reflexo em moedas como o euro e o dólar não deve ser potencializado;

Pellegrini, do Banco Confidence, alerta que as eleições americanaspodem trazer alguma turbulência, mas nada muito preocupante.

— Hoje está todo mundo mais preparado para socorrer a Espanha do que na época em que a Grécia quebrou. O BCE não vai deixar a Espanha quebrar, afinal é a quarta economia da Europa — prevê.